
“Nossa rotina é cansativa e desgastante. Mexe muito mais com o psicológico do que com o físico, porque exige muito do nosso mental o tempo inteiro. A gente vê os pacientes nos leitos, faz os procedimentos sem saber se ele vai voltar pra casa ou se vai voltar com sequelas para a família. Lidar com essa doença e com esse momento que estamos vivendo é bem desgastante”.

O desabafo é da enfermeira Verônica Roberta, que atua na linha de frente da pandemia, no CTI do Covid na Santa Casa de Campo Grande.
Desde março, a vida dela mudou. Ela já tinha lidado com outra epidemia como da Influenza, mas nunca tinha vivido nada perto do que está lidando agora com a Covid-19. Já são 10 meses de trabalho intenso.
“Eu já tive experiência com outra pandemia, que foi da Influenza, mas ela não se compara a pandemia da Covid. Essa pandemia é bem difícil, e de longa duração, já estamos quase um ano vivendo tudo isso. As palavras que eu usaria para definir esse momento é superação, coragem e força, todo dia temos que levantar e ter essa garra para continuar” desabafou.

A Capital está próxima da marca de 66 mil casos confirmados, além de 1.216 óbitos ocasionados pela doença e 118 pacientes internados em leitos de UTI.
A enfermeira destaca que tem sido um período árduo para as equipes de saúde e afirma que muitas pessoas não se sensibilizam e não entendem a atual situação.
“Muitas vezes ficamos sem tomar água, para não ficar tirando a roupa o tempo todo, para não nos contaminarmos, porque quando você veste todas as paramentações para entrar em uma unidade de Covid, você não pode ficar o tempo inteiro saindo do setor”, explicou.
“A máscara em si machuca o rosto da gente, atrás da orelha, então é bem desgastante você estar usando isso o tempo todo. O cansaço e as lesões que traz para o profissional da saúde é muito grande, senão fossem os médicos, enfermeiros e fisioterapeutas íamos perder mais gente. Eu enxergo que muitas pessoas são negligentes e não possuem amor ao próximo, elas simplesmente acham que é brincadeira, que é apenas coisa da mídia”, continuou.
Questionada sobre as suas expectativas em relação a chegada da vacina, a profissional afirmou que ela trará alivio, mas que ainda não é o momento de relaxar diante da pandemia.
“A minha expectativa com a chegada da vacina é que ela minimize um pouco todo o caos. Ainda temos muitos casos de transmissão, mas ela vai trazer um alivio, diminuindo o número de pacientes e aí sim vamos começar a respirar, é como uma luz no fim do túnel”, disse.
“Ainda não podemos descansar, nem relaxar. A vacina veio pra nos trazer esperança, mas não podemos dizer que a pandemia acabou, todos os cuidados mínimos, como máscara e álcool em gel, devem continuar”, ressaltou a enfermeira.
Infelizmente, a opção de isolamento social não existiu para muitos trabalhadores, em especial, para quem exerce estes trabalhos, tido como essenciais, que são os da área da saúde e transporte público. A categoria dos motoristas de ônibus, por exemplo, é também um dos setores mais expostos aos riscos do contágio do vírus.
O motorista Fábio Ayala, 50, trabalha na capital e contou que se sente muito preocupado trabalhando em meio a uma situação grave de saúde pública e tendo contato diário com inúmeras pessoas.
Além disso, o profissional manifestou sua preocupação com a população que, muitas das vezes, mostra-se “irresponsável” no que se refere à higienização pessoal e que isso põe tanto a sua própria vida em risco quanto a do trabalhador, que está ali exercendo sua função.
“Cerca de 30% das pessoas entram no coletivo e tiram a máscara, nesse momento temos que parar e pedir que coloquem”, contou.
“Vi vários colegas sendo afastados com suspeita de Covid, acho que seria muito bom se com a chegada da vacina, tivéssemos prioridade”, finalizou.
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