Gabriel de Sousa e Victor Ohana | 23 de dezembro de 2025 - 13h30

Lula critica clima de ódio na política e defende um Brasil menos dominado por algoritmos

Presidente fez as declarações durante cerimônia no Planalto que reconheceu a cultura gospel como manifestação cultural nacional

POLÍTICA
Lula durante solenidade no Planalto em que assinou decreto de reconhecimento da cultura gospel como manifestação cultural nacional - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou o que definiu como um período marcado pelo ódio na política brasileira e afirmou que o País precisa ser “menos algoritmizado”. A declaração foi feita nesta terça-feira, 23, durante solenidade no Palácio do Planalto para a assinatura de um decreto que reconhece, valoriza e promove a cultura gospel como manifestação cultural nacional.

Ao discursar no evento, Lula relacionou o reconhecimento oficial da cultura gospel à necessidade de diálogo, respeito e reconstrução de valores na sociedade brasileira. Segundo o presidente, a iniciativa vai além da música religiosa e representa uma tentativa de aproximação entre diferentes visões de mundo.

“Que este ato de reconhecimento fortaleça os artistas, os músicos, os corais, os compositores, os fiéis e todos aqueles que, com talento e fé, ajudam a construir pontes de diálogo, paz e compreensão no nosso País. Que possamos seguir cantando, cada um à sua maneira, mas sempre com respeito, amor, compromisso com um Brasil mais justo, mais humano, mais fraterno, e um País menos algoritmizado”, afirmou.

Em outro momento do discurso, Lula voltou a criticar a influência das redes sociais e dos sistemas automatizados de distribuição de conteúdo sobre o comportamento social e político. Ele disse que pretende travar uma batalha pessoal contra o que considera uma perda de valores humanos em meio ao avanço da tecnologia.

“Uma das lutas que eu pretendo fazer neste momento histórico da minha vida, com 80 anos, é tentar reeducar o ser humano a não perder o que ele tem de essencial, que é o humanismo. Não temos o direito de sermos dominados pelos algoritmos”, declarou o presidente.

Lula também falou sobre sua trajetória pessoal e política, destacando o papel da fé ao longo da vida. Segundo ele, o momento vivido no Planalto tem um significado especial. “Este dia de hoje é um dia gratificante para mim. Eu digo sempre que, se tem alguém que tem que agradecer todo santo dia a Deus, sou eu. Porque, na minha vida, aconteceu quase tudo que não estava previsto acontecer”, disse.

O presidente aproveitou o discurso para comentar o ambiente político atual e demonstrou preocupação com o nível de hostilidade nos debates públicos. De acordo com Lula, o cenário atual é diferente de outros períodos em que esteve à frente do Executivo ou disputou eleições.

“Eu já fui presidente outras vezes. Já disputei muitas eleições. Nunca vivi um período de ódio que está estabelecido na política brasileira. E a quantidade de leviandades e mentiras que são jogadas todo santo dia, sem nenhum compromisso com a verdade”, afirmou, ao dizer que o País se aproxima do que chamou de “hora da verdade”.

O decreto assinado estabelece que a cultura gospel passa a ser compreendida como um conjunto de expressões artísticas, culturais e sociais vinculadas à manifestação da fé no Brasil. O texto prevê ações de valorização, promoção e proteção da cultura gospel no âmbito das políticas públicas de cultura, reconhecendo sua relevância histórica e social.

A cerimônia reuniu autoridades e representantes do meio evangélico. Estiveram presentes o advogado-geral da União, Jorge Messias, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) e o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ). Também participaram líderes religiosos e representantes de diferentes segmentos da igreja evangélica, além de apresentações artísticas durante o evento.