
A alimentação é quase um tabu, cheia de falsas crenças, regras e conceitos pouco estudados e questionados. Em Campo Grande, a busca pela alimentação saudável está avançando, mesmo que a passos lentos, rumo a uma vida mais natural e que preza o consumo de produtos não industrializados na alimentação diária.

Atualmente Campo Grande possui cerca de 130 empórios, mas são mais de 1.500 empresas com CNAE direcionado para alimentação saudável. Pensando nisso, Lívia Del Ciampo, 35, dona da Grão e Grão Ecomercado, conta como surgiu a ideia de empreender no ramo da alimentação saudável.
“Um dia, não satisfeita com meu peso, comecei a pesquisar receitas mais saudáveis e não conseguia fazer um pão sem glúten, por exemplo, pois aqui na cidade não tinha uma loja especializada. Comecei a pesquisar mais sobre o assunto e comecei a projetar a loja na minha cabeça, os produtos e até as cores das paredes. Chamei uma amiga da faculdade para ser minha sócia, pois ela também queria empreender, e assim surgiu a Grão e Grão”.
Livia cuida da parte administrativa e financeira da empresa, a parte comercial fica para a sócia, Katira
A Grão e Grão nasceu há 7 anos, na época, a Lívia trabalhava em uma farmácia de manipulação e já tinha um contato com produtos naturais. Hoje, a loja tem mais de 5.000 itens, 120 fornecedores e 25 funcionários. Além da inauguração da terceira unidade, as outras duas estão sendo ampliadas para atender o aumento das demandas pela procura de produtos naturais aqui na cidade. E, algumas propostas de expandir para o interior do estado, mais especificamente em Dourados e Três Lagoas.
“Esse segmento aumentou muito nos últimos anos. Quando inauguramos, eram apenas algumas lojas e hoje podemos encontrar uma variedade delas espalhadas por Campo Grande [...] Temos um público ativo nas nossas redes sociais e também contamos com profissionais da área e parceiros que conhecem nosso trabalho e se identificam com a nossa marca. Nossas vendas também aumentaram cerca de 15% agora na pandemia, que manter a saúde é a prioridade”, destaca a proprietária. As duas unidades da Grão e Grão estão localizadas na Rua Rio Grande do Sul, 1602 Av. Via Park 933 e Rua Jeribá, 743.
Outro fator importante e responsável por contribuir com a alimentação saudável é optar pelo alimento orgânico. Sua produção não utiliza agrotóxicos, transgênicos ou fertilizantes químicos e por isso, contribui com a saúde de quem consome. Por este motivo, Jéssica Vianna, 27, dona da Orgânicos da Jé, destaca a importância da preocupação com o alimento.
“Eu acredito que para ter uma alimentação saudável, tem que se preocupar, antes de tudo, com o alimento orgânico. A base da sua alimentação, pela quantidade de agrotóxico e o impacto ambiental, causa a atividade convencional. Já que é a biodiversidade e a vida que tentamos preservar, por que não buscar alimentos sem veneno?”.
Orgânicos da Jé nasceu em 2015, durante a graduação em Biologia, Jéssica se impactou com informações e ponto de vista de pesquisadores sobre o assunto. “Sabemos dos impactos ambientais sobre a monocultura, sobre pesticidas, desmatamento, uso inadequado do solo, água [...] São várias irregularidades, porém esse foi o gatilho. Pedi as contas, fui empreender no ramo”, revela.
A Orgânicos da Jé, mercearia local com a maior variedades de hortifruti orgânico, fica localizada no Bairro Santa Fé. Por conta das medidas de segurança, as vendas estão sendo feitas apenas por delivery. (Foto: Instagram/@organicosdaje)
E deu certo. Hoje, a bióloga é presidente da Associação Sul Mato-grossense de Produtores Orgânicos e Agroecológicos, a ASULPOA, e destaca que a missão é semear essa nova visão. “É possível sim ter acesso aos alimentos orgânicos, o que precisa ser estimulado é o quão importante é produzir e consumir esses alimentos. E, claro, o benefício para a região e a economia local cada vez mais fortalecida”.
Ela ainda acrescenta que contou da sua preferência por diminuir ingredientes de origem animal nas refeições. “Tenho uma alimentação que inclui mais vegetais e evito a proteína animal, principalmente a carne bovina, por conta do impacto ambiental que a produção de bovinos causa”.
Como prova disso, a nova versão do Guia Alimentar Para A População Brasileira, diminui as quantidades sugeridas para o consumo de proteínas animais e atesta que uma alimentação à base de legumes, vegetais, frutas e verduras é a melhor opção para ter uma saúde equilibrada. Para resolver esses problemas e mudar hábitos, entender e desmistificar a nutrição humana é essencial.
Para além do prato
Pensando em esclarecer melhor as dúvidas mais frequentes sobre alimentação, a nutricionista adepta ao vegetarianismo estrito e especializada em nutrição materna infantil, Idalene Rocha, 34, que além do consultório, também empreende no ramo com workshops sobre alimentação, conta os benefícios que a nutrição vegetariana pode trazer.
“A alimentação vegetariana, se for corretamente planejada, como toda alimentação deve ser, pode suprir todas as necessidades nutricionais [...] O principal benefício para saúde é a redução do consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas, oriundas de carnes e seus derivados. Estudos comprovam que o alto consumo de carnes está associado ao surgimento de doenças crônicas não transmissíveis, tais como: doenças cardiovasculares, câncer, diabetes mellitus e hipertensão arterial”, destaca.
A nutricionista também ressalta o acesso aos alimentos saudáveis e frisa a importância de procurar um profissional. “Se você for às compras com o valor de uma média de 2 kg de carne, poderá comprar itens como cereais, frutas e verduras, para consumir por uns 3 dias, se tratando de uma única pessoa. Minha ressalva é apenas, que qualquer pessoa que queira migrar da alimentação onívora para a vegetariana ou vegana, procure um profissional nutricionista especializado, para que o mesmo possa conduzi-la de forma adequada nesse processo”.
