A pecuária de Mato Grosso do Sul, um dos principais polos de produção de carne bovina do Brasil, enfrenta uma onda de especulação causada pela alta das tarifas americanas sobre a carne brasileira. No entanto, o presidente da Associação Nelore/MS, Paulo Matos, garantiu ao Giro Estadual de Notícias nesta quarta-feira (23) que o impacto do tarifaço dos Estados Unidos sobre o mercado local é limitado. Em entrevista exclusiva, Matos detalhou os desafios da pecuária no estado, destacando a importância do mercado externo, especialmente o americano, e os riscos de um cenário de pânico gerado por agentes do setor.
Embora o mercado dos Estados Unidos seja um importante comprador da carne brasileira, Matos explica que o país representa uma fração da produção nacional. "O Brasil produz cerca de 10 milhões de toneladas de carne por ano. Desse total, 70% é consumido internamente, e 30% é exportado. Os Estados Unidos compram cerca de 8% dessa carne exportada, o que equivale a aproximadamente 2% da nossa produção total", detalhou Matos. Com isso, ele ressalta que, apesar da relevância, a dependência do mercado americano é limitada para o Brasil, e principalmente para Mato Grosso do Sul, que exporta uma parte significativa de sua produção.
O presidente da Associação Nelore-MS, Paulo Matos, fala sobre o impacto limitado do tarifaço dos EUA para a pecuária de MS
No entanto, a alta de tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos ao Brasil gerou um alarde no setor. Matos relembra o momento em que surgiram os primeiros rumores, com alguns especulando uma crise iminente. "Quando surgiram essas tarifas, tomei medidas imediatas, incluindo uma comunicação à imprensa e a publicação de um artigo de esclarecimento. Como presidente da associação, temos a responsabilidade de proteger o produtor. Inicialmente, surgiu um pânico no mercado, com a ideia de que nossa economia, especialmente a pecuária, estaria à beira do caos", relatou.
Especulação de mercado e pressões sobre o produtor - Matos também destacou a especulação de frigoríficos, que, aproveitando a situação, pressionaram os produtores a vender a carne a preços mais baixos. "Logo depois da notícia, o preço da arroba caiu rapidamente, e vimos frigoríficos, inclusive os que não exportam, dizendo que iriam suspender os abates por causa da situação com o mercado americano. Isso, na verdade, tinha o objetivo de pressionar os produtores a vender a carne a preços mais baixos do que a realidade de mercado", explicou.
A mensagem da associação foi clara: "O impacto econômico não seria tão grande assim". Matos também mencionou que o Brasil possui uma base sólida de outros mercados consumidores e que, caso haja uma crise, a carne pode ser facilmente redirecionada para outros destinos. "O Brasil tem um número considerável de clientes que compram nossa carne, que, aliás, é a mais barata do mundo e de excelente qualidade", afirmou.
Paulo Matos, presidente da Associação Nelore-MS, fala sobre o impacto limitado do tarifaço dos EUA na pecuária de MS
Em relação ao consumidor americano, Matos acredita que o tarifaço pode prejudicar a própria economia dos Estados Unidos. "O preço da arroba nos Estados Unidos é de 120 dólares, enquanto no Brasil é de 52 dólares. Mesmo com esse aumento, nossa carne continua significativamente mais barata que a carne americana", explicou. Além disso, ele ressaltou que a tarifa pode afetar diretamente o preço da carne no mercado americano, tornando-a menos competitiva, o que, por sua vez, pode impactar as exportações brasileiras.
Paulo Matos também abordou o impacto das tarifas sobre a indústria da carne no Brasil, destacando que a questão ainda está no campo das expectativas e que, dada a dependência dos Estados Unidos pela carne bovina, os mercados devem se ajustar com o tempo. Ele fez um comparativo entre a situação atual do rebanho americano e a realidade da produção brasileira, que segue com altos padrões de qualidade e sanidade, fatores que mantêm a carne brasileira competitiva no mercado global.
"Os Estados Unidos, sob o governo de Trump, estão em uma guerra comercial e já implementaram tarifas em mais de 92 países. As tarifas aplicadas à carne brasileira afetarão, sim, o mercado americano, mas o impacto no Brasil será limitado", explicou Matos. No entanto, ele fez questão de alertar que, apesar dos desafios, a pecuária de Mato Grosso do Sul segue forte e qualificada. "O produtor de Mato Grosso do Sul tem feito um trabalho excepcional em termos de qualidade, sanidade, respeito ao meio ambiente e controle de produção, atendendo a todas as metodologias sanitárias exigidas", concluiu.
Ele enfatiza que a carne brasileira permanece competitiva no mercado internacional, e que o foco deve ser em manter a tranquilidade e a estratégia de longo prazo, sem ceder à especulação e pressões de mercado.
Os desafios internos e o papel do produtor - Paulo Matos também alertou sobre os desafios internos enfrentados pelo produtor de carne brasileira, especialmente no que diz respeito à pressão da indústria frigorífica e do varejo. Ele destacou que a pressão sobre os preços, por parte de grandes frigoríficos e varejistas, resulta em um cenário onde o produtor é o único que não tem controle sobre o preço de venda de sua carne. "O produtor de boi é o único que não tem controle sobre o preço do seu produto. Ele precisa ligar para o comprador para saber quanto ele está disposto a pagar", destacou.
Para Matos, é fundamental que os produtores mantenham a calma e analisem com cuidado as melhores oportunidades de venda, sem se deixar levar pelas pressões do mercado. "Estamos trabalhando para esclarecer os pontos e fortalecer o setor, para que possamos alcançar um equilíbrio nos preços e garantir que o produtor, ao vender seu produto de alta qualidade, o faça por um preço justo", finalizou.
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