Iury de Oliveira | 28 de dezembro de 2025 - 08h50

Decisão mantém Petrallás na presidência da federação e Cezário afastado

Juíza suspende anulação de assembleia e preserva efeitos do afastamento do ex-presidente da FFMS, que segue impedido de voltar ao comando da entidade

FUTEBOL MS
Francisco Cezário foi solto após decisão da Justiça - (Foto: Arquivo)

A presidência da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS) continua nas mãos de Estevão Petrallás. Em decisão judicial, a juíza Cíntia Xavier Letteriello suspendeu os efeitos da sentença que havia anulado a assembleia responsável pelo afastamento de Francisco Cezário do comando da federação. Na prática, nada muda no dia a dia da entidade: Petrallás segue como presidente e Cezário permanece fora do cargo.

Ao analisar o caso, a juíza entendeu que reverter, neste momento, a situação definida pela assembleia poderia gerar instabilidade administrativa na FFMS. A magistrada optou por suspender a decisão anterior, que havia anulado a reunião dos clubes realizada em outubro de 2024, justamente para evitar nova troca de comando antes da análise definitiva do processo.

Na decisão, Cíntia Xavier Letteriello destaca que a mudança de gestão, enquanto o caso ainda está em discussão, teria potencial para afetar o funcionamento da federação. Por isso, preferiu manter o cenário atual até que todas as questões levantadas pelas partes sejam julgadas em instância superior.

Com a suspensão, a anulação da assembleia deixa de produzir efeitos por enquanto. Ou seja, aquele ato judicial que derrubava a reunião dos clubes está, temporariamente, sem validade. O afastamento de Francisco Cezário, no entanto, continua em vigor.

Na prática, o comando da federação permanece com Petrallás, que já vinha exercendo a presidência. Não há mudança imediata em cargos, estrutura ou decisões administrativas da FFMS, que segue reconhecida pela CBF sob a atual gestão.

A assembleia que afastou Cezário foi realizada em outubro de 2024, em meio a denúncias de irregularidades na gestão da FFMS. Na ocasião, os clubes decidiram retirá-lo do comando da federação, o que abriu espaço para a intervenção e, depois, para a eleição de novo presidente.

Em novembro, porém, a Justiça anulou essa assembleia ao apontar problemas no procedimento adotado pelos clubes. A decisão não analisou o mérito das acusações contra o ex-presidente, concentrando-se apenas em aspectos formais da reunião, como regras e trâmites internos.

Mesmo naquele momento, a anulação não significou o retorno automático de Cezário à cadeira de presidente. A própria Justiça deixou claro que o afastamento continuava valendo por causa de medidas determinadas na esfera criminal.

Agora, com a nova decisão, a sentença que anulava a assembleia fica suspensa. A disputa jurídica em torno da validade dessa reunião permanece aberta, mas sem impacto imediato sobre quem comanda a federação. O tema seguirá sendo discutido até que o Tribunal dê a palavra final.

O afastamento de Francisco Cezário não se limita ao que foi decidido pelos clubes ou pela assembleia de 2024. Ele também é resultado de medidas tomadas em processo criminal.

Cezário foi preso em abril de 2024 durante a Operação Cartão Vermelho, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). A investigação apura o desvio de cerca de R$ 10 milhões da FFMS. Durante as buscas, os agentes encontraram R$ 800 mil em espécie na casa do ex-dirigente.

Esses elementos levaram à adoção de medidas cautelares que, na prática, impedem o retorno de Cezário ao comando da entidade. Mesmo que houvesse uma reviravolta na área cível, ele continuaria barrado por decisão da esfera criminal, que o impede de atuar como dirigente.

Por isso, a própria Justiça já havia registrado, em decisão anterior, que a eventual anulação da assembleia não bastaria para colocá-lo de volta na presidência. O afastamento está amparado por mais de uma frente jurídica, o que reforça a dificuldade de qualquer tentativa de retorno imediato.

A crise na federação abriu espaço para a intervenção da Confederação Brasileira de Futebol. Após a prisão de Cezário, a CBF nomeou Estevão Petrallás como interventor da FFMS, com a missão de conduzir a entidade em meio às investigações e à disputa política.

A presença de Petrallás à frente da federação foi o passo inicial para reorganizar a gestão e garantir o funcionamento das competições e das atividades ligadas ao futebol sul-mato-grossense. Com o avançar dos meses, o interventor se tornou candidato à presidência.

Em abril de 2025, Petrallás foi eleito presidente da FFMS para cumprir mandato até 2027. Desde então, a CBF reconhece a atual direção e mantém apoio formal ao comando exercido por ele.

A decisão da juíza Cíntia Xavier Letteriello, ao manter os efeitos que garantem a permanência de Petrallás na presidência, também dialoga com esse cenário: ela preserva a estabilidade institucional construída depois da intervenção, até que o Tribunal julgue de forma definitiva os questionamentos sobre a assembleia de 2024.

A defesa de Francisco Cezário informou que não pretende recorrer da decisão que suspendeu os efeitos da anulação da assembleia. Segundo o advogado Fábio Azato, qualquer tentativa de retorno ao cargo fica impedida até o julgamento final do processo, justamente em razão das restrições impostas na esfera criminal.

Dessa forma, a estratégia da defesa, neste momento, é aguardar a análise do caso pelo Tribunal. Será nessa etapa que os desembargadores vão reavaliar os argumentos das partes, tanto sobre a legalidade da assembleia de outubro de 2024 quanto sobre as demais decisões que impactam a situação de Cezário na federação.

O processo continua em curso, e o desfecho ainda depende da apreciação colegiada. Até lá, a federação segue sob comando de Estevão Petrallás, com a FFMS mantendo seu funcionamento regular e a CBF reconhecendo a atual gestão como legítima representante do futebol de Mato Grosso do Sul.

Enquanto isso, o ex-presidente permanece afastado, respondendo às investigações da Operação Cartão Vermelho e às ações judiciais que tratam do suposto desvio de recursos da entidade. A disputa pelo comando da federação, portanto, segue em aberto no campo jurídico, mas, no gramado administrativo, a bola continua com Petrallás.