
Flávio Zancheta Faccioni possui o interesse focado em estudar canções e os sentidos que delas emergem, assim como demarcar a cultura e história regional que são repassados por meio da voz e dos instrumentos como a viola e o violão. A música foi estudada em sua dissertação de mestrado e é objeto também da sua tese, que deve ser desenvolvida no doutorado recém iniciado.

O pesquisador, que é graduado em Letras com habilitação em Português/Espanhol pela UFMS, campus de Três Lagoas, relembra que foi na volta de um congresso que surgiu a ideia de estudar canções sul-mato-grossenses.
“Estava tocando uma música do Almir Sater e eu ainda não tinha pensado o que eu poderia pesquisar, então minha orientadora falou ‘você pode fazer um trabalho sobre as canções do Almir’. Inicialmente esse era o intuito, mas depois pesquisando outras produções chegamos aos outros cantores. Entrevistei o Almir e também o Geraldo Espíndola e o Paulo Simões, e assim busquei as representações dos povos indígenas em três canções compostas por eles: Kikiô, Serra de Maracajú e Sonhos Guaranis”, conta.
Flávio disse que durante as entrevistas com os compositores para o trabalho de mestrado, identificou-se bastante com Paulo Simões, sua vivência e inspirações e por isso resolveu dedicar-se às suas composições no doutorado.
“As produções do Paulo Simões em parceria com Almir Sater, Geraldo Roca, que infelizmente já é falecido, entre outros parceiros, falam muito de Mato Grosso do Sul, então agora o intuito é observar essas representações, mapear esse patrimônio imaterial cultural para que outras gerações conheçam a história, a memória, a cultura do estado passada por meio dessas canções”, informou.
Flávio revela que se interessa muito pela criação e composição das músicas, pela subjetividade, e que a abertura que conseguiu junto aos entrevistados permite que recorra a eles para a compreensão desse processo.
“Quero entender como a canção foi produzida e quais são os efeitos de sentido hoje e quais eram ontem, porque as músicas vão adquirindo novos sentidos. Todos os dias eu ouço Paulo Simões e vou identificando diferenças, as diversas temáticas que ele canta”, afirma.
Entre as atividades previstas no projeto de doutorado estão novas entrevistas com Paulo e com outros compositores com os quais trabalha, pesquisa de campo e observação do material. O intuito do estudante é analisar cerca de 10 canções, entre elas “Sonhos Guaranis”, “Comitiva Esperança”, “Mês de Maio” e “Trem do Pantanal”.
“Sobre a canção Trem do Pantanal, Paulo contou que foi criada quando ele e Geraldo Roca foram para Machu Picchu de trem e logo após passarem por Miranda surgiram os primeiros acordes. Inicialmente a música se chamava ‘Sobre todos os trilhos da Terra’, mas como as pessoas sempre pediam que tocassem ‘Trem do Pantanal’, assim ficou. E essa canção pode ser considerada um hino não oficial de Mato Grosso do Sul de tanto que fez sucesso e remete à cultura regional”, pontua Flávio.
