Dólar fechou em alta apesar de leilões do BC em pregão de baixa liquidez
Venda de US$ 2 bilhões chegou a aliviar câmbio, mas moeda reagiu à tarde com queda do petróleo e fluxo externo
ECONOMIAO dólar encerrou a sexta-feira (26) em alta frente ao real, mesmo após a atuação do Banco Central, que vendeu US$ 2 bilhões em dois leilões de linha cambial (venda com compromisso de recompra). A intervenção chegou a levar a moeda americana a operar em viés de baixa no início do dia, mas o cenário de liquidez reduzida após o feriado de Natal fez o câmbio inverter o sinal ao longo da tarde.
Além do ambiente típico de fim de ano, o movimento de valorização do dólar também acompanhou a queda do petróleo no mercado internacional, fator que costuma pressionar moedas de países exportadores da commodity, como o Brasil. Segundo operadores, o volume de negócios permaneceu baixo durante boa parte do pregão, com leve aumento apenas no período da tarde.
O dólar oscilou entre a mínima de R$ 5,5208 e a máxima de R$ 5,5668, fechando em alta de 0,24%, cotado a R$ 5,5446. Na semana, a moeda acumulou avanço de 0,27% e, no mês, alta de 3,93%. No acumulado do ano, porém, registrou queda de 10,28%.
Na terça-feira (23), o dólar havia interrompido uma sequência de sete pregões consecutivos de alta. Ainda assim, o período recente foi marcado por forte saída de recursos do país. Dados divulgados pelo Banco Central mostraram que o Brasil registrou fluxo cambial negativo de US$ 6,472 bilhões na semana passada. Entre os dias 15 e 19 de dezembro, o canal financeiro teve saídas líquidas de US$ 8,085 bilhões.
De acordo com fontes do mercado, os envios de recursos ao exterior foram intensificados ao longo do ano em função da mudança na tributação sobre dividendos, o que elevou a pressão sobre o real. Para tentar amenizar esse movimento, o Banco Central intensificou sua atuação no mercado de câmbio.
Somente nos últimos dias, a autoridade monetária vendeu US$ 2 bilhões em dois leilões de linha na sexta-feira (19); US$ 500 milhões, de uma oferta total de US$ 2 bilhões, em leilão realizado na terça-feira (23); e outros US$ 2 bilhões em dois leilões de linha não atrelados à rolagem nesta sexta-feira (26).
Para Rodrigo Miotto, gerente de câmbio da Nippur Finance, o comportamento do dólar refletiu diretamente o baixo volume de negócios. “Os últimos dias mostraram um volume menor de operações, e qualquer movimento acabou contribuindo para altas ou quedas mais acentuadas”, avaliou. Segundo ele, o movimento sazonal de envio de lucros e dividendos ao exterior também pesou sobre o câmbio.
Miotto afirmou ainda que os leilões de linha do Banco Central não tiveram efeito expressivo sobre a taxa de câmbio quando comparados ao impacto do cenário externo e do ambiente político doméstico.
Nesse contexto, a Armor Capital destacou que o principal fato político da semana foi a divulgação de uma carta manuscrita do ex-presidente Jair Bolsonaro, na qual ele declarou apoio à pré-candidatura do filho, Flávio Bolsonaro, à Presidência da República em 2026. “Nesse cenário, o real apresentou desempenho inferior ao de seus pares”, avaliou a instituição.