Maria Edite Vendas | 23 de dezembro de 2025 - 07h30

Governo investe em grêmios estudantis para prevenir violência e fortalecer cidadania nas escolas

Repasse contempla 341 grêmios em Mato Grosso do Sul e incentiva protagonismo juvenil na cultura de paz

EDUCAÇÃO
Apoio financeiro fortalece ações dos grêmios estudantis na prevenção da violência e promoção da cidadania. - (Foto:Paula Maciulevicius)

Com foco na valorização da vida, na prevenção da violência e no fortalecimento da cidadania desde a escola, o Governo de Mato Grosso do Sul destinou R$ 500 para cada um dos 341 Grêmios Estudantis da Rede Estadual de Ensino. A iniciativa, coordenada pela Secretaria de Estado da Cidadania, por meio da Subsecretaria de Políticas Públicas para Juventude, alcança os 79 municípios do Estado e reforça o protagonismo juvenil como ferramenta de transformação social.

O recurso tem como finalidade subsidiar ações desenvolvidas pelos próprios estudantes, voltadas principalmente à prevenção da violência contra a mulher, à promoção de uma cultura de paz e à construção de ambientes escolares mais seguros, participativos e acolhedores. Além do apoio financeiro, a política pública reconhece o Grêmio Estudantil como espaço legítimo de mobilização social, participação política e formação cidadã.

Para o subsecretário de Políticas Públicas para Juventude, Jessé Cruz, os grêmios vivem um processo de fortalecimento e ressignificação no Estado. “Desde 2024, os grêmios vêm passando por um grande movimento, que é trazê-los para o debate, para a participação social, cidadã e política. Hoje, o Grêmio já é relevante não só no âmbito escolar, mas também no contexto da cidadania de forma geral”, afirmou.

A iniciativa é desenvolvida de forma integrada com a Secretaria de Estado de Educação (SED). Segundo o coordenador de Gestão Escolar da pasta, Adalberto Nascimento, essa articulação ampliou o alcance das ações. “Mais de 97% das nossas escolas contam com Grêmios Estudantis ativos, e a formação conjunta com a Secretaria de Estado da Cidadania e a Subsecretaria da Juventude foi fundamental, porque traz um olhar da juventude para ser trabalhado com os próprios jovens”, explicou.

O repasse financeiro integrou a trilha formativa ‘Juventude por Elas e por Eles’, que envolveu estudantes gremistas e professores de práticas pedagógicas (PCPIs). A formação foi estruturada em três eixos: o Grêmio como espaço de transformação e marcos legais; a construção de ambientes de respeito e equidade; e a elaboração de propostas e ações escolares. Ao final, os participantes receberam certificação de 40 horas, emitida pela SED em parceria com a Subsecretaria da Juventude.

Início da trilha formativa, em agosto deste ano, uma das ações do Protege. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

Como resultado prático, os grêmios desenvolveram teatros, palestras, rodas de conversa, debates e produções audiovisuais, sempre com foco na valorização da vida e na prevenção da violência contra a mulher. “Essa temática foi pensada porque Mato Grosso do Sul enfrenta altos índices de violência contra as mulheres. A proposta foi fazer com que os estudantes não apenas discutissem, mas ajudassem a disseminar uma nova cultura”, ressaltou Adalberto.

A ação também conta com a atuação da Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres. Para a subsecretária Manuela Nicodemos Bailosa, o projeto representa uma inovação alinhada aos compromissos do Estado. “Esse projeto está no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Acreditamos que a prevenção da violência passa por práticas inovadoras e intersetoriais”, afirmou.

Segundo Manuela, a trilha formativa possibilita que adolescentes reflitam sobre relações afetivas, familiares e sociais. “Quando esses jovens percebem que controle, falta de respeito ou violência não são naturais, eles passam a questionar situações antes invisibilizadas. Existem vários tipos de violência, inclusive aquelas que começam de forma sutil”, destacou.

Para ela, investir na juventude é investir em mudança estrutural. “Não podemos tolerar que, a cada seis horas, uma mulher morra por querer ser livre. Avançamos no atendimento, mas a prevenção é a principal ferramenta. É preciso plantar agora para colher gerações que saibam se relacionar com respeito”, afirmou.

Na Escola Estadual Weimar Torres, no distrito de Guaçulândia, em Glória de Dourados, a política pública ganhou forma no projeto ‘Mulheres do Campo: respeito, força e conquistas’, desenvolvido pelo Grêmio Estudantil Panthers, sob orientação do professor João Ricardo Chiodi. A iniciativa resultou na produção de um documentário sobre a realidade das mulheres rurais da comunidade.

A diretora da escola, Eliane Milani, destacou o envolvimento de estudantes entre 13 e 17 anos em todas as etapas. “Eles optaram por entrevistar mulheres da zona rural para mostrar que essas mulheres também têm espaço dentro da sociedade. O objetivo foi valorizar a mulher como cidadã participativa e consciente da sua importância”, afirmou.

Os R$ 500 repassados foram utilizados para aquisição de materiais de papelaria, banners e dispositivos de armazenamento, viabilizando a produção e divulgação do documentário. “Foi muito gratificante ver o envolvimento dos alunos. Esperamos ampliar as iniciativas nos próximos anos”, completou a diretora.

Em Campo Grande, a estudante Isla Ferreira, de 16 anos, integrante do Grêmio da Escola Estadual Prof. Silvio Oliveira dos Santos, relata que as ações partiram do desejo de conscientizar meninas e meninos. “A gente busca fazer esses trabalhos para conscientizar as mulheres, mas também os meninos”, contou.

Estudante, Isla representa em camisetas o sangue dos feminicídios em MS. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

Entre as iniciativas, o grupo produziu vídeos e camisetas com frases que expõem microviolências muitas vezes naturalizadas. “Escolhemos frases que doem na gente, como mulher. A marca das mãos representa o sangue que elas acabam sofrendo quando são agredidas. É para tocar as pessoas”, explicou.

Na Escola Silvio Oliveira, vídeo trouxe à tona frases que são micro violências e, por vezes, passam despercebidas. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

Para Isla, falar sobre o tema desde cedo é essencial. “Se a gente não conscientizar, as mulheres vão continuar aceitando isso. Conscientizando, o medo diminui e elas criam coragem para buscar ajuda”, refletiu.