Agência Brasil | 22 de dezembro de 2025 - 19h00

Gleisi atribui alta da dívida pública aos juros e critica manutenção da Selic em 15%

Ministra diz que taxa básica suga recursos do Orçamento e compromete investimentos e serviços públicos

POLÍTICA
Gleisi Hoffmann criticou a taxa Selic e afirmou que os juros elevados são o principal fator de crescimento da dívida pública. - (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou nesta segunda-feira (22) que a principal responsável pelo aumento da dívida pública brasileira é a taxa básica de juros, a Selic, e não o crescimento das despesas do governo. Atualmente fixada em 15% ao ano, a Selic está no maior patamar desde 2006, quando atingiu 15,25%.

Em publicação nas redes sociais, a ministra criticou o nível elevado dos juros e afirmou que a Selic “suga” recursos do Orçamento da União, reduzindo a capacidade do governo de investir e de manter políticas públicas. Segundo Gleisi, o alto custo da dívida compromete a prestação de serviços essenciais, os programas sociais e os investimentos voltados ao desenvolvimento do país.

A ministra também contestou análises que atribuem o crescimento da dívida ao aumento das despesas públicas, sem citar fontes específicas. Ela afirmou que há uma distorção no debate ao apontar um crescimento real de cerca de 5% nos gastos do governo, enquanto se ignora que os juros estão cerca de 10 pontos percentuais acima da inflação.

“Esses juros estratosféricos, que encarecem o crédito e limitam o crescimento, é que fazem crescer a dívida pública. Ao sugar recursos do Orçamento, os juros da dívida também comprometem a prestação de serviços públicos, os programas sociais e os investimentos do governo para o desenvolvimento do país”, escreveu Gleisi Hoffmann.

As declarações da ministra ocorrem poucos dias após o Congresso Nacional aprovar, na sexta-feira (19), o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) de 2026. O texto prevê despesas totais de R$ 6,5 trilhões. Desse montante, R$ 6,3 trilhões são destinados aos orçamentos fiscal e da seguridade social, sendo que cerca de 28% do total — o equivalente a R$ 1,82 trilhão — será reservado exclusivamente para o pagamento de juros da dívida pública.

As críticas também vêm na esteira da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter, pela quarta reunião consecutiva, a taxa Selic em 15% ao ano. A decisão foi anunciada no último dia 10 e já era amplamente esperada pelo mercado financeiro.

Nesta segunda-feira, o Banco Central divulgou mais uma edição do boletim Focus, que reúne as projeções de instituições financeiras para os principais indicadores econômicos. Segundo a pesquisa, a expectativa do mercado é que a Selic encerre 2026 em 12,25% ao ano. Para 2027 e 2028, as projeções indicam novas reduções, para 10,5% e 9,75%, respectivamente.

Em relação à inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o Focus reduziu a estimativa para 2025 de 4,36% para 4,33%. Esta foi a sexta semana consecutiva de queda na projeção, levando a inflação esperada para dentro do intervalo da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Para 2026, a projeção do IPCA recuou de 4,1% para 4,06%. Já para 2027 e 2028, as estimativas são de 3,8% e 3,5%, respectivamente.

A meta de inflação definida pelo CMN é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, o que estabelece um intervalo entre 1,5% e 4,5%. Desde janeiro deste ano, o Brasil adota o sistema de meta contínua, no qual a inflação é avaliada mensalmente com base na variação acumulada em 12 meses.

Apesar da melhora nas expectativas inflacionárias, o Copom optou por manter os juros elevados. Em comunicado, o colegiado afirmou que o cenário econômico ainda é marcado por elevada incerteza e que a estratégia de manter a Selic em nível restritivo por um período prolongado é considerada adequada para garantir a convergência da inflação à meta.

“O comitê avalia que a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta”, destacou o Copom, acrescentando que seguirá vigilante e poderá ajustar a política monetária, se necessário.

Em novembro, o IPCA registrou alta de 0,18%, o menor resultado para o mês desde 2018. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 4,46%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), retornando ao teto da meta contínua.