Dólar cai abaixo de R$ 5,50 no fim de dezembro com ajuste técnico e real mais forte
Moeda recua 1,43% no dia, em sessão de baixa liquidez e cenário externo favorável a emergentes
ECONOMIAApós dois pregões consecutivos de alta, o dólar encerrou a sessão desta terça-feira (30) em queda firme e voltou a operar abaixo do patamar de R$ 5,50, algo que não ocorria desde meados de dezembro. A desvalorização da moeda americana foi influenciada por fatores técnicos típicos de fim de mês e de ano, além de um ambiente externo mais favorável às moedas de países emergentes.
Com mínima de R$ 5,4840 ao longo da tarde, o dólar à vista terminou o dia cotado a R$ 5,4890, queda de 1,43%. Esse foi o menor valor de fechamento desde 16 de dezembro, quando a moeda encerrou o pregão a R$ 5,4630.
Operadores apontam que a liquidez reduzida, comum no período que antecede o feriado de Ano Novo, contribuiu para distorções no mercado. Diferentemente dos dias anteriores, não houve forte demanda por dólar à vista, quando foram identificados movimentos de remessas de lucros e dividendos ao exterior. Com isso, a pressão sazonal negativa sobre o real perdeu força.
Outro fator relevante foi a disputa entre tesourarias pela formação da taxa Ptax de fim de mês, referência usada para liquidação de contratos e balanços. Segundo analistas, instituições que estavam “vendidas” em dólar intensificaram operações para reduzir a taxa, ampliando a queda da moeda americana.
“A liquidez hoje foi bem reduzida com a proximidade do feriado de fim de ano, o que sempre provoca distorções. Vimos uma movimentação maior de tesourarias vendidas em dólar para tentar reduzir a taxa Ptax do mês, o que acabou levando a uma queda maior do câmbio”, explica o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.
Apesar do recuo desta terça-feira, o dólar encerra dezembro com valorização de 2,89%. O movimento foi atribuído, ao longo do mês, ao fluxo cambial negativo e ao aumento dos prêmios de risco, após o anúncio da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República, no início de dezembro.
No acumulado de 2025, no entanto, o dólar à vista fechou com desvalorização de 11,18%, depois de ter avançado 27,34% em 2024, ano marcado pela maior intervenção da história do Banco Central no mercado de câmbio. A apreciação do real ao longo deste ano foi favorecida pelo enfraquecimento global do dólar e pela atratividade das operações de carry trade, impulsionadas pela taxa Selic, que chegou a 15% em junho.
Mesmo assim, com as perdas registradas em dezembro, o real terminou 2025 com desempenho inferior ao de outras moedas emergentes, como os pesos mexicano e colombiano.
Velloni observa que os dados divulgados nesta terça-feira reforçam a leitura de uma economia ainda aquecida. Pela manhã, o IBGE informou que a taxa de desemprego medida pela Pnad Contínua caiu de 5,4% no trimestre encerrado em outubro para 5,2% em novembro, o menor nível da série histórica iniciada em 2012. Já à tarde, o Ministério do Trabalho e Emprego anunciou a criação líquida de 85.864 vagas formais em novembro, segundo o Caged, número acima da mediana das projeções do mercado.
Para o economista, esse cenário aumenta as chances de que o Comitê de Política Monetária (Copom) inicie um ciclo de cortes na Selic apenas em março, e de forma gradual. “A perspectiva é de que vamos ter um diferencial de juros ainda muito atraente ao longo do primeiro semestre, o que pode trazer fluxo de curto prazo para o Brasil”, afirma.
Ele pondera, porém, que o quadro fiscal e o ambiente político devem pressionar o real em 2026. “A questão fiscal ainda está indefinida, vamos terminar o ano com déficit primário e a perspectiva é sempre de aumento de gastos em ano eleitoral”, diz.
No cenário internacional, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes, operou em leve alta ao longo do dia e avançava cerca de 0,20% no fim da tarde, aos 98,240 pontos. Apesar disso, o indicador encerra dezembro com queda superior a 1% e acumula perdas em torno de 9,5% em 2025.