Redação O Estado de S. Paulo | 30 de dezembro de 2025 - 14h15

Khaleda Zia morre aos 80 anos e encerra capítulo histórico da política de Bangladesh

Primeira mulher a chefiar o governo do país, ex-premiê foi protagonista de décadas de disputas políticas

POLÍTICA INTERNACIONAL
Khaleda Zia foi a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra de Bangladesh. - (Foto: Imagem ilustrativa/A Crítica)

Khaleda Zia, a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra de Bangladesh, morreu nesta terça-feira (30), aos 80 anos, em um hospital da capital Daca. A morte foi confirmada pelo Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP), legenda da qual ela era presidente, por meio de um comunicado divulgado nas redes sociais. A causa não foi informada.

Figura central da política bengalesa por mais de três décadas, Khaleda Zia chegou ao poder pela primeira vez em 1991, consolidando-se como uma das líderes mais influentes da história do país. Ela assumiu o governo após herdar o capital político do marido, Ziaur Rahman, militar considerado um dos responsáveis por restabelecer a democracia em Bangladesh, assassinado em um golpe militar em 1981.

Após o primeiro mandato, Khaleda Zia voltou ao cargo em 1996, mas permaneceu no posto por apenas 12 dias, em meio a uma crise política que levou à anulação do pleito e à convocação de novas eleições. O retorno definitivo ao poder ocorreu em 2001, quando liderou um governo de coalizão com o Jamaat-e-Islami, principal partido islâmico do país.

Durante sua trajetória, Zia ficou marcada por discursos nacionalistas, posicionamentos críticos à Índia e pela aproximação política com o Paquistão, o que gerou controvérsias tanto dentro quanto fora de Bangladesh. Sua liderança consolidou uma rivalidade histórica com Sheikh Hasina, filha do primeiro presidente do país e sua principal adversária política.

Sheikh Hasina sucedeu Khaleda Zia no comando do governo e permaneceu no poder por 15 anos, até ser deposta em agosto de 2024, após uma revolta popular. Na ocasião, Hasina deixou o país, encerrando um dos períodos mais longos de governo da história bengalesa.

Nos últimos anos, Khaleda Zia esteve afastada da vida política ativa devido a problemas de saúde e a processos judiciais. Em janeiro deste ano, no entanto, a Suprema Corte de Bangladesh anulou todas as condenações por corrupção impostas à ex-primeira-ministra. Segundo a própria Zia, as acusações tinham motivação política. A decisão abriu caminho para que ela pudesse disputar as eleições gerais previstas para fevereiro de 2026.

Com sua morte, Bangladesh perde uma personagem-chave de sua história recente, cuja trajetória foi marcada por conquistas inéditas, disputas intensas de poder e influência duradoura no cenário político nacional.