O decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), que libera a plantação de cana-de-açúcar no Pantanal e outros biomas sensíveis é considerado um retrocesso por entidades ambientalistas de Mato Grosso do Sul. Visando alertar a população sobre o tema acontece hoje em Campo Grande, o ato "Cana no Pantanal Não". A manifestação organizada pela Frente Parlamentar de Vereadores Ambientalistas acontece nesta terça-feira (12), considerado o "Dia Nacional do Pantanal", em homenagem a Francisco Anselmo dos Santos, mais conhecido como Francelmo. O ativista morreu em 13 de novembro de 2007 após não resistir às queimaduras que atingiram 100% de seu corpo. No dia anterior, o ativista ambiental ateou fogo no próprio corpo como forma de protesto contra a instalação de usinas de álcool e açúcar na região do Pantanal, durante uma manifestação em Campo Grande.
Após 14 anos, o bioma do Pantanal volta a ser visto como possibilidade para o comércio agrícola. O ato público "Cana no Pantanal Não" irá se manifestar contra a decisão da liberação do plantio de cana-de-açúcar na região pantaneira.
O presidente da Ecologia em Ação (ECOA), André Siqueira
"Não tem como não dialogar, a medida de liberação de plantio de cana no Alto Pantanal é um retrocesso. Isso não e democracia, é rasgar dinheiro público", afirmou o presidente da Ecologia em Ação (ECOA), André Siqueira, entrevistado desta terça-feira (12) no programa Giro Estadual de Notícias. O ambientalista explica que o documento que revoga o decreto 6.961/ 2009, que garantia a produção do etanol de forma sustentável, motivou o ato "Cana no Pantanal Não".
"Vivemos um grande retrocesso. É importante pensar que em 2009 foi um processo histórico que culminou com o zoneamento agroecológico da cana. O trabalho foi desenvolvido pela CMN, Governo federal e entidades internacionais inclusive que compravam o álcool brasileiro e muita ciência. Como que você rasga dinheiro público jogando no lixo este estuso e desconsidera todo um trabalho de anos que foi feito. Isso não tem como entender. Pra nós este decreto é claramente um retrocesso", critica Siqueira.
"Não temos nada o que comemorar no Dia do Pantanal porque é uma situação emblemática que nos tivemos há alguns anos com a emolação do Francelmo defendendo o Pantanal então é um absurdo que se tenha uma situação dessas novamente agora", acrescentou.
Siqueira destaca ainda que o zoneamento deveria ser melhorado e debatido e não descartado a partir de um novo decreto. "Hoje o agronegócio brasileiro está muito mais em evidência pela condição internacional. Diante das queimadas o público internacional tem olhado pro Brasil cobrando responsabilidades. Agora uma medida dessas é mais um atraso em relação a opinião publica e de quem compra nosso etanol. Lembrando que o zoneamento agroecológico foi única e exclusivamente pensado para que o álcool brasileiro tivesse um selo 100% verde", afirmou.
"Hoje também estamos tendo manifestos em Brasília de grupos contrários a decisão. Aí vamos esperar os desdobramentos, inclusive do Ministério Público pela inconstitucionalidade desta medida. Enfim entender porque um decreto foi rasgado sem ter nenhuma discussão com segmento, com a sociedade e que pode provocar grandes impactos na bacia do Paraguai", alertou o presidente da Ecoa.
Confira a entrevista completa no player.