Rodrigo Sampaio | 19 de dezembro de 2025 - 12h35

Final no Maracanã pode selar redenção de Dorival Júnior ou Fernando Diniz após seleção

Técnicos de Corinthians e Vasco chegam à decisão carregando frustrações recentes no comando do Brasil

COPA DO BRASIL
Dorival Júnior e Fernando Diniz chegam à final da Copa do Brasil buscando redenção após passagens frustradas pela seleção brasileira. - (Foto: Imagem ilustrativa/A Crítica)

A decisão da Copa do Brasil entre Corinthians e Vasco, marcada para este domingo (18), no Maracanã, vai além da disputa por um dos troféus mais importantes do futebol nacional. Em jogo, está também a possibilidade de redenção para Dorival Júnior e Fernando Diniz, treinadores que viveram passagens frustrantes pela seleção brasileira e agora tentam ressignificar suas trajetórias em uma temporada marcada por instabilidade e cobranças.

O título pode amenizar um ano irregular dos dois clubes e, sobretudo, servir como resposta para técnicos que chegaram ao comando da seleção cercados de expectativa, mas deixaram o cargo sob críticas e resultados abaixo do esperado.

Quando aceitou o convite da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em janeiro de 2024, Dorival Júnior era tratado como a escolha natural para assumir a seleção. Vinha de títulos expressivos no futebol nacional, com a conquista da Copa do Brasil pelo São Paulo e da Copa do Brasil e da Libertadores pelo Flamengo, e tinha como missão dar estabilidade ao time após um período de transição.

O cenário, no entanto, foi diferente do esperado. Em 14 meses no cargo, Dorival não conseguiu fazer a seleção apresentar regularidade nem extrair o melhor de jogadores decisivos como Raphinha e Vini Jr. O Brasil caiu nas quartas de final da Copa América diante do Uruguai e chegou a correr risco nas Eliminatórias.

A demissão ocorreu em 28 de março deste ano, três dias após a goleada sofrida para a Argentina por 4 a 1, em Buenos Aires. Ao todo, Dorival comandou a seleção em 16 partidas, com sete vitórias, sete empates e duas derrotas, alcançando aproveitamento de 58%.

Após sua saída, a CBF anunciou Carlo Ancelotti como novo treinador. Dorival, que já havia se manifestado publicamente contra a presença de estrangeiros no comando da seleção em 2022, voltou ao debate recentemente, ao comentar a valorização dos técnicos brasileiros depois da classificação do Corinthians à final da Copa do Brasil.

“Nós estamos sendo desrespeitados em todos os aspectos e sentidos. E, mais uma vez, a gente finaliza o ano tendo Filipe Luís como campeão da Libertadores e do Campeonato Brasileiro, além de, no mínimo, um treinador brasileiro nas finais de uma competição tão importante como a Copa do Brasil. Nos respeitem um pouco mais.”

No Corinthians desde abril, Dorival não escondeu o desapontamento com sua experiência na seleção. “Frustração? Ficou”, afirmou. “Me preparei para estar lá e vivenciar um momento como esse, mas tudo bem. Estou recuperado, em condições de estar aqui no Corinthians e desenvolver o meu melhor.”

À frente do clube paulista, o treinador soma 42 jogos, com 17 vitórias, 12 empates e 13 derrotas, aproveitamento de 50%. Apesar da eliminação na Sul-Americana e da campanha apenas mediana no Brasileirão, o título da Copa do Brasil pode representar o quarto da carreira de Dorival no torneio, igualando Luiz Felipe Scolari como o técnico mais vencedor da competição.

Do outro lado da final está Fernando Diniz, treinador de estilo marcante e trajetória marcada por altos e baixos. Antes de disputar o título nacional com Dorival, ele já havia enfrentado o colega em uma decisão. Em 2016, ambos estiveram nas finais do Campeonato Paulista, quando o Santos de Dorival levou o título sobre o Audax de Diniz. Apesar do vice, foi Diniz quem terminou aquele Estadual como o treinador mais celebrado.

Conhecido por uma filosofia de jogo baseada em posse de bola, aproximação entre os jogadores e construção desde a defesa, Diniz sempre foi tratado como um técnico de vanguarda. A valorização do jogo ofensivo e da técnica individual lhe rendeu admiradores, mas também resistência, especialmente diante de resultados irregulares.

Após passagens por clubes médios, ele teve a primeira oportunidade em um grande em 2018, no Athletico-PR, e depois passou pelo São Paulo sem conseguir se firmar. O reconhecimento mais consistente veio no Fluminense, apesar de um início instável. Em 2023, levou o clube ao título da Libertadores, o que abriu caminho para o convite da CBF.

Diniz assumiu a seleção brasileira de forma interina, acumulando a função com o trabalho no Fluminense, enquanto a confederação tentava negociar com Ancelotti. No comando do Brasil, dirigiu a equipe em seis jogos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026, com duas vitórias, um empate e três derrotas. O aproveitamento foi de 38%, com derrotas para Uruguai, Colômbia e Argentina.

A passagem terminou em janeiro do ano passado. “Queria que tivesse sido diferente, mas são águas passadas, temos que tocar a vida. Tenho muita clareza do que fiz pela seleção brasileira e no meu contato com os jogadores. A seleção está em boas mãos agora”, afirmou à época. O substituto foi justamente Dorival Júnior.

O ano de 2024 foi um dos mais difíceis da carreira de Diniz. Ele deixou o Fluminense em junho, após apenas uma vitória em 11 rodadas do Brasileirão. No fim do ano, assumiu o Cruzeiro com a promessa de liderar um projeto de médio prazo, mas a derrota para o Racing na final da Sul-Americana e o início ruim em 2025 resultaram em nova demissão.

O recomeço aconteceu em maio, no Vasco, substituindo Fábio Carille. Com um elenco mais modesto, Diniz não conseguiu levar o time à parte de cima da tabela do Brasileirão, encerrado na 14ª colocação. Ainda assim, o desempenho no mata-mata da Copa do Brasil foi suficiente para derrubar favoritos como Botafogo e Fluminense e colocar o clube carioca na final.

Depois do empate sem gols no jogo de ida, Corinthians e Vasco voltam a se enfrentar neste domingo, às 18h, no Maracanã. Em caso de novo empate no placar agregado, o campeão da Copa do Brasil será definido nos pênaltis.

Para além da taça, o duelo carrega simbolismo. No banco de reservas, dois treinadores que tiveram a chance de comandar a seleção brasileira e agora disputam a oportunidade de reescrever parte de suas histórias em um dos palcos mais tradicionais do futebol nacional.