Em meio a um cenário de dificuldades enfrentadas por trabalhadores dos Correios em Mato Grosso do Sul, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios (Sintect/MS), Wilton dos Santos Lopes, conversou nesta quinta-feira (18) com o Giro Estadual de Notícias. Ele traçou um diagnóstico preocupante sobre a situação da empresa pública e ressaltou que a crise atual é fruto de anos de precarização e falta de um projeto de reestruturação sustentável.
“Os Correios vêm de um processo de precarização de vários anos. Escapamos de uma tentativa de privatização, mas isso não impediu que as condições de trabalho se deteriorassem e que a empresa acumulasse dívidas enormes”, afirmou Wilton. Segundo ele, a Caixa Postal Federal enfrenta uma grave crise financeira, que hoje demanda um aporte de cerca de R$ 20 bilhões para honrar compromissos com fornecedores, alugueis e, futuramente, até com o pagamento de salários.
Presidente do Sintect/MS aponta déficit de pessoal, falta de investimentos e negociações salariais como pontos centrais na realidade dos trabalhadores em Mato Grosso do Sul - (Foto: Williams Souza)
O sindicalista criticou a atual gestão dos Correios, apontando que apesar de a nova equipe ter sido anunciada com o compromisso de reverter os danos, “não vimos essas mudanças acontecerem de fato”. Para Wilton, essa realidade se reflete diretamente no cotidiano dos trabalhadores e na prestação de serviços à população.
Precarização, sobrecarga e deficiência de pessoal - Um dos principais pontos citados pelo sindicalista é a falta de efetivo adequado. O último concurso que efetivou trabalhadores ocorreu em 2013, e apesar de um concurso recente, considerado uma conquista histórica pelos trabalhadores, nenhuma contratação foi efetivada. “Aqui no estado chegamos a ter quase 2 mil trabalhadores. Hoje estamos com cerca de 1.100”, exemplificou.
Essa redução significativa no quadro de servidores está diretamente associada ao que Wilton define como precarização do trabalho: “É a sobrecarga de trabalho, a falta de pessoal para atender a população adequadamente, além de deficiências estruturais e de manutenção de veículos e equipamentos.”
Sobre as negociações salariais, o presidente do Sintect/MS destacou a dificuldade em avançar nas discussões da campanha salarial que tem data base em 1º de agosto. “Nossa expectativa é ao menos a reposição da inflação, que é justa para qualquer categoria. Mas a proposta que está na mesa, mediada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), prevê pagamento somente em abril do ano que vem, e um acordo bianual. Isso é insuficiente e vem acompanhado de propostas para retirar direitos históricos da nossa convenção coletiva”, criticou.
Wilton ainda enfatizou que os trabalhadores vêm se dedicando para oferecer um serviço de qualidade à população mesmo diante de condições adversas.
Categoria ameaça paralisação a partir de 23 de dezembro caso negociações não avancem; sindicato alerta para risco de ampliação nacional - (Foto: Williams Souza)
Ao ser questionado sobre o receio de demissões em massa, o sindicalista explicou que o quadro não decorre de exonerações arbitrárias, como ocorre no setor privado, mas de demissões voluntárias incentivadas (PDVs e PDIs): “Nos últimos anos, saímos de 120 mil funcionários em nível nacional para cerca de 86 mil. Isso mostra o quanto o quadro vem sendo enxugado”, apontou.
Wilton alerta que essa política, sem reposição de pessoal, tende a agravar ainda mais a precarização dos serviços.
Privatização dos Correios: um risco à universalidade do serviço - Perguntado sobre a possibilidade de privatização, o presidente do Sintect/MS reafirmou a oposição da categoria: “Somos contra. Os Correios são parte da história do Brasil e participaram ativamente do desenvolvimento do país. A privatização tende a concentrar serviços onde há lucro, deixando comunidades mais distantes sem atendimento.”
Ele lembrou o papel essencial dos Correios durante a pandemia e em operações logísticas importantes, como a entrega de exames do ENEM e operações de ajuda humanitária, citando o caso recente no Rio Grande do Sul.
Wilton destacou que a precarização e as pautas de resistência são uma realidade nacional. “De 36 sindicatos no país, 12 já estão em greve. As dificuldades são semelhantes em todas as regiões. O que varia, às vezes, são peculiaridades locais, mas o pano de fundo é o mesmo", finaliza.
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