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Entrevista

Entrevista: Ademar Silva Júnior, presidente da Famasul

Dedicação à família e tradição são características do produtor rural e também um estímulo à inovação
Dedicação à família e tradição são características do produtor rural e também um estímulo à inovação - Divulgação
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O que é forte no campo também é forte em Ademar Silva Júnior, presidente reeleito para mais três anos de mandato na FAMASUL e vice-presidente de finanças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA. Neto e filho de produtores rurais, o médico veterinário só foi para a cidade aos cinco anos. Durante toda a infância acompanhou o pai na lida do campo, e agora acompanha e estimula o esforço dos produtores rurais. Nesta entrevista, ele fala sobre desafios, oportunidades e o novo papel do produtor rural: líder e empreendedor.

Pergunta - Como foi o inicio da sua vida sindical no agronegócio?

Resposta - Comecei jovem, tenho uma história de vida no setor. Ainda nos bancos da universidade, eu e alguns colegas ganhamos uma eleição para o diretório central dos estudantes em 1987. Na época criamos uma base jovem da UDR [União Democrática Ruralista] no curso de medicina veterinária na UFMS [Universidade Federal de Mato Grosso do Sul]. Nós discutíamos o direito à propriedade, e lutávamos para que ele fosse respeitado e permanecesse na Constituição Federal. Era um momento de disputa, o setor era muito representativo graças à grande liderança de Ronaldo Caiado.

Pergunta - Você começou no interior de MS, como presidente do sindicato de sua cidade...
Resposta - Depois de me formar, voltei à Aparecida do Taboado e fui convidado a presidir o sindicato rural, onde fiquei por dois mandatos. Depois fui convidado pelo companheiro Leôncio Brito para ser diretor-secretário da FAMASUL. Estamos indo para o segundo mandato, um grupo formado há três anos, e sei que esse mandato vai ser de crescimento e de resultado ainda maiores.

Pergunta - Como você avalia o trabalho das instituições de defesa do produtor rural no Brasil?

Resposta - Nós temos que entender que o sistema sindical patronal tem características distintas dos trabalhistas. Nós temos que equilibrar uma dupla jornada entre nossas atividades nas propriedades e ainda achar tempo para conduzir o destino dessas entidades. A FAMASUL e a CNA têm entendido esse processo e colocado à disposição dessas lideranças capacitação e treinamento, e tem exigido cada vez mais desses líderes. O mundo mudou e as dificuldades que envolvem o agronegócio são ainda maiores e nós precisamos estar mais preparados. Avançamos muito, o sistema sindical patronal no Brasil está em um momento de transição muito forte, eu sinto isso em MS. No futuro breve, uma grande quantidade de líderes do agronegócio vai fazer uma grande diferença na nossa economia e no destino do Estado.

Pergunta - Você sentiu a força que os sindicatos rurais têm em suas cidades porque presidiu um deles. O que eles representam na sociedade?

Resposta - Os sindicatos rurais são, em sua maioria, as maiores entidades representativas do município depois da prefeitura. Em algumas cidades, você pode ver a força do sindicato e, muitas vezes, essa força é reflexo do agronegócio naquele lugar. O MS é um Estado com vocação natural para o agronegócio. Nós temos todas as condições de mostrar a cada cidadão do Brasil a grandeza desse setor.

Pergunta - A FAMASUL tem se empenhado em estimular o empreendedorismo e a gestão qualificada no campo. O que despertou essa preocupação?

Resposta - O Brasil mudou muito, hoje é maior potencia da América do Sul e uma das maiores do mundo em muitos segmentos nos quais atua. Isso tem feito que o nosso setor, que é a mola propulsora da economia e principal gerador de empregos, necessitasse conscientizar o produtor para o empreendedorismo. Vamos persistir para que o produtor seja um empresário rural. Ele precisa acompanhar essas mudanças on line. O que quero dizer é que quanto mais rápido ele acompanhar essas mudanças globais, melhores resultados ele terá, o que fará com que seu produto tenha qualidade maior e preço menor.

Pergunta - Em 2005, o agronegócio do Estado passou por uma de suas maiores crises devido à febre aftosa. Anos depois, já na sua gestão, os sul-mato-grossenses comemoraram o status de área livre de febre aftosa concedido pela Organização Internacional de Saúde Animal -OIE. Qual é a sensação de fazer parte dessa conquista?

Resposta - A febre de 2005 foi a mais impactante, nos pegou no melhor momento da economia e da pecuária em MS e nos derrubou na lona. Tivemos que refazer toda a economia, isso foi muito difícil para a FAMASUL e para o presidente na época, Leôncio Brito, com quem tive a honra de ombrear esses problemas. Foi um trabalho de muita gente, instituições e do produtor rural, que efetivamente sentiu o dano no bolso e se refez cada vez mais consciente da vacinação e da prevenção da doença. O Estado está buscando discutir um processo de rastreabilidade que possa dar sustentabilidade a esse negocio. Pra mim o que marca é ter participado desse processo e acompanhado grandes lideranças. Tenho privilégio de conviver com líderes do agronegócio sul-mato-grossense. Sylvio Amado, por exemplo, é uma referência no sistema sindical que acompanhei de muito perto, assim como seu filho, José Armando Amado. Isso é gratificante, uma experiência enriquecedora que carrego para a vida toda.

Pergunta - Recentemente, a FAMASUL partiu para mais uma luta, a campanha “Gado Só À Vista” criada com as federações de Goiás (FAEG) e Mato Grosso (FAMATO). O que os levou a orientar o pecuarista a adotar um novo hábito de comercialização?

Resposta - Há um bom tempo percebemos que o mercado da pecuária, principalmente na relação comercial com frigoríficos, é muito frágil e sem base jurídica que dê garantias ao produtor. O boi faz parte da história de MS, e essa relação entre pecuarista e frigoríficos é muito forte, e por isso criou-se esse mecanismo de venda a prazo do nosso principal ativo, o boi gordo. No passado havia uma relação de segurança e confiabilidade entre os donos dos frigoríficos, que nós conhecíamos, e eram pequenas empresas locais que trabalhavam regionalmente. Esses frigoríficos se tornaram grandes empresas brasileiras e internacionais e essa relação continua frágil e sem base jurídica legal, e é obvio que o crescimento dessa indústria se baseou em crédito. A crise de crédito no mercado mundial derrubou vários setores e não foi diferente com os frigoríficos. Derrubou também a economia da pecuária em vários dos estados, como MT e GO, e nos convencemos de que essa forma de comércio nos prejudica, então lançamos a campanha. É o pecuarista que decide se vende a prazo ou à vista, nós só damos a ele as orientações e mostramos o risco que corre ao vender a prazo. A campanha tem adesão e vamos insistir nisso: a venda de boi à vista é um hábito que o pecuarista tem que incorporar ao seu negócio.

Pergunta - A FAMASUL está envolvida em questões como as fundiárias, ambientais, e outras que tiram o sono do produtor rural. No futuro, quais assuntos deverão dominar as discussões no setor?

Resposta - O meio ambiente é o tema do futuro porque necessitamos dele preservado para a manutenção da vida, e também a produção de alimentos, que estão relacionados. Por isso estamos tocando na palavra sustentabilidade, ainda difícil de ser traduzida de forma simples para a população. Estamos falando de ativos que qualquer ser humano não pode abdicar como o alimento e a água. O produtor tem a responsabilidade de continuar produzindo alimentos de qualidade a preço justo, mas sem deixar de preservar as suas águas e suas reservas, matas ciliares e o ar.

Pergunta - Como a discussão ambiental pode ser equilibrada, sem radicalismos e ideologias?

Resposta - Precisamos trazer as universidades, os cientistas, e as instituições de pesquisa para essa discussão, senão ela vai ficar polarizada no radicalismo. De um lado, as ONGs ambientalistas bancadas por países interessados em diminuir o ritmo econômico do Brasil e, do outro, os produtores rurais que não têm total conhecimento dessa sustentabilidade porque isso não foi dado a ele.A obrigação conferida a ele é a de produzir. Hoje nós somos os grandes exportadores de, pelo menos, dez itens da cesta do agronegócio brasileiro. O produtor sabe trabalhar, sabe seguir as orientações técnicas e jurídicas, e agora precisamos começar uma grande discussão sem ideologias e radicalismos.

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