Antonio Perez | 17 de dezembro de 2025 - 19h15

Dólar fecha acima de R$ 5,50 e atinge maior nível desde agosto com ajuste de risco político

Mercado reage à percepção de maior chance de reeleição de Lula em 2026, pesquisas eleitorais pressionam ativos locais e real se desvaloriza pelo quarto pregão seguido

ECONOMIA
Dólar sobe pelo quarto dia seguido e supera R$ 5,50. - (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

O dólar encerrou esta quinta-feira, 17, em alta pelo quarto pregão consecutivo e voltou a fechar acima de R$ 5,50, alcançando o maior nível desde o início de agosto. O movimento reflete um ajuste nos prêmios de risco do mercado doméstico, provocado principalmente pela leitura de que aumentaram as chances de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026, além do fortalecimento global da moeda americana frente a divisas latino-americanas.

A cotação máxima do dia chegou a R$ 5,5315 no início da tarde. No fechamento, o dólar à vista avançou 1,10%, a R$ 5,5233, maior valor de encerramento desde 1º de agosto, quando terminou a R$ 5,5456.

Com o resultado, a moeda acumula valorização de 2,20% nos últimos quatro pregões e de 3,53% em dezembro, após queda de 0,85% em novembro. No acumulado de 2025, as perdas do dólar, que já superaram 14%, foram reduzidas para 10,63%.

Operadores afirmam que o comportamento recente do câmbio segue diretamente ligado à repercussão da pesquisa Genial/Quaest divulgada na terça-feira. O levantamento alterou a percepção predominante até então no mercado, que apostava em uma disputa presidencial mais equilibrada em 2026, com maior probabilidade de vitória da oposição.

Esse cenário vinha sustentando o chamado “trade Tarcísio”, uma estratégia baseada na expectativa de valorização dos ativos brasileiros com eventual mudança da política fiscal a partir de 2027, caso o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), chegasse à Presidência.

A pesquisa, no entanto, indicou que o senador Flávio Bolsonaro (PL) aparece com intenções de voto superiores às de Tarcísio em um eventual primeiro turno, o que sugere viabilidade eleitoral do filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro. Além disso, Lula aparece vencendo todos os nomes da oposição nas simulações de segundo turno.

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o novo quadro político levou os investidores a reverem suas apostas.

“Ficou mais difícil pensar em uma eleição competitiva. Com o aumento das chances de Lula ganhar, há um ajuste dos prêmios de risco”, afirma. Segundo ele, as pesquisas indicam que Flávio Bolsonaro tem base eleitoral relevante, o que reduz a probabilidade de retirada de sua candidatura.

Na avaliação de Lima, a perspectiva de reeleição de Lula reforça a leitura de continuidade do atual modelo fiscal, baseado na ampliação de receitas via aumento de impostos para sustentar o crescimento das despesas públicas, em detrimento de um ajuste estrutural pelo lado dos gastos.

“Estamos vendo uma piora do câmbio por questões idiossincráticas, com aumento da incerteza local. Não houve mudanças relevantes no exterior”, diz o economista.

Além dos fatores domésticos, a moeda americana apresentou valorização no exterior, com ganhos frente a outras moedas da América Latina. Esse movimento contribuiu para a depreciação do real ao longo do dia, segundo operadores.

Mesmo assim, analistas destacam que o principal vetor da alta do dólar no Brasil segue sendo o ambiente político e fiscal, e não alterações significativas no cenário internacional.

No campo fiscal, a Câmara dos Deputados aprovou na madrugada desta quarta-feira o projeto de lei que reduz benefícios fiscais em 10% e resgata pontos da chamada “taxação BBB” — que atinge bancos, casas de apostas e grandes fortunas. O impacto estimado é de cerca de R$ 22 bilhões.

O projeto é considerado fundamental para o fechamento das contas públicas de 2026 e pode ser analisado pelo Senado ainda nesta semana. Já a votação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026, que prevê meta de superávit primário de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB), está prevista para esta quinta-feira, 18.

De acordo com informações do portal Metrópoles, o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, teria afirmado a representantes do mercado financeiro que Flávio Bolsonaro será candidato à Presidência, enquanto Tarcísio de Freitas deve buscar a reeleição ao governo de São Paulo.

Segundo o relato, Ciro avaliou que Flávio seria um candidato competitivo, mas com chances de derrota para Lula no segundo turno.

Em relatório, o Citi pondera que a candidatura de Flávio ainda é incerta. O banco lembra que o senador já declarou que pode desistir da disputa dependendo do apoio que receba para um eventual perdão ao pai, condenado por tentativa de golpe de Estado. A instituição também chama atenção para a elevada rejeição ao senador e para o fato de seu desempenho melhor em pesquisas de primeiro turno poder estar ligado ao maior reconhecimento de seu nome.

O Banco Central informou que o fluxo cambial total em dezembro, até o dia 12, é positivo em US$ 3,108 bilhões, puxado pela entrada líquida de US$ 4,254 bilhões via comércio exterior.

Em contrapartida, o canal financeiro registrou saídas líquidas de US$ 7,071 bilhões. Em novembro, o fluxo total foi negativo em US$ 7,071 bilhões. No acumulado do ano, o saldo está deficitário em US$ 16,646 bilhões.

O economista Sérgio Goldenstein, sócio-fundador da Eytse Estratégia, destaca que, na semana passada, o fluxo total foi negativo em US$ 1,6 bilhão, com saída líquida de US$ 3,5 bilhões pelo segmento financeiro.

“Vale notar que, segundo dados da B3, a posição comprada de investidores estrangeiros em derivativos cambiais aumentou em US$ 4 bilhões”, afirma, em nota.