Ibovespa sobe 1,46 e mantém 160 mil pontos com alívio político
Bolsa fecha no melhor nível em uma semana com giro fraco, rotação de portfólio e leitura mais amena sobre cenário eleitoral de 2026
ECONOMIAO Ibovespa encerrou o pregão desta terça-feira (23) em alta de 1,46%, aos 160.455,83 pontos, mantendo o patamar dos 160 mil pontos mesmo em um dia de baixa liquidez por causa da proximidade do feriado de Natal. O índice fechou na máxima do dia e no melhor nível desde 15 de dezembro, quando havia batido 162.481,74 pontos.
O movimento foi marcado por correção de preços de ações domésticas e aumento do apetite ao risco, em um rali mais espalhado pela Bolsa, apesar da perda de força de Petrobras e Vale, que vinham sendo os principais motores do índice.
Para Bruno Perri, economista-chefe e sócio-fundador da Forum Investimentos, a alta desta terça refletiu uma correção do que ele chama de “excesso de pessimismo” nos últimos dias, principalmente em torno das variáveis eleitorais.
Na avaliação do economista, o cancelamento da entrevista do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao portal Metrópoles foi interpretado como um sinal de incerteza sobre a consolidação da candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência em 2026, o que ajudou a aliviar parte da tensão política precificada nos ativos.
Segundo Perri, esse movimento contribuiu para melhorar o humor do mercado e abriu espaço para recomposição de posições em ações que haviam apanhado mais forte nos pregões anteriores.
O bom humor no pregão praticamente não foi abalado pela divulgação do IPCA-15 de dezembro, que veio em linha com as estimativas colhidas pelo Projeções Broadcast, embora tenha acelerado na comparação com novembro.
De acordo com o IBGE, o índice subiu 0,25% no mês, acumulando alta de 4,41% em 12 meses, abaixo do teto da meta de inflação de 4,5%. Os números reforçam a leitura de que um eventual início de ciclo de afrouxamento monetário deve ficar para a reunião de março do Banco Central.
Na prática, isso mantém a curva de juros relativamente estável e não tirou o apetite do investidor por renda variável, em um pregão com giro financeiro mais fraco, típico de véspera de feriado.
No exterior, as bolsas de Nova York encerraram o dia em alta, mas com ganhos menores que os vistos no mercado brasileiro, também em ambiente de liquidez reduzida na semana do Natal.
Por aqui, a alta do Ibovespa chamou atenção justamente por ter acontecido em um dia de performance mais fraca das duas gigantes do índice. As ações da Petrobras recuaram, influenciadas pela nova carteira teórica do Ibovespa, enquanto a Vale passou por um movimento de realização de lucros depois dos ganhos recentes.
Mesmo assim, a alta foi sustentada por um movimento mais amplo, com avanço de diversos papéis ligados à economia doméstica e setores que haviam ficado para trás nas últimas semanas.
Para Fábio Lemos, sócio da Fatorial Investimentos, o avanço do Ibovespa teve forte relação com o fluxo de investidores e uma rotação de portfólio depois de quedas recentes. Na prática, gestores e traders aproveitaram preços mais baixos para recompor posições em ações que tinham sido mais penalizadas.
Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença, acrescenta que o alívio político do dia e a correção técnica em setores pressionados nos pregões anteriores ajudaram a sustentar o índice, mesmo com volume financeiro mais fraco.
Segundo ele, o pregão combinou três elementos:
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baixa liquidez por causa do feriado
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correção de exageros recentes em algumas ações
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ambiente político um pouco menos carregado após o cancelamento da entrevista de Bolsonaro
O resultado foi um rali concentrado em papéis domésticos, que permitiu ao Ibovespa recuperar parte do terreno perdido e encerrar de volta na faixa dos 160 mil pontos.
Com o cenário local mais esvaziado pela combinação de recesso do Legislativo e do Judiciário e feriado de Natal, a atenção dos investidores se volta, no curtíssimo prazo, para o exterior.
O dado mais aguardado é o número de pedidos semanais de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, que será divulgado amanhã, às 10h30, pelo Departamento do Trabalho. O indicador pode mexer com as expectativas em torno da política de juros do Federal Reserve e influenciar o apetite global por risco – o que costuma se refletir em moedas e bolsas de países emergentes, como o Brasil.
No horizonte um pouco mais longo, analistas seguem monitorando os desdobramentos do cenário eleitoral brasileiro para 2026 e a escolha do próximo presidente do Fed, que substituirá Jerome Powell. Esses fatores devem entrar de vez no radar do mercado no início do ano que vem e podem trazer novos ciclos de volatilidade para o Ibovespa.
Por enquanto, a sessão desta terça fica marcada como um dia de trégua: correção de pessimismo, Bolsa em alta ampla, dólar em queda e investidores aproveitando a janela antes do feriado para ajustar apostas.