Déficit do governo central chega a R$ 20,1 bilhões em novembro e pressiona contas públicas
Queda nas receitas e menor entrada de dividendos explicam resultado negativo no mês, segundo Tesouro Nacional
ECONOMIAAs contas do governo central, que reúnem Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central — registraram déficit primário de R$ 20,172 bilhões em novembro. Os dados foram divulgados pelo Tesouro Nacional e mostram uma reversão importante em relação a outubro, quando o saldo havia sido positivo em R$ 36,527 bilhões.
O resultado de novembro também foi pior do que o observado no mesmo mês de 2024, quando o rombo foi de R$ 4,503 bilhões. Trata-se do maior déficit para novembro desde 2023, ano em que o saldo negativo chegou a R$ 41,707 bilhões, já considerando valores corrigidos pela inflação.
O desempenho do mês foi marcado por um descompasso entre despesas e receitas. Enquanto os gastos do governo central cresceram 4,0% em termos reais na comparação com novembro do ano passado, as receitas totais recuaram 2,6% no mesmo período, já descontada a inflação.
Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, o principal fator por trás do déficit foi a queda nas chamadas receitas não administradas, especialmente a redução no pagamento de dividendos e a menor arrecadação com concessões. Em novembro de 2024, por exemplo, houve ingresso relevante de recursos provenientes da concessão da Companhia Paranaense de Energia (Copel), o que ajudou a melhorar o resultado daquele ano.
Mesmo com o resultado negativo no mês, Ceron avalia que a arrecadação mantém uma trajetória de crescimento no acumulado do ano, ainda que em ritmo mais moderado diante do cenário econômico.
No período de janeiro a novembro de 2025, o governo central acumula déficit primário de R$ 83,823 bilhões. No mesmo intervalo de 2024, o saldo negativo era de R$ 67,030 bilhões, sem correção pelo IPCA. As despesas cresceram 3,4% acima da inflação no acumulado do ano, enquanto as receitas totais avançaram 3,3% em termos reais.
Já no recorte de 12 meses até novembro, o déficit primário soma R$ 57,4 bilhões, o equivalente a 0,47% do Produto Interno Bruto (PIB). As despesas obrigatórias representam 17,24% do PIB, enquanto as despesas discricionárias — como custeio e investimentos — correspondem a 1,58% do PIB.
Meta fiscal segue no radar - Apesar do resultado negativo acumulado, o Tesouro Nacional mantém a projeção de que o déficit primário de 2025, para fins de cumprimento da meta fiscal, fique em torno de R$ 20 bilhões. Esse valor está dentro do intervalo de tolerância estabelecido pelo arcabouço fiscal.
A meta do governo para este ano é alcançar resultado primário neutro, admitindo saldo negativo de até 0,25% do PIB. Para o cálculo oficial da meta, não entram despesas com créditos extraordinários nem parte dos gastos com precatórios, que são dívidas da União, Estados e municípios reconhecidas pela Justiça.
Ceron explicou que dezembro tende a apresentar resultado positivo, com expectativa de superávit próximo de R$ 20 bilhões. O último mês do ano costuma concentrar receitas adicionais, como o pagamento de dividendos e valores obtidos em leilões.
A previsão é que os dividendos somem cerca de R$ 13 bilhões em dezembro. Além disso, o governo espera arrecadar R$ 8,8 bilhões com o leilão de campos de petróleo, o que deve ajudar a amenizar o déficit acumulado ao longo do ano.
Crescimento do BPC preocupa despesas futuras - Do lado das despesas, o secretário voltou a comentar o avanço dos gastos com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda. Segundo Ceron, o crescimento dessa despesa está abaixo de 10% no momento, mas segue em patamar elevado.
Estimativas do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), anexadas ao Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026, indicam que o número de beneficiários do BPC deve mais que dobrar nas próximas décadas. A projeção aponta salto de 6,7 milhões de pessoas em 2026 para 14,1 milhões em 2060, um aumento de 111%.
O crescimento do programa social é visto por técnicos da área econômica como um dos principais desafios estruturais para o equilíbrio das contas públicas no longo prazo, especialmente diante do envelhecimento da população e da rigidez das despesas obrigatórias.