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PRODUTIVIDADE

Produção de leite em MS enfrenta desafios, mas revela alto potencial de crescimento

7 julho 2025 - 14h30 Por Carlos Guilherme

Com menos de 50% da demanda interna atendida, a produção de leite em Mato Grosso do Sul ainda enfrenta gargalos estruturais que comprometem sua expansão.

A baixa produtividade, a dificuldade de acesso ao crédito rural e os altos custos logísticos são alguns dos principais entraves apontados pelo vice-presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Alessandro Coelho. A criação da ASSULEITE-MS (Associação Sul-Mato-Grossense dos Produtores de Leite), presidida por Éder Souza Oliveira, surge como resposta a esse cenário. A nova entidade pretende unir produtores, organizar a cadeia e atrair investimentos para o setor.

“O leite voltou a ser rentável, mas precisa de estrutura. A vaca leiteira é um atleta de alta performance: precisa de alimentação balanceada, sombra, conforto térmico e manejo correto para dar resultado”, diz Coelho em entrevista ao Giro Estadual de Notícias desta segunda-feira (7). A comparação serve para ilustrar o nível de exigência da produção leiteira, considerada uma das atividades mais intensas em termos de trabalho diário. “A vaca não para de produzir. Se você deixar de ordenhar um dia, ela adoece, tem febre, estresse e quebra produtividade. Por isso, o sistema precisa ser eficiente e estável, com energia elétrica garantida e alimentação de qualidade”, explica.

Com produção ainda abaixo da demanda estadual, Alessandro Coelho defende logística eficiente, acesso ao crédito e assistência técnica como caminhos para transformar o leite em fonte sustentável de renda.

A realidade, no entanto, é desafiadora. Em Campo Grande, a média de produção por propriedade é de apenas 100 litros de leite por dia, um volume que compromete a viabilidade econômica da atividade. “Hoje, muitos produtores trabalham com o mínimo, sem pastagem adequada, sem estrutura. Às vezes querem começar pela vaca de alta genética, mas não têm nem capim. A gente sempre diz: primeiro o capim, depois a vaca, depois a estrutura”, alerta.

Segundo Coelho, a frase “genética entra pela boca” resume bem esse desafio: de nada adianta investir em animais de alta performance se não houver alimentação adequada. Para ele, o ideal é melhorar gradualmente o rebanho já adaptado à propriedade, com uso de touros ou inseminação artificial, e crescer com cautela e planejamento.

A logística é outro obstáculo que ele considera estratégico. “Nosso estado é muito grande, e os produtores estão muito espalhados. Às vezes o caminhão percorre 40 km para buscar 100 litros em uma propriedade e mais 40 km para pegar em outra. Com o preço do diesel, esse frete pesa demais para toda a cadeia — produtor, indústria e consumidor”, afirma. A proposta da ASSULEITE é agrupar produtores por região para otimizar a coleta, armazenar o leite por até três dias em resfriadores e reduzir os custos operacionais. “Essa organização pode melhorar a remuneração do produtor e baratear o produto para o consumidor. Ganha todo mundo”, resume.

O vice-presidente da Acrissul também avalia que setores consolidados como a soja, o milho e a pecuária de corte podem impulsionar a cadeia leiteira, ao fornecer insumos como grãos e suplementação de forma acessível. “Temos uma oferta enorme de soja e milho, que são exportados por falta de demanda interna. Quando bem usados na alimentação dos animais, esses produtos aumentam muito o desempenho do rebanho”, afirma.

Outro ponto central da entrevista foi o crédito rural. Coelho critica o acesso limitado ao Pronaf, especialmente após o Plano Safra 2025/2026 destinar apenas 3% para a genética leiteira. “O governo anuncia os recursos como se fossem facilmente acessíveis, mas a verdade é que muita gente nem consegue chegar no banco. Basta uma conta de luz atrasada ou um lote sem regularização para o crédito travar. Isso afasta o pequeno produtor do financiamento”, aponta.

“Começou certo, o negócio dá certo.” A frase de Alessandro Coelho traduz o espírito da nova fase do leite em MS: com organização, apoio técnico e trabalho em família, pequenos produtores podem alcançar grandes resultados.

Ele destaca ainda que boa parte dos recursos do Pronaf acaba sobrando ao final do ano por falta de acesso. “Existem linhas boas, inclusive específicas para gado de leite, mas são subutilizadas. O produtor tem medo de tomar crédito, porque a atividade é pequena e o impacto de qualquer erro é muito grande”, avalia. Para mudar esse cenário, Alessandro defende a ampliação das parcerias com cooperativas como Sicredi e Sicoob, além de ações mais práticas e menos burocráticas do poder público.

Eventos como o Festival do Leite, promovido recentemente pela Acrissul, mostram o potencial da cadeia quando há incentivo e organização. A iniciativa reuniu produtores, famílias, técnicos e empreendedores, oferecendo cursos de produção artesanal de queijos, orientações sobre inspeção sanitária e discussões sobre valor agregado. “O produtor precisa entender que é possível legalizar a produção, vender com mais segurança e ganhar mais. Com apoio do Senar, do Sebrae e das associações, isso vira realidade”, reforça.

Coelho também lembra que mais de 70% das propriedades rurais de Campo Grande têm até 60 hectares, o que reforça o papel estratégico da agricultura familiar. “Temos casos de produtores com apenas um hectare que já tiram 500 litros por dia. É desafiador, mas mostra o potencial do pequeno quando há conhecimento, assistência técnica e organização. Mudar a cultura do gado de corte para um modelo mais intensivo e integrado é o caminho”, conclui.

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