Cícero Cotrim e Renan Monteiro | 30 de dezembro de 2025 - 13h45

Déficit do governo central chega a R$ 20,1 bilhões em novembro e pressiona contas públicas

Queda nas receitas e menor entrada de dividendos explicam resultado negativo no mês, segundo Tesouro Nacional

ECONOMIA
Prédio do Ministério da Fazenda, onde são consolidados os dados das contas do governo central divulgados pelo Tesouro Nacional. - Foto: Divulgação/MF

As contas do governo central, que reúnem Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central — registraram déficit primário de R$ 20,172 bilhões em novembro. Os dados foram divulgados pelo Tesouro Nacional e mostram uma reversão importante em relação a outubro, quando o saldo havia sido positivo em R$ 36,527 bilhões.

O resultado de novembro também foi pior do que o observado no mesmo mês de 2024, quando o rombo foi de R$ 4,503 bilhões. Trata-se do maior déficit para novembro desde 2023, ano em que o saldo negativo chegou a R$ 41,707 bilhões, já considerando valores corrigidos pela inflação.

O desempenho do mês foi marcado por um descompasso entre despesas e receitas. Enquanto os gastos do governo central cresceram 4,0% em termos reais na comparação com novembro do ano passado, as receitas totais recuaram 2,6% no mesmo período, já descontada a inflação.

Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, o principal fator por trás do déficit foi a queda nas chamadas receitas não administradas, especialmente a redução no pagamento de dividendos e a menor arrecadação com concessões. Em novembro de 2024, por exemplo, houve ingresso relevante de recursos provenientes da concessão da Companhia Paranaense de Energia (Copel), o que ajudou a melhorar o resultado daquele ano.

Mesmo com o resultado negativo no mês, Ceron avalia que a arrecadação mantém uma trajetória de crescimento no acumulado do ano, ainda que em ritmo mais moderado diante do cenário econômico.

No período de janeiro a novembro de 2025, o governo central acumula déficit primário de R$ 83,823 bilhões. No mesmo intervalo de 2024, o saldo negativo era de R$ 67,030 bilhões, sem correção pelo IPCA. As despesas cresceram 3,4% acima da inflação no acumulado do ano, enquanto as receitas totais avançaram 3,3% em termos reais.

Já no recorte de 12 meses até novembro, o déficit primário soma R$ 57,4 bilhões, o equivalente a 0,47% do Produto Interno Bruto (PIB). As despesas obrigatórias representam 17,24% do PIB, enquanto as despesas discricionárias — como custeio e investimentos — correspondem a 1,58% do PIB.

Meta fiscal segue no radar - Apesar do resultado negativo acumulado, o Tesouro Nacional mantém a projeção de que o déficit primário de 2025, para fins de cumprimento da meta fiscal, fique em torno de R$ 20 bilhões. Esse valor está dentro do intervalo de tolerância estabelecido pelo arcabouço fiscal.

A meta do governo para este ano é alcançar resultado primário neutro, admitindo saldo negativo de até 0,25% do PIB. Para o cálculo oficial da meta, não entram despesas com créditos extraordinários nem parte dos gastos com precatórios, que são dívidas da União, Estados e municípios reconhecidas pela Justiça.

Ceron explicou que dezembro tende a apresentar resultado positivo, com expectativa de superávit próximo de R$ 20 bilhões. O último mês do ano costuma concentrar receitas adicionais, como o pagamento de dividendos e valores obtidos em leilões.

A previsão é que os dividendos somem cerca de R$ 13 bilhões em dezembro. Além disso, o governo espera arrecadar R$ 8,8 bilhões com o leilão de campos de petróleo, o que deve ajudar a amenizar o déficit acumulado ao longo do ano.

Crescimento do BPC preocupa despesas futuras - Do lado das despesas, o secretário voltou a comentar o avanço dos gastos com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda. Segundo Ceron, o crescimento dessa despesa está abaixo de 10% no momento, mas segue em patamar elevado.

Estimativas do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), anexadas ao Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026, indicam que o número de beneficiários do BPC deve mais que dobrar nas próximas décadas. A projeção aponta salto de 6,7 milhões de pessoas em 2026 para 14,1 milhões em 2060, um aumento de 111%.

O crescimento do programa social é visto por técnicos da área econômica como um dos principais desafios estruturais para o equilíbrio das contas públicas no longo prazo, especialmente diante do envelhecimento da população e da rigidez das despesas obrigatórias.