Por André Borges e Renata Borges* | 31 de dezembro de 2025 - 09h47

Representatividade feminina no TJMS

O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul alcançou um marco histórico ao reunir, pela primeira vez em 46 anos, seis magistradas atuando simultaneamente no segundo grau.

OPINIÃO DO LEITOR
O tema é analisado pelos advogados André Borges e Dra. Renata Borges, referências na advocacia criminal empresarial, que destacam a importância da diversidade, da técnica e da maturidade institucional para um Judiciário mais plural e equilibrado. - (Foto: Arquivo)

De férias com a família, ouvimos a música “Mulher de 40” do Roberto Carlos, que inicia doce e tranquila: “Sorriso bonito, olhar de quem sabe um pouco da vida...”.

Oferecendo uma metáfora sensível para a atual maturidade do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Pela primeira vez em 46 anos, a Corte alcança um marco histórico: seis magistradas atuam simultaneamente no segundo grau. São as desembargadoras Elizabete Anache, Elisabeth Baisch, Jaceguara Dantas e Sandra Artioli, acompanhadas das juízas convocadas Denize Dodero e Cíntia Letteriello.

Embora o cenário seja promissor e represente um marco histórico, os números ainda revelam um hiato de representatividade. Dos 37 cargos de julgadores do TJMS, apenas 16% são ocupados por mulheres. Esse panorama, contudo, começa a se transformar à luz da Constituição, que estabelece a igualdade de gênero como objetivo fundamental da República (art. 3º, IV).

Fortalecendo esse mandamento, o Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução 525/2023, marco da gestão da Ministra Rosa Weber, reconhecendo o desequilíbrio estatístico no Poder Judiciário: embora as mulheres representem 51% da população brasileira, ocupam apenas 38% dos cargos da magistratura, com uma redução acentuada no segundo grau, onde o índice cai para 21,2%.

Bonita e moderna essa Resolução, tendo como fundamento central a noção de que a sociedade democrática jamais poderá ignorar as capacidades, os saberes, a experiência e a criatividade das mulheres.

Criou-se ação afirmativa para aumentar o número de mulheres nos tribunais: por essa nova política de gênero, agora serão elaboradas duas listas tríplices nas promoções para os cargos de juízes de 2º grau; uma mista, com homens e mulheres, e outra só de mulheres. Medida a prevalecer até que seja atingido pelo menos 40% de juízas nos tribunais.

Observando a atuação das magistradas do TJMS – bastante conhecidas dos advogados em geral –, percebe-se um exercício jurisdicional que converge com o perfil da Ministra Rosa Weber: marcado pela discrição, técnica e produtividade, sem notícia do odioso ativismo judicial.

O que é ótimo, revelando exemplo a ser seguido por todo bom juiz de direito (regra lamentavelmente excepcionada por alguns Ministros do STF): falar somente nos autos do processo, não antecipar posições jurídicas e manter a imparcialidade, sem perder a humanidade.

Dados objetivos confirmam nossa constatação: todas essas seis magistradas estão com acervo reduzido de recursos nos gabinetes. Trabalham bastante, gerindo bem suas equipes de trabalho. São cordiais com os advogados e servidores em geral, sem criar barreiras desarrazoadas.

Essa presença feminina não é uma concessão estatística, mas a afirmação de que o Judiciário não pode prescindir da experiência e do saber das mulheres para construir uma justiça plural.

O "olhar de quem sabe da vida", da música, harmoniza-se com a experiência dos colegas homens em uma convivência que engrandece a Corte.

Afinal, como ensina Oprah Winfrey, o segredo da vida é que não há segredo: qualquer objetivo é alcançável por quem está disposto a trabalhar. No TJMS, elas estão trabalhando — e muito bem.

*Artigo de André Borges e Dra. Renata Borges — referências na advocacia criminal empresarial, que unem experiência e visão estratégica na condução de casos de alta complexidade no cenário jurídico brasileiro.