Redação O Estado de S. Paulo | 29 de dezembro de 2025 - 15h05

Rússia acusa Ucrânia de ataque com drones e ameaça rever negociações de paz

Kiev nega ofensiva contra residência de Putin e diz que Moscou prepara novos ataques

CONFLITO INTERNACIONAL
Kremlin, em Moscou, centro das decisões russas em meio à escalada de tensões com a Ucrânia. - Foto: Freepik

A Rússia acusou a Ucrânia nesta segunda-feira (29) de ter lançado 91 drones contra a residência do presidente Vladimir Putin, localizada na região de Novgorod, e afirmou que poderá revisar sua posição nas negociações para encerrar a guerra iniciada em 2022. Moscou classificou o episódio como um “ataque terrorista” e fez ameaças de retaliação.

A acusação foi feita pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, em publicação no Telegram. “O regime de Kiev lançou um ataque terrorista usando 91 drones contra a residência oficial do presidente Vladimir Putin”, afirmou. Segundo ele, o episódio terá impacto direto no andamento das tratativas diplomáticas. Lavrov também alertou para uma possível resposta militar russa.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, negou categoricamente as acusações e afirmou que a versão apresentada por Moscou é falsa. Durante conversa virtual com jornalistas, o líder ucraniano classificou as declarações de Lavrov como “mais uma mentira da Federação Russa”.

Segundo Zelenski, a acusação seria uma tentativa de justificar futuras ofensivas russas. “Eles estão simplesmente preparando o terreno para ataques, provavelmente contra a capital e possivelmente contra prédios do governo”, declarou.

A troca de acusações ocorre em um momento sensível das negociações, logo após um encontro entre Zelenski e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realizado no domingo (28), com o objetivo de avançar em um possível acordo de paz.

Após a reunião com Trump, Zelenski afirmou que os Estados Unidos ofereceram garantias de segurança por 15 anos à Ucrânia. O presidente ucraniano, no entanto, defendeu um prazo mais longo. “Eu realmente queria que as garantias fossem mais duradouras. Falamos em 30, 40 ou até 50 anos”, disse, acrescentando que Trump se comprometeu a analisar a possibilidade.

Zelenski também afirmou que a lei marcial só será suspensa após o fim da guerra e quando o país tiver garantias reais de segurança. “Sem garantias, não se pode considerar que a guerra tenha realmente terminado”, declarou.

Durante as negociações recentes, Kiev chegou a sinalizar que poderia abrir mão da candidatura à Otan, desde que recebesse proteção internacional contra futuras agressões russas.

Apesar do novo impasse, Trump afirmou que Rússia e Ucrânia estão “mais próximas do que nunca” de um acordo de paz, embora tenha reconhecido que as negociações seguem complexas e podem fracassar.

“Em algumas semanas, saberemos de uma forma ou de outra”, disse o presidente americano. “É uma negociação muito difícil, muito detalhada.”

Trump afirmou ainda acreditar que Putin deseja a paz, mesmo diante de novos ataques russos. O presidente americano também elogiou Zelenski, chamando-o de “corajoso”, e reconheceu que ambos os lados ainda divergem em pontos centrais, especialmente sobre território e garantias de segurança.

Após a reunião, Trump e Zelenski conversaram com líderes europeus, incluindo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, além dos chefes de governo da França, Alemanha, Reino Unido, Polônia e Finlândia.

O assessor de política externa do Kremlin, Yuri Ushakov, afirmou que Trump e Putin devem voltar a conversar em breve, mas ressaltou que uma cessação completa das hostilidades depende de uma “decisão política ousada” de Kiev, especialmente sobre o futuro da região de Donbas, no leste da Ucrânia.

Tanto Moscou quanto Kiev reconhecem que Donbas é o ponto mais sensível da negociação. Zelenski afirmou que estaria disposto a aceitar uma zona desmilitarizada monitorada por forças internacionais, desde que a Rússia também se retirasse. Putin, por sua vez, exige que áreas ocupadas, além da Crimeia, sejam reconhecidas como território russo — exigência rejeitada pela Ucrânia.

Zelenski afirmou que o esboço de um plano de paz com cerca de 20 pontos está 90% pronto, mas alertou que as próximas semanas devem ser intensas. Ele também confirmou conversas recentes com representantes americanos e reforçou que ainda há “questões delicadas” a serem resolvidas.

Enquanto isso, a acusação russa de um suposto ataque com drones amplia a tensão diplomática e lança novas incertezas sobre o futuro das negociações, em um conflito que já se arrasta há quase três anos e segue sem uma solução definitiva.