Violência escolar não é brincadeira e precisa ser enfrentada com informação, acolhimento e ação efetiva. Essa foi a mensagem central da entrevista concedida ao Giro Estadual de Notícias nesta quarta-feira (28) pelo advogado e professor Michel Canuto e pela psicóloga Larissa Menezes, que estão à frente da 1ª Capacitação Nacional em Bullying Escolar, promovida pelo Instituto Latino-Americano de Estudos para a Segurança (ILAES).
O evento, gratuito e com certificação, acontecerá no dia 25 de junho, às 7h30, e será aberto para todo o país por meio da plataforma capacitacao.ilaes.org.br. A proposta é unir áreas como educação, psicologia e direito para combater o bullying com base em evidências e práticas integradas.
Para a psicóloga Larissa Menezes, que atua com terapia cognitivo-comportamental, o bullying é um reflexo de dores internas — tanto para quem agride quanto para quem sofre. “Muitas vezes, os agressores usam a violência como forma de expressar sofrimento psíquico. Já as vítimas podem desenvolver ansiedade, depressão e viver o isolamento social. O ambiente escolar, que já é naturalmente pressionador, agrava isso quando não é acolhedor e seguro.”
A psicóloga Larissa Menezes
Ela lembra que crianças e adolescentes enfrentam uma carga emocional elevada na escola e, em casos de predisposição genética a transtornos mentais, o bullying pode ser um gatilho grave. O advogado e professor Michel Canuto, reforça que o bullying deve ser tratado como uma infração legal.
“A Lei nº 13.185/2015 define bullying como violência sistemática. É uma prática intencional, contínua, que humilha e pode até levar ao suicídio. O Código Penal já trata esse tipo de conduta como crime. Não estamos mais falando de algo que se resolve só com advertência na escola.”
Michel revela que enfrentou resistência ao propor o bullying como tema de sua tese de doutorado. Hoje, vê a urgência do tema, que ultrapassa os muros da escola e exige responsabilização legal.
Capacitação busca promover mudança social ampla - A capacitação nacional, que nasceu de um projeto iniciado por Canuto no Mato Grosso e que já impactou mais de 10 mil pessoas, tem o objetivo de fomentar o debate sobre a violência escolar e fornecer ferramentas para o enfrentamento desse cenário.
“Capacitar é essencial. A Constituição diz que o bem-estar e a pacificação social são dever do Estado, da família e da sociedade. Estamos retomando esse projeto porque o Brasil precisa refletir sobre como lidar com a violência desde a base.” Canuto destaca que o curso é gratuito, conta como atividade complementar para estudantes e está acessível a qualquer cidadão. “A grande pergunta é: as pessoas estão vivendo ou apenas sobrevivendo?”, questiona, ao mencionar os inúmeros casos de violência invisível enfrentados por jovens em silêncio.
O advogado Michel Canuto
A psicóloga Larissa ressalta que a capacitação aborda a regulação emocional e a comunicação assertiva, elementos centrais na prevenção da violência. “Muitas pessoas não sabem se comunicar. Ou reagem de forma passiva ou extremamente agressiva. Ensinamos como se posicionar de forma firme e respeitosa. Bullying é crime, e os pais precisam saber disso para participar ativamente da vida escolar dos filhos.”
Ela acredita que a construção de ambientes de diálogo pode evitar que o “oprimido vire o opressor”. Por isso, o curso também capacita pais, professores e diretores para identificar e agir diante dos sinais da violência escolar.
Michel e Larissa apontam que o distanciamento familiar e a sobrecarga emocional dos adultos contribuem para a sensação de invisibilidade vivida por crianças e adolescentes. Em muitos casos, os jovens não encontram espaço para falar sobre o que sentem.
“Vivemos uma sociedade desconectada. Famílias afastadas, vínculos fragilizados. Muitos não têm com quem conversar ao chegar em casa. E isso alimenta uma espiral de sofrimento emocional silencioso.”
Canuto reforça que a violência é também estrutural e social. “Estamos vivendo uma forma de violência governamental. A crise econômica agrava a exaustão das famílias, que muitas vezes mal conseguem suprir as necessidades básicas.”
A psicóloga defende que a escuta ativa e o acolhimento emocional devem fazer parte da rotina familiar. “Pais precisam ir além de perguntar sobre notas. Devem perguntar: ‘Você se sentiu ansioso hoje? Triste? Com medo?’ Isso mostra que sentir é normal e ensina que é seguro compartilhar emoções.”
Essa abordagem ajuda a romper com a cultura do silêncio e do sofrimento calado. Segundo Larissa, ainda hoje muitas crianças têm medo de dizer que estão tristes ou desconfortáveis por receio de parecerem fracas.
Na parte final da entrevista, Michel citou iniciativas como a Lei A151100/2025, do Rio de Janeiro, que limita o uso de celulares em sala de aula. A medida, segundo ele, surge em resposta ao caos enfrentado por professores, que lutam para manter o foco dos alunos diante da hiperconectividade. “É desanimador entrar em sala e ver todos no Instagram, sem nenhum interesse pela aula. O ambiente escolar está desestruturado. Essa é mais uma camada da crise que enfrentamos.”
Ele relembrou um caso extremo: uma menina de três anos, vítima de racismo e pobreza extrema, que tirou a própria vida. “Se a intervenção tivesse ocorrido uma semana antes, talvez a história fosse diferente”, lamenta.
A 1ª Capacitação Nacional em Bullying Escolar acontece no dia 25 de junho, às 7h30 (horário de Brasília), com inscrições abertas no site capacitacao.ilaes.org.br. A participação é gratuita, aberta ao público de todo o país e com emissão de certificado.
Sintonize o Giro Estadual de Notícias, segunda a sexta, das 07h30 às 08h30, pelo acritica.net e para as seguintes rádios de MS:
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RÁDIO SERRANA FM 91,3 – NIOAQUE
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