
Um salto de 72%. Este é o aumento de casos de estelionato pela internet em Campo Grande, de março a junho deste ano, comparado com o mesmo período de 2019. O crime mais comum entre os cometidos no ambiente virtual tem chamado a atenção pela versatilidade de operação em enganar as pessoas.

“Eu perdi o carnê do meu carro e o banco me orientou a baixar os boletos pelo site. Entrei no Google, pesquisei o nome do banco e o site me redirecionou para um perfil da instituição no Whatsapp. Na conversa, pediram meu CPF e a data de vencimento das minhas parcelas, e eu forneci. Paguei os boletos, mas foram pegar meu veículo”, conta Jorge Elias, vendedor, que foi vítima do golpe do famoso “boleto falso”.
“Eu apresentei os comprovantes de pagamento, mas me falaram que era ordem do juiz. Peguei o boleto e levei ao banco, mas lá me disseram que não era daquela instituição bancária. Me orientaram a registrar boletim de ocorrência e enviar os documentos necessários para o banco”, relembrou Elias, consternado, pois teve de desembolsar R$ 26 mil para quitar a dívida do veículo e recuperá-lo.
Ao menos, 402 pessoas já foram vitimadas na Capital em 2020 por crimes semelhantes ao ocorrido com Jorge. Segundo o delegado Juliano Cortez, da Devir (Delegacia Virtual), o crescimento de tais delitos neste ano também está ligado ao período pandêmico. “O isolamento social imposto pela pandemia fez com que a população utilizasse mais os meios digitais para a aquisição de produtos e serviços, aumentando com isso a quantidade de golpes praticados pela internet (sites falsos, falsas cobranças, vazamentos de senhas, etc)”.
Cortez relata ainda que somente em 2020, pelo menos 1.243 ocorrências policiais foram efetuadas por crimes ocorridos por meio da internet. O delegado comenta que os idosos não são os mais atingidos, apenas. Jovens e pessoas mais esclarecidas também acabam sendo vítimas em virtude da alta capacidade de articulação do autor em persuadi-las. Certamente, pela falta de habilidade e certos estados emocionais, idosos e indivíduos, respectivamente, ficam vulneráveis aos atos criminais.
Perfilando o indivíduo que comete esses tipos de delitos, o delegado Mikail Farias, da 1ª DP de Polícia Civil, contou para a reportagem sobre as abordagens policiais. “A gente prendeu jovens que, até então, não tinha nada na ficha policial, por exemplo. O rapaz fazia faculdade, viu a oportunidade porque entendia de computador e simulava um boleto falso. Pessoas de classe baixa, média, média alta”, explicou Farias.
O delegado Mikail Farias, da 1ª DP de Polícia Civil - (Foto: Felipe Ribeiro)
Há um dia da famosa “Black Friday”, os consumidores precisam ficar atentos, pois uma das práticas ilegais existentes na web são os sites falsos. Com páginas na internet idênticas às originais, os criminosos agem iludindo a população oferecendo produtos ou serviços inexistentes.
Entre outras ações danosas estão a clonagem do Whatsapp, quando o perfil é utilizado por outra pessoa para pedir dinheiro, por exemplo; subtração da conta, em que o infrator transfere a mesma para outro dispositivo e também solicita valores para os contatos; boletos falsos, que são emitidos para pagamento simulando uma dívida de conhecimento da vítima; vendas pela OLX, em que o vendedor é prejudicado, por exemplo, ao entregar o veículo a um terceiro, enviado pelo estelionatário, a pretexto de este estar impossibilitado de retirar o bem pessoalmente e já ter enviado o comprovante de transferência bancária, que neste caso é falso.
Desafio do trabalho policial - A opinião de que a burocracia judicial é a maior vilã dos trabalhos da corporação é comum entre os policiais. As investigações são realizadas, mas um obstáculo legal, como o sigilo bancário, desacelera o processo, dificultando a rápida localização do autor do crime e recuperação do bem ou valor à vítima. Não há críticas aos dispositivos legais, e sim aos percalços decorrentes das diretrizes da justiça.
Sobre os direitos que a vítima pode recorrer, o advogado especialista em processo civil, Matheus Lazarim comenta que existem algumas questões a serem analisadas. “Os bancos se eximem da responsabilidade do pagamento quando a vítima fornece informações imprescindíveis para aplicação do golpe. Na maioria das vezes, os golpistas já detêm previamente tais dados. Neste caso, à luz do Código de Defesa do Consumidor e da teoria do risco da atividade, há possibilidade do pedido de ressarcimento civil”, explicou Lazarim.
Prevenção - A orientação dos especialistas no assunto é que os internautas devem atentar-se às senhas usadas no acesso aos sistemas. Muitas vezes, ocorre o “vazamento” delas quando um hacker invade as plataformas e rouba informações do banco de dados.
O tempo médio entre a subtração de informações e a descoberta do vazamento é de aproximadamente 286 dias. Portanto, a recomendação é a mudança constante da senha a cada dois meses, pelo menos, e com uso de padrões difíceis, como combinação de letras maiúsculas e minúsculas, números e caracteres especiais.
Golpes com Pix - A popularidade do novo meio de pagamento atraiu criminosos virtuais. Por meio de páginas falsas, que podem simular o internet banking de grandes instituições financeiras, os contraventores roubam os dados bancários de usuários que acreditam estar em um site confiável.
Nos sete primeiros dias desde a estreia do Pix, a empresa internacional de cibersegurança Kaspersky detectou mais de 100 novos sites falsos usados para este tipo de golpe. Desde o início do cadastro das chaves, em outubro, 320 domínios maliciosos que utilizavam o termo ‘Pix’ foram bloqueados pela Kaspersky.
