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Safra de soja em MS sofre impactos da estiagem e tem projeções abaixo da média

6 fevereiro 2025 - 10h10 Por Carlos Guilherme

O plantio da soja em Mato Grosso do Sul, iniciado em 16 de setembro, ocorreu dentro da normalidade, com a finalização dentro da janela ideal, antes do prazo limite de 31 de dezembro. No entanto, a estiagem prolongada entre dezembro e janeiro impactou significativamente as lavouras, especialmente nas regiões centro e sul do Estado. Segundo Gabriel Balta, coordenador técnico da Aprosoja/MS, aproximadamente 42% da área cultivada – cerca de 1,8 milhão de hectares – foi afetada pela falta de chuvas, comprometendo a produtividade.

"A estiagem prolongada trouxe impactos significativos para a produção. Muitos municípios estão com produtividade abaixo do esperado, e a média estadual estimada é de 51,7 sacas por hectare, um número que reflete a gravidade da situação", explicou Balta em entrevista ao Giro Estadual de Notícias nesta quinta-feira (6).

Atualmente, cerca de 35 municípios sul-mato-grossenses enfrentam índices de produtividade inferiores às projeções iniciais. A Aprosoja/MS tem trabalhado para levar essas informações aos representantes sindicais e prefeituras, auxiliando na decisão sobre a decretação de situação de emergência. No entanto, Balta destaca que essa medida deve ser avaliada com cautela, pois pode impactar negativamente o acesso ao crédito agrícola.

 Segundo Gabriel Balta, coordenador técnico da Aprosoja/MS, aproximadamente 42% da área cultivada – cerca de 1,8 milhão de hectares – foi afetada pela falta de chuvas, comprometendo a produtividade - (Foto: Lorena Sone)

"Os produtores precisam estar atentos ao fato de que, segundo o Manual do Crédito Rural, a renegociação de dívidas pode ser feita sem a necessidade de decretação de emergência. Nossa recomendação é que eles busquem orientação e apresentem laudos contábeis e agronômicos para comprovar os prejuízos", explicou.

Outro fator preocupante é a redução expressiva da margem de lucro. Com um custo de produção estimado em 51,5 sacas por hectare e produtividade média prevista em 51,7 sacas, a rentabilidade da atividade se encontra extremamente pressionada.

"A diferença entre o custo e a produtividade esperada é muito pequena. Isso significa que qualquer variação no mercado ou nos insumos pode colocar o produtor no vermelho", alertou Balta.

Os preços dos insumos agrícolas dispararam entre janeiro e novembro, dificultando ainda mais o cenário para os sojicultores. O fósforo registrou alta de 38%, enquanto o potássio subiu 7%. O calcário dolomítico, fundamental para a correção do solo, teve aumento de 27%, e a ureia, essencial para a fertilização, encareceu cerca de 17%.

"O aumento no custo dos insumos já era uma preocupação em agosto, mas os preços continuaram subindo. Isso coloca o produtor em uma situação delicada, pois ele precisa equilibrar investimentos para garantir uma boa produtividade sem comprometer sua saúde financeira", avaliou Balta.

Condições climáticas variam entre estados - Enquanto Mato Grosso e parte do Paraná e Goiás apresentam um cenário climático mais estável para a produção agrícola, Mato Grosso do Sul e o Rio Grande do Sul enfrentam desafios severos. No estado gaúcho, a situação é ainda mais crítica, com perdas significativas nas lavouras devido à estiagem.

"A irregularidade climática tem sido um fator determinante nesta safra. Enquanto algumas regiões têm boas condições, outras estão enfrentando dificuldades severas. Isso reforça a necessidade de planejamento e diversificação das culturas", afirmou Balta.

Apesar das dificuldades, a projeção inicial da safra de soja em Mato Grosso do Sul se mantém em 4,5 milhões de hectares, representando um crescimento de 6%. A produção estimada é de 14 milhões de toneladas, um aumento de 3,2%.

Segundo Balta, a estiagem afetou 42% da soja em MS, reduzindo a produtividade e aumentando os custos. Produtores buscam alternativas - (Foto: Lorena Sone)

A demanda internacional e as oscilações cambiais também influenciam diretamente o mercado da soja. Como aproximadamente um terço do valor da oleaginosa é dolarizado, a variação do câmbio tem impacto direto nos custos de produção.

"Os Estados Unidos reduziram sua projeção de produção em 2%, enquanto a China apresentou uma leve queda de 0,2%. A Argentina tem um potencial produtivo de 59 milhões de toneladas, e o Brasil segue com a projeção de 169 milhões de toneladas. Isso pode aumentar a competitividade do nosso país no mercado global", analisou Balta.

Ele ressalta, no entanto, que o Brasil precisa avançar na industrialização da soja para agregar mais valor ao produto. "Não podemos depender apenas da exportação de grãos. Precisamos investir em processamento para gerar mais oportunidades e fortalecer nossa economia", disse.

Milho e diversificação como alternativas - Os produtores também precisam ficar atentos ao plantio do milho, já que janela de semeadura mais favorável vai até 15 de março. A escolha do período correto é essencial para evitar impactos negativos, como a estiagem ou o risco de geadas no sul do estado.

"Aqueles que tiveram perdas na safra de soja devem renegociar com os bancos, apresentando laudos técnicos que comprovem os prejuízos. Além disso, o milho pode ser uma boa alternativa, pois há demanda crescente e possibilidade de melhora nos preços", indicou Balta.

Outras culturas, como amendoim e sorgo, também vêm ganhando espaço no estado. O sorgo, por exemplo, já tem contratos fechados e pode alcançar até 70% do valor da saca do milho. "A diversificação de culturas é uma estratégia importante para reduzir riscos e aumentar a rentabilidade", ressaltou.

O plantio direto tem sido uma das principais práticas adotadas pelos produtores sul-mato-grossenses para a conservação do solo e manutenção da umidade. Esse sistema consiste no plantio sobre a palhada do milho e da soja, garantindo maior proteção ao solo e melhor aproveitamento dos nutrientes.

"Os produtores estão cada vez mais aderindo ao plantio direto, pois ele traz benefícios tanto para a produtividade quanto para a sustentabilidade", destacou Balta.

Além disso, o uso de insumos biológicos vem crescendo. Muitos produtores já adotam controle biológico em 100% de suas áreas, utilizando fungos e bactérias para combater pragas de forma mais sustentável. "A tecnologia no campo tem avançado, permitindo um manejo mais eficiente e com menor impacto ambiental", explicou.

No entanto, os desafios fitossanitários persistem. Nesta safra, houve forte presença de percevejos, lagarta-do-cartucho e lagarta-da-vagem. Além disso, o capim-marmelada, o capim-amargoso, a buva e o caruru-palmeri continuam sendo problemas nas lavouras.

"A presença do caruru-palmeri exige atenção especial, pois pode levar à rejeição de cargas e à necessidade de expurgo e beneficiamento. Já tivemos casos de infestações severas em São Gabriel do Oeste e na região sul do estado", alertou.

Apesar desses desafios, novas variedades genéticas têm sido introduzidas no mercado, permitindo um controle mais eficiente de pragas e doenças. "A evolução genética tem sido uma aliada importante para manter a competitividade e sustentabilidade do setor agrícola", concluiu Balta.

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