Basta uma dor de cabeça ou um resfriado para que muitas pessoas recorram diretamente à gaveta de medicamentos, sem receita e sem orientação. A prática, tão comum quanto perigosa, tem causado milhares de intoxicações e mortes todos os anos. A presidente do Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul (CRF/MS), Danielly Proença, aproveitou o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, celebrado no último dia 5, para alertar a população sobre os riscos desse comportamento e a importância do acompanhamento farmacêutico.
“Buscar sempre a orientação do profissional e, no caso, o profissional do medicamento é o farmacêutico. Ele está ali à disposição para sanar dúvidas em relação ao uso correto dos medicamentos, orientar qual o medicamento e o porquê. São pequenos questionamentos que trazem grandes benefícios”, afirmou Proença em entrevista ao Giro Estadual de Notícias nesta segunda-feira (12).
A campanha lançada pelo Conselho Federal de Farmácia quer conscientizar a população sobre os perigos do consumo de remédios sem orientação, uma prática comum no Brasil e que cresce especialmente durante mudanças climáticas, quando sintomas gripais levam muitos a recorrerem a medicamentos por conta própria.
Danielly lamentou que ainda exista, no Brasil, uma cultura de armazenar medicamentos em casa como se fossem itens de segurança. “A farmacinha doméstica cresceu nos últimos anos, e com ela a falsa sensação de proteção. Hoje encontramos desde analgésicos até corticoides guardados sem nenhum controle, o que é extremamente perigoso”, advertiu.
Danielly Proença destaca os perigos do consumo indiscriminado de remédios e reforça o papel fundamental do farmacêutico para a segurança do paciente
Segundo ela, muitas pessoas sequer conferem a validade dos produtos, utilizam sob indicação de terceiros ou confundem medicamentos apropriados para diferentes situações clínicas. Isso contribui para quadros de intoxicação e complicações graves, como insuficiência hepática ou renal.
Mesmo os chamados medicamentos isentos de prescrição (MIPs), como dipirona, paracetamol e ibuprofeno, são potencialmente perigosos se usados de forma inadequada. “Eles não exigem receita, mas isso não significa que sejam inofensivos. Tomar antigripais que contêm ácido acetilsalicílico durante um quadro de dengue, por exemplo, pode evoluir para uma dengue hemorrágica e colocar a vida do paciente em risco”, explicou a presidente.
Ela ainda destacou que o excesso de paracetamol pode causar sérios danos ao fígado. A dose máxima diária do medicamento é de quatro gramas. “Ao tomar um antigripal com 400 mg de paracetamol três vezes ao dia e ainda usar um analgésico como Tylenol de 750 mg fora do intervalo, a pessoa facilmente ultrapassa o limite diário, o que pode resultar em hepatotoxicidade”, ressaltou.
Outro ponto de atenção levantado por Danielly Proença é o uso desenfreado de corticoides e antibióticos. Esses medicamentos, quando mal administrados, afetam diretamente rins e fígado. “Todo medicamento, se usado além da dose e sem acompanhamento, pode comprometer órgãos como fígado e rins. Não se trata apenas de eficácia, mas de segurança”, explicou.
Ela enfatizou que medicamentos só devem ser utilizados sob orientação e jamais por indicação de amigos ou parentes. “Aquela receita da vovó ou aquele chazinho natural também podem ser perigosos. O chá de hibisco, por exemplo, é contraindicado para hipertensos. E o uso de ginkgo biloba em idosos sem controle profissional é um risco enorme”, completou.
A entrevista também abordou o risco de manter medicamentos vencidos ou parcialmente usados em casa. Em ações de drive-thru realizadas pelo CRF/MS, foram recolhidos mais de 120 quilos de medicamentos vencidos apenas neste ano. “Caixas com comprimidos sobrando, armazenados em locais impróprios como micro-ondas, banheiro ou ao alcance de crianças, representam uma bomba-relógio dentro de casa”, alertou.
Ela reforçou que a população pode descartar medicamentos vencidos em farmácias, unidades de saúde ou no próprio CRF/MS, localizado na Rodovia José Pinho, nº 66, em Campo Grande.
A popularização da inteligência artificial também foi abordada durante a entrevista. Danielly reconhece seu valor como ferramenta auxiliar, mas faz uma advertência. “Não podemos deixar que a IA ultrapasse os valores humanos. Cada paciente é único e o farmacêutico é o profissional capacitado para orientar de forma segura e personalizada”, afirmou.
Ela ressaltou que sintomas semelhantes podem ter causas e necessidades terapêuticas diferentes, e que somente um profissional de saúde pode avaliar o histórico e as particularidades de cada pessoa.
Para encerrar, a presidente do CRF/MS fez um apelo direto à população: “O uso racional é utilizar o medicamento certo, pelo tempo certo, no modo certo. Isso evita gastos desnecessários e protege vidas. O farmacêutico é o profissional da saúde mais próximo da população. Busquem sempre nossa orientação”, concluiu.
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