
Em entrevista concedida ao programa de rádio da UEL FM Notícias, da Universidade Estadual de Londrina (PR), apresentado pela jornalista Valéria Giane, o médico-pneumologista Ronaldo Perches Queiroz, que é formado pela Escola Paulista de Medicina e gestor hospitalar e de sistemas de saúde em Mato Grosso do Sul, detalhou as fases clínicas da Covid-19 e alertou para a síndrome que surge após a cura da doença. Ele explicou que a Covid-19 tem três fases, sendo que a primeira é a chamada infecciosa, que dura do 1º dia de penetração do vírus no organismo do paciente e vai até o 5º dia, podendo chegar ao 7º dia.

"É o que chamamos de fase infecciosa, quando acontece a replicação viral, quando os vírus penetram nas células dos pacientes e vão se desenvolvendo, se duplicando, replicando para aumentar a sua carga viral. Neste período, é quando surgem os primeiros sintomas, como febre baixa, tosse seca, episódios de diarreia, de cefaleia, dores no corpo, perda de olfato e de paladar, dentre outras coisas", detalhou o especialista, completando que a segunda fase da Covid-19 é dividida em fase "2 A" e "2 B". "Na fase 2 A, é quando começa uma inflamação nos pulmões. O paciente pode ainda não ter falta de ar, mas, no estudo da tomografia, que é essencial para conduzir o processo de tratamento, já mostra as lesões que nós chamamos de vidro fosco, ou seja, um comprometimento pulmonar provocado pela inflamação causada pela presença do vírus, chegando a até 25% de comprometimento. Os outros 75% que estão saudáveis conseguem manter uma boa saturação", explicou.
O médico-pneumologista Ronaldo Perches Queiroz, que é formado pela Escola Paulista de Medicina e gestor hospitalar e de sistemas de saúde em Mato Grosso do Sul, detalhou as fases clínicas da Covid-19
Ronaldo Perches Queiroz reforça que na fase "2 B" a inflamação aumenta muito e já é possível ver o paciente apresentar sinais de falta de oxigênio, o que é chamada de hipóxia. "Ele tem dispneia, tem cansaço e o estudo tomográfico já mostra geralmente um comprometimento maior do que 50% dos pulmões afetados. E isso dificultando cada vez mais a oxigenação sanguínea. Nessa fase, muitos pacientes precisam ser internados para receber um suporte de oxigênio e outras medidas de suporte hospitalar para evitar que chegue à fase 3. Com a evolução da doença, na fase 3, nós chamamos de fase da síndrome de angustia respiratória aguda, quando o paciente tem choques sépticos porque há a contaminação por bactérias oportunistas", alertou.
O médico-pneumologista conta que esse comprometimento abre espaço para que o paciente desenvolva pneumonias e, como ele está geralmente internado ou até entubado na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), necessita do uso de drogas associadas com antibióticos de largo espectro. "É essa fase 3 a mais crítica da doença, geralmente, ela ocorre a partir do 8º dia até o 11º dia, quando o paciente já está internado e precisa de tratamento intensivo. A saturação cai muito, são necessárias fontes e níveis de oxigênio na ventilação mecânica muito altos, sem contar que o paciente entrando em choque séptico terá comprometimentos cardiovasculares, cai a pressão, necessitando de drogas vasoativas, os rins ficam comprometidos e não é rara a necessidade de se fazer hemodiálise. São essas as três fases clínicas da infecção provocada pela Covid-19", pontuou.
Pós-Covid-19
Com relação à síndrome pós-Covid-19, o especialista destaca que é preciso relembrar que ela é uma complicação decorrente do processo inflamatório que foi acometido o paciente pela infecção do novo coronavírus. "É considerada uma infecção inflamatória difusa e multissistêmica. Ela acaba comprometendo vários órgãos e sistemas do organismo. Os mais comuns são os problemas emocionais, as pessoas ficam extremamente deprimidas, ficam com medo, é uma experiência extremamente traumática, além disso, o sistema nervoso central tem a possibilidade de apresentar alterações cognitivas, ou seja, pessoas que tiveram Covid-19 e que, depois de dois meses, começam a perceber que têm alterações na memória, perdem a capacidade de discernimento, de concentração, enfim, uma fadiga mental", alertou.
Com relação à síndrome pós-Covid-19, o especialista destaca que é preciso relembrar que ela é uma complicação decorrente do processo inflamatório
Além disso, do ponto de vista ósseo muscular neurológico, o médico relata que há uma fraqueza muscular intensa, dores crônicas, dores nas costas, dores articulares e dores nos membros. "Essas pessoas também podem ter problemas de encefalite, inflamações a nível do sistema nervoso central, pancreatite. Já atendemos pessoas que desenvolveram hipotireoidismo pela inflamação da tiroide, alterações renais significativas, porém, o que mais nos chama a atenção são os sintomas respiratórios porque os pulmões acabam sendo, como sempre, os órgãos de choque, então, mesmo após a sua alta, são muitos os pacientes que apresentam ainda dificuldades de fazer algum tipo de esforço, sentindo cansaço, dores nas costas, uma sensação de respiração pesada que é muito comum e isso é reflexo do processo inflamatório pulmonar", contou.
Ronaldo Perches Queiroz lembra que o vírus da Covid-19 tem uma vida de duas semanas, após esses 14 dias, se o paciente ficar mais tempo no hospital, é por causa das outras complicações. "Quando o paciente tem alta e consegue sair da UTI, é importante que saiba que essa inflamação, depois do 14º dia, é tão grande, que até aumenta. Quando nós fazemos um controle de tomografia computadorizada no paciente, até de quem recebeu alta 30 dias depois, é comum ver que ele tem até 40% de comprometimento do território pulmonar, podendo chegar a até 60%. Então, se a curva entre a infecção pelo novo coronavírus e até quando ele é completamente eliminado já na área respiratória esse comprometimento pulmonar pode durar até 90 dias", informou.
O médico-pneumologista pontua que é de grande importância que os profissionais de saúde estejam muito atentos a atender os pacientes após a Covid-19 para administrar esse processo. "O que nos têm chamado muito a atenção é que, infelizmente, os médicos e até os hospitais têm dado pouca importância. O paciente recebe alta sem orientações de que deve procurar o pneumologista para cuidar dos seus pulmões ou para receber uma fisioterapia respiratória, medicamentos para evitar complicações porque, veja bem, nós temos que fazer várias medidas de suporte neurológico, de otorrino, mas, com relação aos pulmões, além da fisioterapia, o grande risco é a complicação mais séria que existe na síndrome pós-Covid-19, que é esse processo inflamatório muito grande, muito intenso, com até 80% do pulmão comprometido", ressaltou.
Além disso, conforme o especialista, se o paciente teve uso de ventilação pulmonar em respiradores por tempo prolongado pode fazer com que, no período pós-Covid-19, surja uma complicação gravíssima, que se chama fibrose pulmonar, que é uma doença incurável. "Nós temos hoje como fazer o diagnóstico tomográfico, diagnóstico funcional, nós temos medicamentos anti-fibróticos, anti-inflamatórios que nós utilizamos para diminuir esse sofrimento do paciente e poder trazê-lo, após 120 dias, para a sua normalidade", garantiu.
Sobre como fica a questão da vacinação contra a pneumonia, Ronaldo Queiroz sugere que todos os pacientes que tenham, independentemente de ter ou não contraído Covi-19, doenças pulmonares crônicas, como asma brônquica, bronquite crônica, ou DTOC, ou enfisema pulmonar, entre outras, devem sim se vacinar contra a pneumonia e são duas as vacinas principais: a antipneumocócica 13 e a 23. "Nós indicamos sempre que se tome a vacina contra a pneumonia 13 e, após seis meses, a pneumo 23, pois, com isso, o paciente tem uma cobertura melhor, não desenvolve infecções respiratórias nas suas doenças comuns e, caso eventualmente tenha Covid-19, terá uma proteção a mais para evitar as infecções oportunistas que acabam ocorrendo nos pacientes mais graves", finalizou.
