Clínica lança programa inédito para adolescentes autistas desenvolverem habilidades sociais

A Clínica Sensoriel Multiterapias, de Campo Grande, acaba de trazer para Mato Grosso do Sul um programa inovador voltado ao desenvolvimento social, emocional e comunicacional de adolescentes autistas: o Tea Teen. A iniciativa, inédita no estado, é direcionada a jovens com Transtorno do Espectro Autista (TEA) de nível 1 de suporte e será conduzida pela terapeuta ocupacional Lilianthea Lopes e pela psicóloga clínica Maura Gabriela, primeiras profissionais sul-mato-grossenses habilitadas na metodologia criada pela psicóloga cognitivo-comportamental e neuropsicóloga Wandersonia Medeiros.

Segundo Lilianthea, o programa nasceu a partir da observação clínica de Wandersonia. "Ela começou a aplicar estratégias em grupo com adolescentes e viu resultados surpreendentes: jovens mais confiantes, comunicativos e participativos. Isso não só mudou a vida deles, mas também das famílias", contou.

O Tea Teen se diferencia por ter início, meio e fim bem definidos. São dez encontros para os adolescentes e dois exclusivos para pais e responsáveis. "Cada sessão tem um protocolo estruturado de treinamento de habilidades sociais. É diferente das terapias convencionais, que muitas vezes não têm prazo para terminar", explicou Maura.

Lilianthea Lopes e Maura Gabriela lideram o Tea Teen, programa pioneiro em Mato Grosso do Sul para adolescentes com TEA

As atividades incluem dinâmicas em grupo, tarefas para casa e momentos de socialização, como o tradicional lanche ao final de cada encontro. "Esse momento é importante para eles aplicarem, de forma natural, o que aprendem nas sessões. Também é uma oportunidade para identificarmos e mediarmos dificuldades em tempo real", disse Lilianthea.

Para Maura, existe uma lacuna significativa no tratamento de adolescentes com TEA. "A maioria das terapias é voltada para crianças de dois a nove anos. Quando chegam à adolescência, eles enfrentam desafios mais complexos, como isolamento social, insegurança e dificuldade de entender as emoções dos outros", afirmou.

Lilianthea destacou que a abordagem com adolescentes é distinta daquela aplicada a crianças. "Na infância, a meta é desenvolver habilidades. Na adolescência, é preciso refiná-las. Além disso, essa fase envolve hormônios à flor da pele e novas questões, como sexualidade e proteção contra assédio", disse.

Um dos focos do Tea Teen é reduzir a ansiedade social, comum em pessoas com TEA. As profissionais utilizam modelagem de comportamento, treino de assertividade e atividades voltadas para reconhecimento de expressões faciais e emoções. "Eles aprendem a iniciar e manter conversas, identificar quando um assunto já não é interessante e comunicar sentimentos de forma respeitosa", explicou Maura.

Durante a entrevista, as especialistas também orientaram pais e responsáveis sobre sinais precoces do autismo. Entre eles, estão isolamento, falta de contato visual, uso inadequado de brinquedos, sensibilidade sensorial, seletividade alimentar e comportamentos repetitivos, como a ecolalia (repetição de palavras ou frases).

“Desde bebê, já é possível perceber a ausência de troca no olhar, ou o fato de a criança preferir brincar sozinha. Mais tarde, surgem dificuldades de reciprocidade na conversa e interesses restritos, como falar apenas sobre um único assunto”, disse Lilianthea.

Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento, ainda existe banalização do termo autismo. Maura alerta para os riscos dessa postura: "Não se trata de rotular ou minimizar. Comentários desinformados isolam ainda mais a pessoa. O papel dos pais é acolher e garantir um espaço seguro para que ela se expresse".

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