Redação O Estado de S. Paulo | 29 de dezembro de 2025 - 09h00

Trump teria deixado Bolsonaro de lado após condenação, avalia ex-embaixador dos EUA

Para John Feeley, presidente americano vê ex-presidente brasileiro como um 'perdedor' e perdeu interesse no País

INTERNACIONAL
Ex-embaixador dos EUA avalia que Trump perdeu interesse em Bolsonaro após condenação do ex-presidente. - (Foto: Reprodução)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria “descartado” o ex-presidente Jair Bolsonaro depois de passar a enxergá-lo como um “perdedor” no cenário político. A avaliação é do ex-embaixador americano John Feeley, em entrevista ao portal BBC News Brasil. Segundo ele, a condenação e a prisão de Bolsonaro fizeram com que Trump deixasse de se importar com a situação do aliado brasileiro.

Feeley foi embaixador dos Estados Unidos no Panamá e atualmente é diretor executivo do Centro para a Integridade da Mídia das Américas (CMIA). Ele deixou o governo americano em 2018, durante o primeiro mandato de Trump, e afirma que o republicano nunca teve um conhecimento aprofundado sobre a política brasileira.

“Posso quase garantir que ele não acorda todos os dias pensando no Brasil”, disse Feeley à BBC News Brasil. “E assim que Bolsonaro deixou de ser uma referência na política brasileira e o Estado de Direito e a Justiça democrática prevaleceram no Brasil, Donald Trump simplesmente o descartou.”

Na avaliação do ex-embaixador, o revés jurídico enfrentado por Bolsonaro foi determinante para a mudança de postura do presidente americano. “Se há algo que Donald Trump não tolera são perdedores”, afirmou. Para Feeley, a lógica pessoal e política de Trump é baseada na imagem de força e vitória, o que teria tornado Bolsonaro irrelevante após a condenação.

O diplomata também minimizou qualquer influência do atual secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, em eventuais ações de apoio a Bolsonaro. Segundo ele, Rubio não teria interesse significativo no Brasil. Feeley avalia que a principal tentativa de articulação junto a Trump partiu do ex-deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, por meio de lobby político.

Feeley comentou ainda a decisão de Trump de recuar na imposição de tarifas ao Brasil após a condenação de Bolsonaro. Para ele, o presidente americano não reconheceu o erro, comportamento que, segundo o ex-embaixador, marca toda a sua trajetória política e pessoal.

Na visão de Feeley, a suspensão das tarifas não foi fruto de negociações bem-sucedidas do governo brasileiro, mas sim reflexo do comportamento errático de Trump. “Lula teve sorte por Trump ter desistido das sanções”, avaliou.

O ex-embaixador defendeu uma postura cautelosa por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros líderes internacionais. “Eu encorajaria tanto Lula quanto praticamente qualquer líder a se manterem fora da órbita de Trump, na medida do possível, e a deixarem o sistema de nossos laços econômicos, culturais e sociais continuar funcionando até que os Estados Unidos retornem a um nível mais normal de comportamento internacional aceitável”, afirmou.

As declarações de Feeley reforçam a leitura de que a relação entre Trump e Bolsonaro, antes marcada por alinhamento ideológico, perdeu força à medida que o ex-presidente brasileiro deixou de exercer influência política interna.