Luciana Dyniewicz | 30 de dezembro de 2025 - 12h25

Após arquivamento, pedidos para investigar Moraes por caso Master avançam

Mesmo com recusa da PGR em abrir inquérito, vereador e deputado acionam PGR e CNJ para apurar ligações de Moraes com Banco Central e contrato ligado ao Banco Master

CASO MASTER
O procurador-geral da República, Paulo Gonet - (Foto: Lula Marques/ABrasil)

Mesmo após o arquivamento de um pedido de investigação pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, a pressão política para apurar a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no caso do Banco Master continua. O ministro nega qualquer irregularidade.

Na Procuradoria-Geral da República (PGR), o vereador de Curitiba Guilherme Kilter (Novo) protocolou uma nova representação para que a conduta de Moraes seja investigada. Paralelamente, no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o vice-líder da oposição na Câmara, deputado federal Ubiratan Sanderson (PL-RS), fez um pedido semelhante.

Os movimentos ganharam força após a divulgação, pela imprensa, de que Moraes teria conversado sobre o caso com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. De acordo com as reportagens, o ministro teria feito seis ligações em um único dia para tratar do tema. A imprensa também revelou que o escritório de advocacia da esposa de Moraes, Viviane Barci, mantinha um contrato de R$ 129 milhões com o Banco Master.

Para Paulo Gonet, porém, esses elementos não são suficientes, por enquanto, para abrir uma investigação formal. Ao arquivar o pedido, o procurador-geral avaliou que não há provas concretas de que Moraes tenha pressionado Galípolo sobre a fiscalização do banco. Moraes afirma que tratou com o presidente do BC apenas de questões ligadas à aplicação de sanções financeiras pelos Estados Unidos, e não de interesses privados da instituição.

A decisão marcou a primeira manifestação pública de Gonet sobre o caso. Ele chegou ao comando da PGR com apoio de ministros do STF, entre eles Moraes, com quem mantém boa interlocução. Mesmo assim, o arquivamento não encerrou a disputa política em torno do episódio.

No pedido apresentado à PGR, o vereador Guilherme Kilter sustenta que a sequência de ligações mostra a “intensidade da pressão” exercida pelo ministro sobre o Banco Central. Para ele, Moraes teria utilizado o cargo para “patrocinar interesse privado perante a administração pública”, o que, em tese, poderia configurar o crime de advocacia administrativa, previsto no Código Penal.

Kilter também aponta o que considera um “conflito de interesse evidente”: o fato de o Banco Master manter um contrato milionário com o escritório da esposa de Moraes. Na visão do vereador, isso colocaria em dúvida a imparcialidade do ministro ao tratar de temas ligados ao banco e poderia influenciar decisões da autoridade monetária.

Já o deputado Ubiratan Sanderson pediu ao CNJ a abertura de procedimento para obter informações, documentos, registros de comunicação, agendas e mensagens que possam esclarecer o caso. Ele também quer a oitiva de pessoas que possam colaborar com a investigação. Sanderson admite que não há provas de interferência de Moraes na Polícia Federal, responsável por investigar o Banco Master, mas argumenta que as reportagens indicam a necessidade de uma apuração “cautelosa e independente”.

Por enquanto, o cenário é de embate político e jurídico: de um lado, a posição da PGR, que não vê elementos suficientes para investigar formalmente o ministro; de outro, parlamentares e autoridades que pressionam por mais transparência sobre o papel de Moraes nas conversas com o Banco Central e na crise envolvendo o Banco Master.