
A pneumologista e pesquisadora Carmen Silvia Valente Barbas, que atua há mais de 35 anos nos hospitais das Clínicas e Albert Einstein, em São Paulo (SP), integra a equipe médica que está tratando da saúde do ex-deputado federal e ex-deputado estadual Gandi Jamil, que está infectado pela Covid-19 e segue internado no Albert Einstein. A profissional tem renome internacional na área de ventilação mecânica usada no tratamento de casos graves da Covid-19 e criou um método de ventilação que está salvando vidas.

A reportagem do Jornal "A Crítica" conversou, por telefone, com a Dra. Carmen Barbas, que confirmou integrar a equipe que trata de Gandi Jamil e lembrou que o paciente chegou a ficar intubado, mas, recuperou-se e já teve retirado o aparelho dos pulmões. Com doutorado em ventilação mecânica, ela teve, em 1998, um estudo clínico publicado na "New England Journal", revista científica americana de grande impacto. Até então, as chances de um paciente com doença pulmonar aguda morrer ao receber ventilação mecânica eram altas.

Em sua pesquisa, Carmen Barbas e seu grupo levantaram a hipótese de que a própria ventilação pudesse estar danificando o pulmão dos pacientes. "Estávamos estudando a ventilação mecânica em pacientes com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo, a SDRA. Na época, a mortalidade dessa síndrome era 70%, então, todo mundo que trabalhava em terapia intensiva ficava desanimado, porque você ventilava o paciente e 70% deles morriam", disse ao site BBC News Brasil.
Naquele tempo, pacientes com a síndrome eram ventilados com o mesmo volume corrente - o volume de ar que entra e sai do pulmão durante a ventilação mecânica - usado em cirurgias. "Em uma cirurgia, quando você faz uma anestesia geral, você intuba e ventila o paciente. Só que o pulmão lesado pela SDRA tem uma complacência mais baixa, ele é mais duro. Quando você colocava volume corrente alto, isso gerava pressões muito altas no sistema respiratório e acabava lesando mais o pulmão", declarou a médica.
Ela e seu grupo passaram a ventilar esses pacientes com um volume corrente mais baixo, entre outros ajustes. Ao fim do estudo clínico, o número de mortes entre pacientes tratados com a nova técnica caiu para 40%. Em 2000, um grande estudo americano confirmou, também na "New England Journal", que a abordagem do grupo da USP era muito melhor. Desde então, o índice de mortes de pacientes com SDRA caiu ainda mais, para 30%. E a equipe liderada por Carmen Barbas e Marcelo Britto Passos Amato ganhou voz internacional, ajudando a transformar a ventilação mecânica no mundo.
A técnica é conhecida hoje como "Ventilação Protetora Pulmonar" e a própria inventora teve de usá-la, pois também foi contaminada com Covid-19. A pneumologista Carmen Barbas, que fez parte da equipe médica que tratou o presidente Jair Bolsonaro após a facada em 2018, foi diagnosticada com Covid-19 no ano passado e ficou internada no Hospital Albert Einstein, onde chegou a ser entubada assim que deu entrada na unidade de saúde.
"Fui internada no dia 27 de março do ano passado à noite. Dia 29 de manhã já me levaram para a UTI e me intubaram porque eu estava com um quadro de insuficiência respiratória grave", recordou a profissional de saúde, que recebeu alta do hospital no dia 20 de abril do ano passado. No início de junho, sem apresentar sequelas, mas ainda fazendo fisioterapia, voltou ao trabalho e diz que não sabe como contraiu a Covid-19, mas não acha que foi durante atendimento.
Carmen Barbas brinca, dizendo que ficou "meio neura" depois do seu encontro com o novo coronavírus. "Acho que o grande problema desse vírus é a gente não saber onde ele está. A gente não sabe onde estão os assintomáticos, o grande perigo são os assintomáticos que estão positivos. Estão circulando. A gente tem que fazer testagem, diagnosticar quem está portador do vírus e essas pessoas ficarem isoladas por 14 dias até diminuir a transmissão", finalizou.
Gandi Jamil
Apesar de não estar mais entubado, Gandi Jamil vai continuar internado no Hospital Albert Einstein e sob os cuidados da Dra. Carmen Barbas ainda sem previsão de alta. O político sul-mato-grossense chegou a disputar a eleição para o Governo do Estado em 1990, quando foi derrotado pelo ex-governador Pedro Pedrossian. Ele completou 65 anos no dia 3 de março, já atingido pelo novo coronavírus.
Gandi Jamil faz parte de tradicionais famílias sírias e turcas, emigradas no Mato Grosso do Sul desde a década de 1930. Ele é filho de Jamil Georges e Zine Georges tem sete irmãos: Fahd Jamil, Nazle Georges Tobi, Camil Georges, Abdu Georges, Ivone Geroges Chaebo, Soad Jamil Georges e Nasser Georges.
É casado com Ana Karla Peluffo Zahran Georges, com quem teve dois filhos, Camilo e Gabriel, sendo genro de Ueze Zahran, fundador de um dos maiores conglomerados econômicos do Estado. Foi eleito deputado estadual para legislatura de 1983-87, pelo PDS, tendo exercido a Presidência da Casa Legislativa no biênio 1985-86.
Ingressou no PFL em 1985 e, pelo partido, foi eleito deputado federal para a legislatura 1987-90, tendo sido o candidato mais bem votado do pleito, com 86.705 votos. Nas Eleições Estaduais de 1990, candidatou-se a governador pelo PDT, tendo Celina Jallad como vice. Contou com apoio do então governador Marcelo Miranda (PMDB) e deste recebeu o suporte.
Apurado os votos válidos no primeiro turno, o petebista Pedro Pedrossian foi eleito governador de Mato Grosso do Sul já no primeiro turno, derrotando o então pedetista Gandi Jamil. Após a derrota, não disputou mais nenhum pleito.
