Em entrevista ao Giro Estadual de Notícias nesta quinta-feira (23), o psicopedagogo Celso Cavalheiro abordou os principais desafios e avanços na compreensão e inclusão de pessoas com autismo no Mato Grosso do Sul. Ele enfatizou a importância do diagnóstico precoce e da preparação tanto de famílias quanto de profissionais da educação para lidar com a condição, que impacta áreas como a fala, interação social e aprendizagem.
Segundo Cavalheiro, o autismo, um transtorno de desenvolvimento neurossensorial, ainda gera um choque inicial para muitas famílias. “Quando as famílias recebem o diagnóstico, muitas vezes entram em um estado de luto. Elas idealizam um futuro para seus filhos, e, ao perceberem que esse futuro pode ser diferente, enfrentam um processo emocional muito intenso”, explicou. Ele destaca a importância de buscar ajuda especializada e aponta que a escola e os professores têm um papel crucial na identificação dos primeiros sinais do espectro autista.
“Os educadores estão diariamente com as crianças, e eles são fundamentais para notar comportamentos diferentes que possam indicar autismo. Foi por isso que escrevi meu último livro, para capacitar e orientar esses profissionais de forma embasada e científica, ajudando-os a reconhecer e apoiar o desenvolvimento cognitivo e comportamental das crianças”, pontuou o psicopedagogo.
Cavalheiro ilustrou suas observações com o caso de um garoto chamado Miguel, que ele acompanha em seu trabalho. Segundo ele, a mãe do menino inicialmente descrevia os comportamentos do filho como "problemas", mas, após orientação, passou a entender que se tratavam de comportamentos e condições diferentes, não necessariamente problemas. “Miguel não é um problema, ele é apenas diferente. Esse entendimento é crucial para que as famílias aceitem e busquem formas de apoio e intervenção”, destacou.
Para o psicopedagogo, sinais como hipersensibilidade auditiva, dificuldade na fala, aversão a certos sons e comportamentos repetitivos são indicativos de que a criança pode estar no espectro autista. “Nosso trabalho é identificar esses sinais e orientar as famílias para que busquem intervenções, como aulas de música, equoterapia, apoio de fonoaudiólogos, entre outras terapias que ajudam no desenvolvimento e bem-estar da criança”, explicou.
Um dos temas mais discutidos por Cavalheiro foi a inclusão de jovens autistas no mercado de trabalho. Ele compartilhou o processo de criação de um projeto de lei, em parceria com o deputado estadual Antônio Vaz, que garante 10% das vagas de estágio em órgãos públicos do estado para jovens autistas e pessoas com deficiência (PCDs). “Quando estive no município de Sonora, uma vereadora me perguntou como esses jovens poderiam ser inseridos no mercado de trabalho. A partir disso, desenvolvemos o projeto para criar essas oportunidades”, afirmou.
O projeto de lei, que foi sancionado pelo governador Eduardo Riedel (PSDB) no dia 9 de abril deste ano, é um marco para a inclusão no Estado. “Essa iniciativa abre portas para que milhares de jovens tenham oportunidades e consigam uma experiência no mercado, o que é essencial para sua independência e crescimento pessoal”, ressaltou Cavalheiro.
Cavalheiro também abordou as causas do autismo, citando estudos que indicam a influência genética como um fator determinante. Ele mencionou uma pesquisa do Instituto JAMA, que aponta que 97% dos casos de autismo têm histórico de transtorno de comportamento na família, destacando a transmissão hereditária. Além disso, ele levantou a possibilidade de que alterações genéticas em alimentos consumidos atualmente podem influenciar no aumento de casos, embora ainda sejam necessários mais estudos para comprovar essa relação.
Para Cavalheiro, apesar de ainda não haver cura para o autismo, é possível alcançar progressos significativos na qualidade de vida das pessoas dentro do espectro por meio de terapias específicas. “Embora a neurologia ainda tenha limitações na recuperação de lesões neurológicas, o trabalho comportamental e o desenvolvimento físico com o apoio de profissionais qualificados têm mostrado grandes evoluções”, explicou.
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