Em tempos de clima seco e aumento do número de eventos em espaços fechados e abertos, o arquiteto e urbanista Ricardo Bittencourt, especialista em segurança contra incêndio e pânico, faz um alerta direto: a maioria das edificações e eventos em Mato Grosso do Sul ainda ignora normas básicas de segurança, colocando vidas em risco.
Com mais de 20 anos de atuação no Corpo de Bombeiros do estado e hoje à frente da AP2 Arquitetura e Engenharia, Ricardo falou ao Giro Estadual de Notícias nesta segunda-feira (8) sobre os perigos da negligência, os requisitos legais para certificações e o papel fundamental da prevenção em tragédias como as do Edifício Joelma e da Boate Kiss.
“O incêndio é o fogo fora de controle. E o pânico é a reação psicológica de quem acredita que vai morrer. Quando essas duas coisas se combinam, a tragédia é quase certa”, explicou. Segundo ele, evitar esses cenários é possível, desde que haja conhecimento, planejamento e responsabilidade.
Segundo Ricardo, muitos organizadores acreditam que, por estarem ao ar livre, estão isentos de obrigações legais. “Está errado. Toda aglomeração de pessoas, seja em local fechado ou aberto, precisa seguir protocolos de segurança e obter alvará junto ao Corpo de Bombeiros”, disse.
A legislação estadual (Lei nº 4.335/2013) exige cumprimento de normas específicas para cada tipo de edificação ou evento, incluindo rotas de fuga, extintores, brigadistas e sinalização. “Esses protocolos salvam vidas”, reforça.
Para o arquiteto, o desrespeito à legislação tem três principais causas: negligência, onerosidade e falta de conhecimento.
“Muitos acham que nunca vai acontecer com eles. Outros, sabem que precisam fazer, mas só agem quando são notificados. E há os que simplesmente não conhecem a lei porque não têm formação técnica”, afirmou.
Ele alerta que a consequência pode ser mais grave do que uma simples multa. “Se ocorrer um sinistro e houver vítimas, o responsável pode responder criminalmente, inclusive com prisão. Além disso, o seguro não cobre danos se o imóvel não estiver regularizado”, pontua.
Tragédias que mudaram a legislação - O Brasil já enfrentou tragédias marcantes causadas por negligência com incêndios, como os casos do Edifício Joelma (1974) e da Boate Kiss (2013). “Esses episódios foram divisores de água. A partir deles, normas começaram a ser atualizadas e a segurança passou a ser vista com mais seriedade”, explicou.
Apesar dos avanços, Ricardo alerta que a legislação ainda evolui lentamente e geralmente após grandes desastres. “Infelizmente, no Brasil, só se atualiza a lei depois da tragédia”, critica.
Um dos pontos mais impactantes da entrevista foi o alerta sobre a fumaça: “Ela é volátil, tóxica, explosiva e mata muito mais do que o próprio fogo. Muita gente morre sufocada ou por danos pulmonares semanas depois do incêndio.”
Ricardo citou o caso da Boate Kiss como exemplo emblemático, onde muitas vítimas inalaram fumaça tóxica produzida por materiais inflamáveis e espumas acústicas inadequadas. “As pessoas conseguiram sair vivas, mas morreram depois por inalação de fumaça”, lamentou.
Respondendo à pergunta de uma ouvinte, Bittencourt também alertou para o uso indiscriminado de água em incêndios: “Se você joga água num quadro energizado, pode morrer na hora. Ou ainda gerar mais fumaça, dependendo do material. Por isso, a orientação correta é essencial.”
AP2 oferece suporte técnico para empresas e organizadores - Ricardo é hoje diretor da AP2 Arquitetura e Engenharia, que atua em todo o estado oferecendo consultoria técnica para edificações, eventos, comércios e indústrias. A empresa cuida de todo o processo de regularização junto ao Corpo de Bombeiros e demais órgãos públicos.
“Desde pequenas padarias até grandes galpões industriais, todo empreendimento precisa de um planejamento técnico. Às vezes, a pessoa entende de pão, mas não entende de segurança. Por isso precisa de ajuda profissional”, reforça.
A AP2 atende tanto em Campo Grande quanto no interior do estado. “Já estivemos em cidades como Iguatemi, e vamos onde for preciso. Segurança não é luxo, é necessidade”, concluiu.
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