Gabriela Jucá | 23 de dezembro de 2025 - 18h45

Dólar cai após leilão do BC mas segue acumulando alta no mês

Moeda recua para R$ 5,53 depois de sete pregões de alta, em dia marcado por atuação do BC, dados de inflação e cenário político

ECONOMIA
Após sete altas seguidas, dólar recua para R$ 5,53 com leilão de linha do BC e ambiente político mais calmo. - (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Depois de sete pregões seguidos de alta, o dólar perdeu força nesta terça-feira (23) e fechou em queda frente ao real, em um movimento puxado pela atuação do Banco Central e por um dia de menor tensão no cenário político doméstico. A moeda americana encerrou cotada a R$ 5,5314, recuo de 0,95%, próxima da mínima do dia (R$ 5,5304), após ter batido máxima de R$ 5,5975.

O alívio veio depois de dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) realizados pelo BC. De uma oferta total de US$ 2 bilhões, a autoridade monetária vendeu US$ 500 milhões, injetando liquidez num mercado que costuma ficar mais vazio na semana do Natal. A operação não estava ligada à rolagem de vencimentos, o que reforçou a leitura de atuação pontual para conter a pressão de curto prazo.

O dólar futuro para janeiro também recuou e fechou em queda de 1,21%, a R$ 5,5300. Mesmo com o respiro de hoje, a moeda acumula valorização de 0,03% na semana e de 3,69% em dezembro, mas ainda registra perda de 10,50% no ano.

Na véspera, o câmbio havia fechado a R$ 5,5843 e chegou a tocar R$ 5,6072, maior nível em cinco meses. Remessas de lucros e dividendos ao exterior e um posicionamento mais defensivo dos investidores explicaram parte da escalada, que motivou os leilões de linha do BC para segurar uma alta ainda mais forte.

No mercado internacional, o dólar também teve um dia mais fraco. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis divisas fortes, recuou 0,34%, para 97,948 pontos, após atingir mínima de 97,852 pontos.

Mesmo assim, operadores avaliam que o fator externo teve peso menor no comportamento do câmbio por aqui. Para o head da mesa de câmbio e internacional da Mirae Asset Brasil, Jonathan Woo, o destaque foi a forma como o BC atuou.

Segundo ele, o fato de o Banco Central ter utilizado apenas parte da oferta nos leilões mostra conforto com o nível atual de reservas e com a dinâmica do mercado. “Talvez o mercado tenha esperado uma posição um pouco mais direta para tirar a pressão do câmbio”, afirmou. “O que deixou claro é que o BC estava confortável com a venda de US$ 500 milhões.”

Nos Estados Unidos, o Departamento de Comércio divulgou o PIB do terceiro trimestre, que avançou 4,3% em termos anualizados, acima do esperado pelo mercado. Os dados reforçam a leitura de uma economia americana ainda aquecida, mas não foram suficientes para provocar uma disparada do dólar lá fora.

No Brasil, a agenda trouxe o IPCA-15 de dezembro, considerado uma prévia da inflação oficial. O índice subiu 0,25% no mês e acumula alta de 4,41% em 12 meses, abaixo do teto da meta de 4,5% e em linha com as projeções dos analistas.

Para Woo, o resultado da inflação ajudou a manter o câmbio sob controle, mas não explica sozinho o recuo da moeda. “A prévia da inflação brasileira também não foi o suficiente para impulsionar uma queda mais expressiva do dólar”, avaliou.

Um fator interno extra acabou pesando na parte da tarde: o cancelamento da entrevista do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao portal Metrópoles.

Segundo Woo, havia receio de que o ex-presidente usasse o espaço para dar um apoio mais explícito à eventual candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência, o que poderia aumentar a percepção de ruído político e pressionar o câmbio.

“O Bolsonaro ter cancelado a entrevista foi positivo porque existia uma preocupação em, eventualmente, o ex-presidente demonstrar um apoio mais explícito à candidatura do Flávio Bolsonaro, que ainda não é um nome muito forte”, observou. Diante do cancelamento, investidores que estavam mais defensivos reduziram parte das apostas em uma piora adicional do dólar no curto prazo.

Com o Legislativo e o Judiciário em recesso e o mercado funcionando em ritmo mais fraco por causa do feriado de Natal, a expectativa é que o câmbio siga reagindo mais a dados pontuais e notícias específicas do que a grandes decisões políticas nos próximos dias.

No curto prazo, o foco se volta para os pedidos semanais de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, que serão divulgados amanhã, às 10h30, pelo Departamento do Trabalho, e podem influenciar o apetite global por risco.

Para 2026, analistas já monitoram possíveis movimentos políticos no Brasil, como definições sobre uma eventual candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência, e mudanças no comando do Federal Reserve, com a escolha do substituto de Jerome Powell. Essas variáveis devem entrar no radar dos investidores e contribuir para a formação das expectativas em relação ao câmbio no ano que vem.

Por ora, o recuo do dólar nesta terça-feira é visto mais como ajuste técnico após forte sequência de alta, reforçado pela atuação calibrada do BC, do que como mudança estrutural de tendência.