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ESPORTE

Humano e fiel aos atletas, Diniz quer títulos no São Paulo para subir de patamar

Fernando Diniz vive seu melhor momento no time tricolor

16 dezembro 2020 - 06h25
Fernando Diniz tem novo compromisso com o São Paulo, nesta quarta-feira, contra o Atlético-MG
Fernando Diniz tem novo compromisso com o São Paulo, nesta quarta-feira, contra o Atlético-MG - (Foto: Rubens Chiri/ saopaulofc.net)
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Técnico mais longevo do São Paulo desde Muricy Ramalho e o segundo treinador há mais tempo no comando de um time da Série A do Brasileirão, atrás apenas de Renato Gaúcho, Fernando Diniz vive seu melhor momento no time tricolor, apesar da derrota por 1 a 0 para o Corinthians que encerrou a série invicta de 17 jogos da equipe no Brasileirão.

Apegado às suas ideias, mas não ao ponto de não se permitir mudar, Diniz é estudioso, agitado à beira do campo e procura conhecer todos os seus jogadores com profundidade a fim de corrigir os problemas e potencializar as virtudes. O comandante não costuma desistir de um atleta.

Formado em psicologia antes de se tornar treinador, em 2012, ele gosta de ter conversas longas e sempre francas com os jogadores e está atento ao lado emocional de seus comandados. "Temos que saber se aproximar dos jogadores. A maior parte dos problemas não é tático, físico ou técnico. É saber oferecer um continente em que o jogador possa se sentir confortável", explicou.

Ele se tornou psicólogo para curar a angústia pessoal que sentia durante a carreira de jogador. Como atleta, nunca foi destaque ou titular em boa parte das equipes pelas quais passou, mas jogou em grandes clubes, como Palmeiras, São Paulo e Santos. Chegou a dizer que era um sujeito "bom de grupo".

Há um ano e três meses no clube do Morumbi, Diniz conseguiu levar o São Paulo à liderança do Brasileirão e às semifinais da Copa do Brasil, competição que a equipe nunca venceu, com um trabalho que exigiu paciência e muita dedicação dos jogadores, que entenderam que o processo era - e ainda é - longo.

O elenco assimilou suas ideias de jogo e o time embalou no fim desta temporada. Mas até a equipe deslanchar levou tempo. Nesse período, vieram eliminações no Paulistão, Libertadores e Sul-Americana, e com elas as críticas e cobranças. A diretoria, porém, manteve Diniz no cargo e vem colhendo os frutos.

Ele tem a confiança, inclusive, dos torcedores, que decidiram manifestar seu apoio nas redes sociais após o ídolo Rogério Ceni ser contratado pelo Flamengo. A hashtag #FechadoComDiniz foi uma maneira que a torcida encontrou para dizer que está ao lado do comandante.

"Desde os primeiros dias do Fernando Diniz no comando do São Paulo, a gente já expressava o quão importante ele seria para a gente com todas as suas ideias. Depois de mais de um ano, depois de tantas coisas que a gente viveu, a diretoria pôde sustentar o trabalho porque acreditou naquela ideia, no que estava fazendo. A gente vai colhendo os frutos", afirmou o goleiro Tiago Volpi, um dos líderes do grupo.

Diniz valoriza o jogo de troca de passes com paciência, desde o campo defensivo, preza a ofensividade, treina jogadas ensaiadas à exaustão e quer que seu time busque o ataque o tempo todo, mas com organização. O treinador não abre mão de alguns conceitos, mas teve de ceder, fazer alterações e mudar parte de sua visão de jogo para que o time desse uma resposta em um dos momentos turbulentos na temporada.

Pressionado, o treinador teve de promover mudanças. Tchê Tchê, um de seus atletas de confiança, foi para o banco e deu lugar a Luan. Reserva e pouco utilizado no início do ano, o jovem volante deu proteção à zaga, foi determinante para que a equipe passasse a sofrer menos gols e se tornou peça indispensável no atual esquema tático.

O técnico também mexeu na retaguarda mais de uma vez. Diego e Léo funcionaram em algumas partidas, mas caíram de rendimento, e o comandante voltou a apostar em Bruno Alves e Arboleda. A escolha deu certo, ao menos até aqui. Hoje, o São Paulo ainda tem problemas, mas é um time mais sólido defensivamente e que erra menos em relação a um passado recente. O objetivo, sempre frisa o treinador, é encontrar um equilíbrio.

APOSTAS BEM-SUCEDIDAS - Principais jogadores do São Paulo e responsáveis por 50% dos gols da equipe no Brasileirão, Brenner e Luciano só estão no time, e brilhando, graças a Diniz. O treinador trabalhou com a dupla no Fluminense, quis contar com ambos no São Paulo e conseguiu recuperá-los. Partiu do técnico o pedido para a diretoria reintegrar o jovem atacante ao elenco após o empréstimo para o time carioca, para onde o próprio comandante o havia levado. E foi dele também o pedido para a contratação de Luciano em troca que envolveu a ida de Everton ao Grêmio, em agosto deste ano.

"Desde a época em que trabalhamos juntos no Fluminense, eu sempre soube que o trabalho do Diniz daria certo. Tanto é que ele já está há um ano e pouco aqui no São Paulo. Todos estão empenhados pelo mesmo objetivo, que é ser campeão aqui. Minha chegada só serviu para acrescentar a esse trabalho", ressaltou Luciano.

A sua parceria com o "professor" ficou evidente pelas imagens que a TV do clube divulgou e que se tornaram virais nas redes sociais. Nelas, o jogador leva a bronca após um erro bobo, mas também é elogiado e brinca jogando água no chefe. Segundo Diniz, boas relações são o "pilar central" de seu trabalho.

"Eu tenho uma relação próxima com todos os jogadores. E tem que saber lidar com cada um. Eu tenho uma entrada especial com o Luciano, já tínhamos trabalhado juntos no Fluminense. É um jogador que chegou e rendeu muito bem desde o primeiro jogo, casa muito bem com o jeito que penso futebol, está sempre ativo, buscando o gol, colabora na marcação. Estamos muito contentes com o Luciano. E ter boas relações com os jogadores é algo que faz parte, talvez seja o pilar central do meu trabalho", avaliou o técnico.

Diniz apostou nos dois e foi recompensado. Os atacantes marcaram 20 dos 40 gols da equipe na competição nacional. Juntos, a dupla balançou as redes 35 vezes em 2020. Brenner é o artilheiro da temporada, com 20 bolas na rede. O jovem ressurgiu com o técnico e vive a melhor fase de sua curta, mas promissora carreira.

"Cheguei ao São Paulo com 11 anos, subi ao profissional com 17. Subi bem, mas tive oscilações. Não estava 100% preparado. Por algum momento, não achei que poderia ser o que tinha planejado. Minha relação com o Diniz vem disso, dele saber me recuperar, acreditar em mim durante um momento ruim, nem joguei no Fluminense", observou Brenner, em entrevista à ESPN Brasil. O garoto é grato ao que o treinador fez por ele e admite que foi Diniz o grande responsável por mudar o rumo de sua carreira.

"Ele pediu minha volta, ficou insistindo. Acreditou em mim. É um dos principais pilares, é um cara que acreditou em mim quando quase ninguém acreditava. Ele manteve o seu pensamento, que eu poderia estar ajudando, fazendo gol se eu fizesse a coisa certa. Coloco ele como um dos pilares por viver esse momento e ter recuperado carreira", complementou.

EM BUSCA DO PRIMEIRO TÍTULO - Diniz tenta no São Paulo vencer seu primeiro título de expressão como treinador. Ele começou na terceira divisão paulista, no Votoraty, em 2009. Circulou o interior do estado com passagens por Paulista de Jundiaí, Botafogo de Ribeirão Preto, Atlético de Sorocaba e Guaratinguetá. Também treinou o Paraná logo antes de dirigir o Audax pela segunda vez em 2016.

Foi no clube de Osasco que ganhou projeção e chamou a atenção de grandes clubes com um futebol ofensivo e vistoso, sem chutões e ligações diretas. Aquele time se classificou ao mata-mata do Paulistão em primeiro lugar do grupo que tinha o São Paulo, eliminou a equipe tricolor com uma goleada por 4 a 1 nas quartas de final, deixou o Corinthians pelo caminho nas semifinais e acabou sendo vice-campeão do Estadual ao perder para o Santos na decisão.

Depois, em 2018, encarou sua primeira experiência na elite do futebol brasileiro, como técnico do Athletico-PR, mas não teve sucesso. No ano passado, passou sem brilho pelo Fluminense. Agora, o psicólogo, ex-jogador e treinador quer sua primeira conquista relevante e também encerrar o jejum de taças do São Paulo, que não ergue um troféu desde 2012, ano em que conquistou a Copa sul-americana.

Nesta quarta-feira, o São Paulo tem um duelo direto pela liderança do Brasileiro contra o vice-líder Atlético-MG, no Morumbi, pela 26ª rodada. O time tricolor lidera com 50 pontos, quatro a mais que o rival mineiro. Logo, uma vitória é importante para reabilitar a equipe após o revés no clássico em Itaquera e também fundamental para deixá-la com uma boa folga na ponta da tabela. O jogo é mais uma oportunidade para ver em campo as ideias de Diniz, que busca conduzir o clube paulista de volta às conquistas.

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