A celebração dos 130 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Japão neste ano, ganhou um significado ainda mais especial para a comunidade nipo-brasileira de Mato Grosso do Sul. Na última semana, a Associação Esportiva e Cultural Nipo Brasileira, sediada em Campo Grande, recebeu com emoção e honra a visita da princesa Kako de Akishino, do Japão, que percorreu o Brasil visitando os principais centros de descendência japonesa no país.
“Receber a princesa Kako foi uma emoção indescritível. Uma verdadeira honra receber a visita dela em nossa associação, que é a maior da comunidade japonesa em Mato Grosso do Sul”, relatou o vice-presidente cultural e esportivo da entidade, Cláudio Sussumo Oikawa em entrevista ao Giro Estadual de Notícias nesta terça-feira (17), compartilhando detalhes e sentimentos em torno da visita ilustre e da história dos imigrantes japoneses na capital sul-mato-grossense.
“Receber a princesa foi uma emoção indescritível”, disse Cláudio Oikawa, da Associação Nipo
Durante sua visita, a princesa foi acompanhada por representantes da associação a locais emblemáticos, como o monumento que homenageia os primeiros imigrantes japoneses em Campo Grande, erguido na sede da entidade, na saída para Três Lagoas.
“Ela ficou profundamente emocionada ao ver a placa com a homenagem aos seus pais. Foi um momento muito tocante, que reafirma os laços históricos e afetivos entre nossas comunidades”, descreveu Oikawa, recordando que há dez anos o local também recebeu os pais da princesa durante as comemorações dos 120 anos da imigração japonesa no Brasil.
A sede da associação é considerada o coração da comunidade nipo-brasileira em Campo Grande. “Esse monumento é um símbolo de respeito e gratidão aos nossos antepassados que chegaram ao Brasil — no meu caso, foram meus avós que imigraram e se estabeleceram aqui”, completou o dirigente. Esses pioneiros vieram, principalmente, para contribuir na construção da ferrovia que ligava Bauru (SP) a Corumbá (MS), cruzando o Pantanal. A maioria deles era originária da província de Miyazaki, no sul do Japão, com clima semelhante ao do Centro-Oeste brasileiro.
“Esses imigrantes formaram colônias nas proximidades da cidade e iniciaram o cultivo de hortaliças, legumes, café e arroz, que eram posteriormente enviados à cidade de São Paulo por meio da própria ferrovia que ajudaram a construir”, lembrou Oikawa.
A história da imigração japonesa em Campo Grande está viva não apenas na memória, mas nas ações concretas da comunidade atual. A Associação Nipo realiza anualmente o Festival do Japão, que reúne milhares de visitantes e valoriza a cultura e a gastronomia japonesa. A próxima edição, prevista para novembro, espera receber 50 mil pessoas.
“Na última edição, tivemos um público de 42.200 pessoas. A cada ano, o evento cresce, tanto em público quanto em relevância cultural”, afirmou o vice-presidente, destacando o papel dos jovens nesse movimento. Além do festival, outras atividades como o Bon Odori e a tradicional gincana esportiva mantêm viva a herança cultural. “As músicas que acompanham essas danças retratam atividades do dia a dia como plantar, ceifar e pescar — gestos que simbolizam o trabalho e o sustento que os nossos avós garantiram para suas famílias”, contou.
Um legado transmitido com orgulho - Oikawa fala com orgulho sobre como a história de sua família se confunde com a da própria associação. “Eu cresci ao lado dos meus pais e avós, sempre envolvido com a Associação Nipo, o que me fez desenvolver um forte sentimento de pertencimento à cultura japonesa. Todo o trabalho que realizamos na associação é voluntário e feito com dedicação.”
Esse espírito comunitário se reflete também nas atividades voltadas à juventude e à modernização das tradições. “Hoje, conseguimos reunir desde elementos tradicionais, como bonsai, origami e danças típicas, até manifestações mais modernas, como os cosplays — que representam a atualidade da cultura pop japonesa.”
O departamento de Taiko, por exemplo, cresceu consideravelmente. “Antes contava com 40 a 50 integrantes, hoje reúne mais de 100 participantes. Além dos dois grupos ativos na Associação Nipo, há também um grupo de Taiko na Associação Okinawa e outros surgindo no interior do estado.”
Oikawa fala com orgulho sobre como a história de sua família se confunde com a da própria associação
Como parte das celebrações do Dia da Imigração Japonesa, que ocorre nesta quarta-feira (18), a associação promoverá um culto ecumênico com a participação de representantes das seis igrejas da comunidade japonesa, incluindo católicas, evangélicas e budistas.
“Esse local é considerado sagrado por nossa comunidade. Por isso, todas as autoridades japonesas que visitam Campo Grande — como o embaixador, o cônsul-geral e demais representantes oficiais — têm como primeiro compromisso uma visita a esse monumento”, explicou Oikawa, destacando o ritual tradicional de três reverências feito no local.
Durante a visita, a princesa Kako teve a oportunidade de conhecer o sobá campo-grandense, um dos pratos típicos locais herdados da imigração japonesa. “Ela gostou muito do sobá — tanto que expressou o desejo de conhecer mais sobre o prato. Achei muito interessante, especialmente porque ela faz parte do departamento feminino da Associação Okinawa, o Fujinkai, lá no Japão.”
A princesa também visitou a sala onde o sobá é preparado de forma artesanal. “Ela demonstrou grande interesse, já que tem experiência na produção de alimentos. Na verdade, ela já desenvolve esse trabalho há algum tempo e até mantém uma pequena indústria de macarrão para sobá, fornecendo para diversos restaurantes por lá.”
Integração e troca de experiências culturais - A atuação de Cláudio Oikawa vai além da comunidade japonesa. Ele também é diretor financeiro da Associação Cultural das Nações Amigas, que reúne sete etnias que contribuíram para a formação de Campo Grande: japonesa, libanesa, portuguesa, paraguaia, boliviana, italiana e espanhola.
“Realizamos juntos a Festa das Nações, que foi um grande sucesso e vem crescendo a cada edição. Para nós, é uma grande satisfação poder colaborar não só com a preservação da cultura japonesa, mas também contribuir com o fortalecimento das demais comunidades que ajudaram a construir a identidade de Campo Grande.”
O dirigente reforça a importância da união de esforços. “Nosso objetivo é compartilhar a estrutura e a experiência que temos com outras associações que, porventura, estejam enfrentando dificuldades, promovendo assim o crescimento coletivo de todas as etnias que fazem parte da história da nossa cidade.”
A Associação Esportiva e Cultural Nipo Brasileira está localizada na R. Antônio Maria Coelho, 1068. A unidade Campo é localizada na Av. Min. João Arinos, 140.
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