Começar a cantar aos cinco anos de idade num festival escolar pode parecer um detalhe singelo, mas para a dupla Júlia & Rafaela foi o primeiro passo de uma longa e intensa trajetória na música sertaneja. Hoje com quase nove anos de estrada, as irmãs são reconhecidas nacionalmente e acabam de lançar mais um projeto com participações especiais. Em entrevista ao A Crítica, elas relembram o início da carreira, os desafios como dupla feminina no sertanejo, as inspirações e o amadurecimento na profissão.
“Começamos a cantar com cinco anos, numa brincadeira no festival de música da escola. Ganhamos o primeiro lugar e, desde então, aquilo virou nossa marca registrada”, conta Rafaela. Criadas na fazenda, as duas cresceram ouvindo Teodoro & Sampaio nas viagens com o pai, que transportava gado. “A gente era piolho do meu pai. Amava estar com ele o tempo inteiro”, completa.
A música sertaneja sempre foi trilha sonora da infância, mas o sonho profissional veio mais tarde. “Ninguém da nossa família era músico. A música foi entrando aos poucos na nossa vida, meio sem querer, mas sempre voltava”, explicam.
O grande divisor de águas veio com os vídeos de cover na internet, aos 13 anos. “Começamos a postar e, na mesma época, Maiara e Maraisa estouraram. Aquilo abriu nossos olhos. Foi a primeira vez que vimos uma dupla feminina tão grande no sertanejo”, relembra Júlia.
A repercussão foi tanta que, em seis meses, elas assinaram com um escritório musical em Maringá, onde permaneceram por seis anos. “Foi uma grande escola. Mudamos de cidade várias vezes, aprendemos muito. Em 2023, decidimos sair e montar nosso próprio escritório. Aí nossos cunhados e nossa irmã mais velha entraram pra nos ajudar”, contam.
Júlia e Rafaela relembram início, desafios e nova fase da carreira com escritório próprio e parcerias de peso como Ana Castela.
Duplas femininas e os obstáculos do gênero - Mesmo com avanços no mercado, Júlia & Rafaela reconhecem que o sertanejo ainda é um espaço desafiador para as mulheres. “Tem poucas duplas. Hoje tem muita cantora solo, mas ainda deveria ter mais duplas femininas. Não é fácil”, afirma Rafaela.
Entre os maiores desafios, elas citam a distância da família, a rotina intensa de estrada e as exigências estéticas do mercado. “Saímos de casa com 14 anos. A gente viajava, pagava conta, fazia tudo. Era difícil. E até hoje é mentalmente desgastante. A estrada cansa, e a pressão estética é grande. Para os homens é mais fácil, sim”, avaliam.
A primeira gravação em estúdio foi um verdadeiro teste emocional. “A música era muito grave, o refrão muito agudo. Chorei, não consegui cantar. Meu pai estava lá e me deu força dizendo: ‘É melhor cantar do que estar tratando bezerro’. Foi difícil, mas seguimos”, lembra Rafaela. Mesmo hoje, ela ainda prefere apresentações ao vivo. “É muito melhor. Gosto mais do contato direto com o público.”
Uma das experiências mais marcantes da carreira foi a recente parceria com Ana Castela, na música Moto. “Ela é nossa empresária também. A gente estava gravando o novo projeto e ela perguntou se tinha participação. No outro dia, mandamos a música, e ela topou na hora. Gravou já na semana seguinte. Foi muito massa, ela postou muito, acreditou na música com a gente”, conta a dupla.
Segundo elas, a colaboração ampliou ainda mais o alcance do público. “Pegamos uma parte do público dela também. Muita gente começou a nos conhecer depois disso.”
Júlia e Rafaela abriram o coração em entrevista ao Jornal A Crítica!
Apesar da sonoridade mais jovem, o público da dupla é bastante variado. “Por muito tempo, foi um pessoal mais velho, mas hoje tem de tudo. Temos fã de Lisboa, fazemos reunião com eles, mostramos música nova primeiro. É um grupo bem engajado, fazem memes, vão aos shows com camiseta”, dizem.
Para julho, Júlia & Rafaela prometem novidade: a música Pilantra, com pegada de lambada. “Gravamos em Dourados. Está bem legal, a gente gosta muito. Fizemos um clipe caprichado também. A gente já postou um spoiler no Instagram”, contam, animadas.
Ao longo de quase duas décadas de carreira, a dupla reconhece o amadurecimento. “A presença de palco melhorou muito. No começo era muita timidez. Hoje está mais leve, aprendemos a não querer controlar tudo. A voz também evoluiu bastante”, reflete Júlia.
Para as jovens duplas femininas que querem entrar no sertanejo, elas deixam um recado direto: “Não precisa de dinheiro para começar. Componha, use a internet a seu favor, pense diferente. E mantenha sua verdade. No começo, as pessoas tentam te moldar, mas você precisa descobrir quem é. Vai testando, faz cover, não desiste. E faz terapia também”, brinca Rafaela.
Quem quiser contratar a dupla pode entrar em contato pelos telefones (67) 99835-7496 (Joaquim) e (44) 99126-0037 (Fábio Borges). Nas redes, é só procurar por @juliaerafaela.