MPMS apura dano ambiental que ameaça cursos d'água em Bonito
Fiscalização do Imasul aponta gado em áreas de preservação, água turva e irregularidades com combustíveis em fazenda
MEIO AMBIENTEO Ministério Público de Mato Grosso do Sul abriu inquérito civil para investigar possíveis danos ambientais em uma propriedade rural de Bonito, município turístico conhecido pelas águas cristalinas e que fica a 259 km de Campo Grande. A apuração foi motivada por uma fiscalização do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), que constatou situações capazes de comprometer córregos e áreas de preservação permanente na região.
De acordo com o relatório do órgão ambiental, gado e veículos circulavam dentro da água dos córregos e em APPs (Áreas de Preservação Permanente) sem qualquer tipo de cercamento. Essa movimentação provocou turvamento da água, cenário oposto à imagem de rios transparentes que sustentam o turismo local. A vistoria também identificou trechos das margens sem vegetação e armazenamento inadequado de tanques de combustíveis perto da sede da fazenda, sem licença ambiental.
A ausência de cercas nas áreas de preservação facilita o acesso direto de animais e veículos aos cursos d’água. Isso aumenta o risco de erosão, assoreamento e contaminação, além de comprometer a regeneração da vegetação nativa nas margens. O problema se agrava em um município que tem na conservação dos rios um dos principais atrativos econômicos e cartões-postais.
Diante das irregularidades, o Imasul determinou uma série de medidas que vão desde a proteção física das áreas sensíveis até a recuperação de danos já identificados. Entre as exigências está o cercamento integral das APPs para impedir o livre acesso de gado e veículos aos córregos. A propriedade também deverá recuperar as áreas degradadas e incluir essas ações em um Prada (Projeto de Recuperação de Área Degradada ou Alterada).
Outra determinação é a adequação das travessias, de forma que a passagem de animais e veículos não ocorra diretamente pelo leito dos córregos. O objetivo é reduzir o impacto sobre a água e as margens, evitando o pisoteio constante e o revolvimento do solo. Na área destinada ao abastecimento e armazenamento de combustíveis, o Imasul exigiu impermeabilização com sistema de contenção para evitar possíveis vazamentos ou infiltrações.
O órgão ambiental também cobrou a apresentação de um plano de manejo e conservação do solo e da água, documento que deve detalhar as práticas adotadas na propriedade para reduzir impactos ambientais, controlar erosão e preservar recursos hídricos. Esse tipo de planejamento é considerado fundamental para atividades rurais em regiões sensíveis, como Bonito.
Embora o laudo do Imasul não tenha identificado, neste momento, contaminação do solo, o Ministério Público ressaltou que o acondicionamento irregular de combustíveis representa risco concreto ao meio ambiente. Dependendo da análise técnica e da documentação produzida ao longo do inquérito, a situação pode configurar crime ambiental.
O MPMS informou que o inquérito civil servirá para reunir informações, realizar diligências e definir os próximos passos do caso. Entre as possibilidades estão a celebração de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), que obriga o proprietário a corrigir os problemas e cumprir obrigações ambientais, o ajuizamento de ação civil pública ou até o arquivamento do procedimento, caso as exigências sejam cumpridas e não se confirme dano maior.
Os prazos estabelecidos para atendimento das determinações variam de 30 a 60 dias. A fazenda também deverá enviar relatórios fotográficos ao órgão ambiental, comprovando o cumprimento de cada medida adotada. A partir da documentação e das novas vistorias, o Ministério Público vai avaliar a efetividade das correções e se será necessário adotar medidas judiciais mais rígidas.
Em um município em que rios e nascentes são base do turismo e da economia local, a investigação busca garantir que a atividade rural seja realizada dentro das normas ambientais, evitando que práticas inadequadas em propriedades privadas afetem a imagem e o equilíbrio ambiental de toda a região.