Representatividade feminina no TJMS
O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul alcançou um marco histórico ao reunir, pela primeira vez em 46 anos, seis magistradas atuando simultaneamente no segundo grau.
OPINIÃO DO LEITORDe férias com a família, ouvimos a música “Mulher de 40” do Roberto Carlos, que inicia doce e tranquila: “Sorriso bonito, olhar de quem sabe um pouco da vida...”.
Oferecendo uma metáfora sensível para a atual maturidade do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Pela primeira vez em 46 anos, a Corte alcança um marco histórico: seis magistradas atuam simultaneamente no segundo grau. São as desembargadoras Elizabete Anache, Elisabeth Baisch, Jaceguara Dantas e Sandra Artioli, acompanhadas das juízas convocadas Denize Dodero e Cíntia Letteriello.
Embora o cenário seja promissor e represente um marco histórico, os números ainda revelam um hiato de representatividade. Dos 37 cargos de julgadores do TJMS, apenas 16% são ocupados por mulheres. Esse panorama, contudo, começa a se transformar à luz da Constituição, que estabelece a igualdade de gênero como objetivo fundamental da República (art. 3º, IV).
Fortalecendo esse mandamento, o Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução 525/2023, marco da gestão da Ministra Rosa Weber, reconhecendo o desequilíbrio estatístico no Poder Judiciário: embora as mulheres representem 51% da população brasileira, ocupam apenas 38% dos cargos da magistratura, com uma redução acentuada no segundo grau, onde o índice cai para 21,2%.
Bonita e moderna essa Resolução, tendo como fundamento central a noção de que a sociedade democrática jamais poderá ignorar as capacidades, os saberes, a experiência e a criatividade das mulheres.
Criou-se ação afirmativa para aumentar o número de mulheres nos tribunais: por essa nova política de gênero, agora serão elaboradas duas listas tríplices nas promoções para os cargos de juízes de 2º grau; uma mista, com homens e mulheres, e outra só de mulheres. Medida a prevalecer até que seja atingido pelo menos 40% de juízas nos tribunais.
Observando a atuação das magistradas do TJMS – bastante conhecidas dos advogados em geral –, percebe-se um exercício jurisdicional que converge com o perfil da Ministra Rosa Weber: marcado pela discrição, técnica e produtividade, sem notícia do odioso ativismo judicial.
O que é ótimo, revelando exemplo a ser seguido por todo bom juiz de direito (regra lamentavelmente excepcionada por alguns Ministros do STF): falar somente nos autos do processo, não antecipar posições jurídicas e manter a imparcialidade, sem perder a humanidade.
Dados objetivos confirmam nossa constatação: todas essas seis magistradas estão com acervo reduzido de recursos nos gabinetes. Trabalham bastante, gerindo bem suas equipes de trabalho. São cordiais com os advogados e servidores em geral, sem criar barreiras desarrazoadas.
Essa presença feminina não é uma concessão estatística, mas a afirmação de que o Judiciário não pode prescindir da experiência e do saber das mulheres para construir uma justiça plural.
O "olhar de quem sabe da vida", da música, harmoniza-se com a experiência dos colegas homens em uma convivência que engrandece a Corte.
Afinal, como ensina Oprah Winfrey, o segredo da vida é que não há segredo: qualquer objetivo é alcançável por quem está disposto a trabalhar. No TJMS, elas estão trabalhando — e muito bem.
*Artigo de André Borges e Dra. Renata Borges — referências na advocacia criminal empresarial, que unem experiência e visão estratégica na condução de casos de alta complexidade no cenário jurídico brasileiro.