TCU questiona liquidação do Banco Master e abre embate institucional com o Banco Central
Ministro Jhonatan de Jesus cobra explicações do BC, enquanto investigações apontam fraude bilionária no banco
SISTEMA FINANCEIROMinistro Jhonatan de Jesus, do Tribunal de Contas da União (TCU), abriu uma frente direta de questionamento contra o Banco Central ao colocar em xeque a liquidação do Banco Master, decretada em novembro. Em despacho publicado na quinta-feira (18), o ministro concedeu prazo de 72 horas para que a autoridade monetária justifique o que classificou como “medida extrema” e sinalizou a possibilidade de barrar novas decisões envolvendo os ativos da instituição financeira controlada por Daniel Vorcaro.
No documento, Jhonatan de Jesus aponta indícios de “precipitação” por parte do Banco Central e sugere que o órgão regulador pode ter ignorado alternativas de mercado capazes de preservar o banco sem acionar recursos do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). A avaliação, no entanto, contrasta com o conjunto de evidências que fundamentaram a intervenção, incluindo suspeitas de fraudes bilionárias.
As apurações conduzidas pelo Banco Central e pela Polícia Federal indicam que o Banco Master adquiriu carteiras de crédito falsas da empresa Tirreno, sem checar a consistência dos ativos. Segundo os investigadores, a manobra teria como objetivo gerar liquidez imediata para honrar vencimentos de Certificados de Depósito Bancário (CDBs), já que a instituição não dispunha de recursos suficientes em caixa.
A tese do TCU parte do entendimento de que o BC deveria ter esgotado outras possibilidades antes de decretar a liquidação. No despacho, o ministro destaca que, meses antes da intervenção, houve uma proposta de aquisição do Banco Master pelo Grupo Fictor, avaliada em R$ 3 bilhões. Para Jhonatan de Jesus, a alternativa não teria sido analisada com a profundidade necessária.
O ministro também chama atenção para o que considera uma “cronologia atípica” dos fatos. A liquidação foi anunciada no mesmo dia em que a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro e outros quatro executivos ligados ao banco. No entendimento do TCU, houve “demora relevante na condução das alternativas” e, posteriormente, “precipitação na adoção da medida extrema”, o que poderia contrariar o dever legal de buscar soluções menos gravosas ao sistema financeiro.
Internamente, porém, o Banco Central recebeu o pedido de esclarecimentos com tranquilidade. Segundo apuração do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, a avaliação na autarquia é de que todo o rito legal foi seguido de forma rigorosa, sem atalhos ou decisões apressadas.
Interlocutores do BC afirmam que a cautela adotada ao longo do processo pode ter sido interpretada como lentidão por parte do mercado, mas foi justamente essa postura que deu sustentação jurídica à decisão final. A prioridade, segundo essas fontes, foi reunir o máximo de provas e elementos documentais para evitar questionamentos futuros e impedir que eventuais falhas processuais fossem exploradas pela defesa do banco.
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou publicamente esse posicionamento em diferentes ocasiões, tanto em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado quanto durante a apresentação do Relatório de Política Monetária. Em ambas, destacou a preocupação em cumprir estritamente os requisitos legais e infralegais antes de decretar a liquidação.
Como já havia sido revelado, o Banco Central decidiu liquidar quatro empresas do conglomerado Master: Banco Master S.A., Banco Master de Investimentos S.A., Letsbank S.A. e Master S.A. Corretora de Câmbio e Valores Mobiliários. A avaliação foi de que os problemas eram irreversíveis, expunham credores a riscos elevados e resultaram em violações reiteradas às normas impostas pelos órgãos reguladores.
O caso ganhou novo capítulo nesta semana no Supremo Tribunal Federal. Na segunda-feira (15), o ministro Dias Toffoli determinou a retomada do inquérito que investiga o Banco Master, após ser sorteado relator do processo e decretar sigilo sobre os autos. Na decisão, estabeleceu prazo de 30 dias para a oitiva da cúpula do Banco Central.
“Determino a realização imediata das seguintes diligências preliminares, com prazo inicial de 30 dias: oitiva dos dirigentes do Banco Central do Brasil sobre questões de sua atribuição envolvendo as atividades do Banco Master e de possíveis desdobramentos envolvendo outras instituições financeiras”, escreveu Toffoli.
Além disso, o ministro autorizou o delegado responsável a requisitar quebras de sigilo fiscal e telemático dos investigados, desde que apresentadas justificativas formais.
A atuação de Toffoli também teve reflexos no Congresso. O ministro determinou que documentos relacionados às quebras de sigilo de Daniel Vorcaro, aprovadas pela CPI do INSS, não fiquem disponíveis aos parlamentares da comissão. Os relatórios fiscais, bancários e telemáticos deverão ser encaminhados diretamente ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), permanecendo sob sua guarda até nova deliberação do STF.
A CPI pretendia usar os dados para investigar a atuação do Banco Master no mercado de crédito consignado. Toffoli é o relator do inquérito que apura suspeitas de fraudes financeiras envolvendo a instituição. Nos últimos dias, o ministro também se viu no centro de uma polêmica após o jornal O Globo revelar que ele viajou para Lima, no Peru, em um avião privado no qual estava um dos advogados ligados ao caso.