Decisão mantém Petrallás na presidência da federação e Cezário afastado
Juíza suspende anulação de assembleia e preserva efeitos do afastamento do ex-presidente da FFMS, que segue impedido de voltar ao comando da entidade
FUTEBOL MSA presidência da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS) continua nas mãos de Estevão Petrallás. Em decisão judicial, a juíza Cíntia Xavier Letteriello suspendeu os efeitos da sentença que havia anulado a assembleia responsável pelo afastamento de Francisco Cezário do comando da federação. Na prática, nada muda no dia a dia da entidade: Petrallás segue como presidente e Cezário permanece fora do cargo.
Ao analisar o caso, a juíza entendeu que reverter, neste momento, a situação definida pela assembleia poderia gerar instabilidade administrativa na FFMS. A magistrada optou por suspender a decisão anterior, que havia anulado a reunião dos clubes realizada em outubro de 2024, justamente para evitar nova troca de comando antes da análise definitiva do processo.
Na decisão, Cíntia Xavier Letteriello destaca que a mudança de gestão, enquanto o caso ainda está em discussão, teria potencial para afetar o funcionamento da federação. Por isso, preferiu manter o cenário atual até que todas as questões levantadas pelas partes sejam julgadas em instância superior.
Com a suspensão, a anulação da assembleia deixa de produzir efeitos por enquanto. Ou seja, aquele ato judicial que derrubava a reunião dos clubes está, temporariamente, sem validade. O afastamento de Francisco Cezário, no entanto, continua em vigor.
Na prática, o comando da federação permanece com Petrallás, que já vinha exercendo a presidência. Não há mudança imediata em cargos, estrutura ou decisões administrativas da FFMS, que segue reconhecida pela CBF sob a atual gestão.
A assembleia que afastou Cezário foi realizada em outubro de 2024, em meio a denúncias de irregularidades na gestão da FFMS. Na ocasião, os clubes decidiram retirá-lo do comando da federação, o que abriu espaço para a intervenção e, depois, para a eleição de novo presidente.
Em novembro, porém, a Justiça anulou essa assembleia ao apontar problemas no procedimento adotado pelos clubes. A decisão não analisou o mérito das acusações contra o ex-presidente, concentrando-se apenas em aspectos formais da reunião, como regras e trâmites internos.
Mesmo naquele momento, a anulação não significou o retorno automático de Cezário à cadeira de presidente. A própria Justiça deixou claro que o afastamento continuava valendo por causa de medidas determinadas na esfera criminal.
Agora, com a nova decisão, a sentença que anulava a assembleia fica suspensa. A disputa jurídica em torno da validade dessa reunião permanece aberta, mas sem impacto imediato sobre quem comanda a federação. O tema seguirá sendo discutido até que o Tribunal dê a palavra final.
O afastamento de Francisco Cezário não se limita ao que foi decidido pelos clubes ou pela assembleia de 2024. Ele também é resultado de medidas tomadas em processo criminal.
Cezário foi preso em abril de 2024 durante a Operação Cartão Vermelho, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). A investigação apura o desvio de cerca de R$ 10 milhões da FFMS. Durante as buscas, os agentes encontraram R$ 800 mil em espécie na casa do ex-dirigente.
Esses elementos levaram à adoção de medidas cautelares que, na prática, impedem o retorno de Cezário ao comando da entidade. Mesmo que houvesse uma reviravolta na área cível, ele continuaria barrado por decisão da esfera criminal, que o impede de atuar como dirigente.
Por isso, a própria Justiça já havia registrado, em decisão anterior, que a eventual anulação da assembleia não bastaria para colocá-lo de volta na presidência. O afastamento está amparado por mais de uma frente jurídica, o que reforça a dificuldade de qualquer tentativa de retorno imediato.
A crise na federação abriu espaço para a intervenção da Confederação Brasileira de Futebol. Após a prisão de Cezário, a CBF nomeou Estevão Petrallás como interventor da FFMS, com a missão de conduzir a entidade em meio às investigações e à disputa política.
A presença de Petrallás à frente da federação foi o passo inicial para reorganizar a gestão e garantir o funcionamento das competições e das atividades ligadas ao futebol sul-mato-grossense. Com o avançar dos meses, o interventor se tornou candidato à presidência.
Em abril de 2025, Petrallás foi eleito presidente da FFMS para cumprir mandato até 2027. Desde então, a CBF reconhece a atual direção e mantém apoio formal ao comando exercido por ele.
A decisão da juíza Cíntia Xavier Letteriello, ao manter os efeitos que garantem a permanência de Petrallás na presidência, também dialoga com esse cenário: ela preserva a estabilidade institucional construída depois da intervenção, até que o Tribunal julgue de forma definitiva os questionamentos sobre a assembleia de 2024.
A defesa de Francisco Cezário informou que não pretende recorrer da decisão que suspendeu os efeitos da anulação da assembleia. Segundo o advogado Fábio Azato, qualquer tentativa de retorno ao cargo fica impedida até o julgamento final do processo, justamente em razão das restrições impostas na esfera criminal.
Dessa forma, a estratégia da defesa, neste momento, é aguardar a análise do caso pelo Tribunal. Será nessa etapa que os desembargadores vão reavaliar os argumentos das partes, tanto sobre a legalidade da assembleia de outubro de 2024 quanto sobre as demais decisões que impactam a situação de Cezário na federação.
O processo continua em curso, e o desfecho ainda depende da apreciação colegiada. Até lá, a federação segue sob comando de Estevão Petrallás, com a FFMS mantendo seu funcionamento regular e a CBF reconhecendo a atual gestão como legítima representante do futebol de Mato Grosso do Sul.
Enquanto isso, o ex-presidente permanece afastado, respondendo às investigações da Operação Cartão Vermelho e às ações judiciais que tratam do suposto desvio de recursos da entidade. A disputa pelo comando da federação, portanto, segue em aberto no campo jurídico, mas, no gramado administrativo, a bola continua com Petrallás.