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ECONOMIA

Presidente do BC alerta para os riscos fiscais

Na semana passada, o presidente do BC teve uma atuação intensa nos bastidores depois dos ruídos provocados no mercado financeiro

6 outubro 2020 - 11h00
Na semana anterior, em reunião ministerial, no Palácio do Planalto, Campos Neto apresentou gráficos com indicadores econômicos
Na semana anterior, em reunião ministerial, no Palácio do Planalto, Campos Neto apresentou gráficos com indicadores econômicos - ( Foto: Dida Sampaio/Estadão)
Terça da Carne

Sempre que os juros futuros e o dólar disparam com temor do risco, entra em cena o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que tem cumprido um papel de alertar o presidente Jair Bolsonaro das consequências da desconfiança dos investidores com a gestão das contas públicas pelo governo.

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Apontado dentro do governo como um dos mais fiscalistas da equipe econômica, Campos Neto e sua equipe tem alertado Bolsonaro sobre qual seria o impacto do uso de criatividade para burlar o teto de gastos, a regra constitucional que atrela o avanço das despesas à inflação, para a manutenção dos juros básicos e da inflação baixos.

Na semana passada, o presidente do BC teve uma atuação intensa nos bastidores depois dos ruídos provocados no mercado financeiro pelo anúncio do financiamento do Renda Cidadã, o programa social do governo, com o uso dos precatórios (dívidas que o governo precisa pagar depois de condenação judicial) e do Fundeb, o fundo de educação básica, que tem recursos fora do teto de gastos.

Com a piora do mercado, o presidente teve duas reuniões com Bolsonaro: uma no dia 29 à tarde, no dia seguinte ao anúncio do modelo de financiamento do programa, e outra no dia no dia 30. Nesses dias, o BC teve que agir para conter a piora do mercado, como câmbio e juros disparados. Nos encontros, a preocupação que o ruído em torno do Renda Cidadã leve ao agravamento da situação.

Na semana anterior, em reunião ministerial, no Palácio do Planalto, Campos Neto apresentou gráficos com indicadores econômicos, como a desvalorização do real, apontando a piora do quadro fiscal diante das incertezas geradas em torno do teto de gastos. Nessa reunião, segundo apurou o Estadão, ministros reforçaram a necessidade de manutenção do teto de gastos, sem mudanças, para abarcar o Renda Cidadã. Mas depois a ação do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, para tirar o Renda Cidadã do teto de gastos acabou revelando que a equipe não está 100% voltada para a manutenção da regra fiscal. Esse grupo quer que seja criado um benefício temporário, fora do teto, até aprovação de medidas de cortes de despesas que bancaria o novo programa.

Fuga

Em reuniões em Brasília, representantes de uma missão do Fundo Monetário Internacional (FMI), questionaram de autoridades do governo sobre a perspectiva de manutenção do teto de gasto.

Para o ex-vice-presidente do Banco Interamericano e Desenvolvimento (BID) e Banco Mundial, Otaviano Canuto, a desvalorização do real e o aumento dos juros que os investidores cobram para financiar papéis de longo prazo mostram a probabilidade maior é de um cenário pessimista devido ao temor de que o Brasil vai abandonar o arcabouço fiscal.

Para ele, a fuga de investidores já está acontecendo, mas a situação ainda pode piorar. "A ausência de sinais claros que apontem para o lado benigno a ponte do Rubicão fica mais próxima", diz, em referência à decisão do general Júlio César, no ano 49 a.C., de afrontar o Senado romano e cruzar com tropas o Rio Rubicão, na Itália, o que era vedado pela lei da época.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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