Hacker usa alvarás falsos e detentos fogem de prisão em BH
Um preso por fraude em sistemas judiciais é apontado como coordenador da fuga de quatro detentos; três continuam foragidos em Minas Gerais
FUGAQuatro detentos fugiram do sistema prisional de Belo Horizonte (MG) no sábado, 20, após a utilização de habeas corpus e alvarás de soltura falsificados. A fraude explorou o Banco Nacional de Mandados de Prisão, sistema vinculado ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Até a noite de terça-feira, 23, apenas um dos fugitivos havia sido recapturado; outros três seguem foragidos.
Segundo as investigações, a ação teria sido coordenada por um hacker preso neste mês, suspeito de integrar uma organização criminosa especializada em fraudes eletrônicas contra sistemas judiciais. A fuga ocorreu no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Gameleira, em Belo Horizonte.
De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp), os presos foram liberados a partir de ordens de soltura inseridas de forma fraudulenta no Banco Nacional de Mandados de Prisão, que é consultado por órgãos estaduais para verificar decisões judiciais.
Com os dados falsos no sistema, a unidade prisional recebeu a informação de que havia decisões judiciais válidas autorizando a soltura dos detentos. A partir daí, o procedimento de saída foi realizado como se fosse uma liberação regular.
Após a constatação da fraude, a Sejusp informou que instaurou procedimentos internos para apurar como a liberação foi concretizada e quais servidores tiveram contato com as ordens de soltura. A secretaria também encaminhou o caso para investigação criminal.
Os quatro presos que deixaram o Ceresp Gameleira foram identificados pela polícia mineira como:
- Ricardo Lopes de Araújo
- Wanderson Henrique Lucena Salomão
- Nikolas Henrique de Paiva Silva
- Júnio Cezar Souza Silva
Desses, apenas Júnio Cezar Souza Silva já foi recapturado. Os demais seguem sendo procurados pelas forças de segurança.
Ainda conforme as apurações, Ricardo Lopes de Araújo, conhecido como “Dom”, é apontado como o cérebro da operação. Ele foi preso no início de dezembro e é considerado um hacker especializado em invadir ou manipular sistemas ligados ao Judiciário.
Araújo foi um dos nove presos em 10 de dezembro na operação “Veredicto Sombrio”, da Polícia Civil de Minas. O grupo é suspeito de integrar uma organização criminosa voltada à prática de fraudes eletrônicas contra sistemas judiciais, especialmente os vinculados ao CNJ.
Segundo as investigações, o esquema buscava:
- liberar valores financeiros bloqueados pela Justiça
- alterar dados de mandados de prisão
- modificar ou inserir alvarás de soltura
O uso desse tipo de fraude para viabilizar a fuga do Ceresp Gameleira reforça a linha de investigação de que o grupo não atuava apenas em fraudes patrimoniais, mas também na manipulação de informações que impactam diretamente o sistema prisional.
Em nota, o Conselho Nacional de Justiça afirmou que não houve invasão ou violação estrutural aos sistemas sob sua administração. O órgão informou que as ocorrências sob apuração dizem respeito ao uso fraudulento de credenciais legítimas de acesso, obtidas de forma ilícita.
Isso significa que, em vez de uma quebra direta das barreiras de segurança do sistema, os suspeitos teriam usado login e senha de usuários autorizados – como se fossem essas pessoas – para inserir ou alterar informações.
O CNJ também disse que as ordens fraudulentas foram identificadas em menos de 24 horas e posteriormente canceladas, com a restauração dos mandados de prisão dos detentos. Os órgãos de segurança estaduais e federais foram acionados de forma imediata para tentar recapturar os foragidos.
Em comunicado, a Sejusp informou que a fuga do Ceresp Gameleira está sendo apurada administrativa e criminalmente. A pasta anunciou a abertura de procedimentos internos para verificar se houve falha operacional, negligência ou colaboração indevida de agentes públicos na liberação irregular.
Além disso, o caso deve servir de base para revisão de protocolos internos de conferência de ordens de soltura. A expectativa é de que novos filtros e checagens sejam adotados, especialmente em situações que envolvam alvarás recebidos por meio eletrônico.
Enquanto isso, a polícia mineira segue na busca pelos três fugitivos ainda em liberdade, considerados peças importantes para esclarecer a extensão da fraude e o funcionamento do esquema de manipulação do Banco Nacional de Mandados de Prisão.