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POLÍTICA

Recife elege Campos; PT fica sem capital

30 novembro 2020 - 06h25
Comper

O deputado federal João Campos (PSB), que completou 27 anos na sexta-feira, 27, foi eleito prefeito de Recife neste domingo, 29, ao vencer uma acirrada disputa contra sua prima de segundo grau, a também deputada federal Marília Arraes (PT). Ele obteve 56,27% dos votos válidos, ante 43,73% recebidos por ela. O índice de abstenção foi de 21,26%, e 9,17% dos votos foram nulos e 3,48% em branco.

"Se faz política olhando o futuro. A razão verdadeira de disputar essa eleição é que a gente pode fazer muito, sim, pela cidade do Recife. A gente tem que dormir um dia acreditando que o dia seguinte vai ser melhor. E vai ser melhor", disse o prefeito eleito, em meio a agradecimentos a aliados, como a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) - sua namorada - o prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), e o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB).

O prefeito eleito também lembrou do pai, o ex-governador Eduardo Campos, que morreu em um acidente de avião quando disputava a eleição presidencial, em 2014. "Não tem como vir aqui hoje, celebrar essa vitória, e não fazer homenagem, não lembrar daquele que é referência na minha vida na política, como pessoa, como cidadão, que é o meu pai, Eduardo Campos", afirmou o prefeito eleito, que venceu sua segunda disputa eleitoral - a primeira foi há dois anos, quando conquistou uma vaga na Câmara dos Deputados.

Com a derrota de Marília no Recife, e João Coser, em Vitória, o PT amargou o pior resultado em eleições municipais da sua história - o partido sempre elegeu prefeitos em capitais desde 1985, quando os chefes dos Executivos municipais passaram a ser eleitos de forma direta. O partido acreditava em uma recuperação nas eleições deste ano - em 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff, o partido tinha eleito apenas Marcus Alexandre, em Rio Branco. Em 2012, a sigla havia conquistado quatro capitais, inclusive São Paulo, que neste ano levou PSDB e PSOL ao segundo turno.

Ataques

O parentesco e a origem política comum - ambos são herdeiros políticos dos ex-governadores de Pernambuco Eduardo Campos e Miguel Arraes - não foram suficientes para tornar a campanha mais propositiva. A disputa na capital pernambucana tem relação direta com o equilíbrio de forças da esquerda para a eleição presidencial daqui dois anos. De um lado, Campos liderava a aliança PSB-PDT contra o PT, que contou com o apoio do PSOL.

No segundo turno, Campos adotou um forte discurso antipetista, atitude diferente de 2018, quando o prefeito eleito apoiou Fernando Haddad ainda no primeiro turno da disputa presidencial e chegou a participar de agendas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de sua prisão. A estratégia de Campos tinha como objetivo atrair os cerca de 200 mil eleitores antipetistas que optaram por candidatos da direita.

Já Marília atacou a inexperiência do rival. Segundo ela, se Campos chegasse à Prefeitura de Recife, ele seria um fantoche da mãe, Renata Campos - viúva de Eduardo Campos e aliada do atual prefeito, Geraldo Julio (PSB), e do hoje governador do Paulo Câmara (PSB). A petista chamou o primo de "frouxo" e sugeriu que ele estava se escondendo atrás de sua vice, Isabella de Roldão (PDT), para criticar propostas petistas.

Discordâncias

A primeira discordância política pública entre Campos e Marília ocorreu em junho 2014, quando o hoje deputado, aos 20 anos, desistiu de disputar comando da Juventude Socialista depois de uma manifestação da prima, então vereadora que pretendia se candidatar a deputada federal sem apoio do então presidenciável Eduardo Campos.

Diferentemente do que aconteceu em São Paulo, onde a maioria dos quadros e partidos de esquerda declarou apoio à candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) e passou a falar em "grande frente progressista", no Recife a esquerda se dividiu. Lula gravou para Marília, e Ciro Gomes (PDT) subiu no palanque de Campos.

Nos últimos dias, petistas e integrantes da aliança do PSB com o PDT repetiram que a campanha local inviabilizou uma convergência entre as legendas num eventual projeto presidencial conjunto para 2022.

Em entrevista recente ao Estadão, o senador petista Humberto Costa afirmou que a disputa em Recife teria, na sua opinião, separado PSB e PT definitivamente, e feito com que o primeiro se unisse ao PDT.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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