Redação C2 | 17 de dezembro de 2025 - 19h30

Diretor de Dark Horse diz que sabia do caráter controverso de Bolsonaro ao assumir o projeto

Cyrus Nowrasteh afirma que filme busca retrato complexo do ex-presidente e compara abordagem a obras de Oliver Stone e Costa-Gavras

CINEMA
Jim Caviezel, ator escalado para viver o ex-presidente, Mário Frias e o cineasta Cyrus Nowrasteh. - (Foto: Mário Frias via X)

O cineasta americano Cyrus Nowrasteh falou pela primeira vez sobre Dark Horse, longa-metragem inspirado na trajetória política do ex-presidente Jair Bolsonaro e com lançamento previsto para 2026. Em entrevista à BBC Brasil, o diretor afirmou que tinha plena consciência da natureza controversa da figura retratada, mas disse que o objetivo da produção é apresentar um retrato complexo e honesto do personagem central.

Segundo Nowrasteh, a decisão de aceitar o projeto veio acompanhada da percepção de que havia episódios pouco esclarecidos na história recente do Brasil, especialmente o atentado sofrido por Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018.

“Eu senti que havia muitas perguntas sem resposta em torno desse evento, a facada contra Bolsonaro em 2018, e que valia a pena explorá-las em um filme”, afirmou.

O diretor contou que estava envolvido em outro trabalho com previsão de gravações no Brasil quando foi apresentado à proposta de Dark Horse. O contato ocorreu por meio de um produtor americano, que o colocou em diálogo com a produtora GoUp Entertainment, liderada por Karina Ferreira da Gama, e com o deputado federal Mário Frias (PL-SP), responsável pela ideia inicial do filme.

Nowrasteh destacou que a convicção de Frias foi determinante para que ele aceitasse o convite.

“Eles queriam fazer algo sobre Bolsonaro. Fiquei impressionado com o Mário e com a paixão dele pelo projeto. Eu sabia que Bolsonaro era uma figura controversa e polarizadora, mas também muito querida”, disse o cineasta.

De acordo com Mário Frias, a narrativa do filme se constrói a partir de lembranças do ex-presidente enquanto ele passa por procedimentos cirúrgicos. Esses flashbacks percorrem momentos da infância, da carreira política e da campanha eleitoral, encerrando a história com a vitória nas urnas.

Para Nowrasteh, o formato aproxima Dark Horse de um thriller político contemporâneo, com temas que extrapolam o contexto brasileiro.

“Vejo a obra como um thriller político contemporâneo, que ajudará a iluminar muito do que está acontecendo no Brasil hoje e no mundo”, explicou.

As filmagens de Dark Horse foram concluídas neste mês. O ator Jim Caviezel, conhecido mundialmente por interpretar Jesus Cristo em A Paixão de Cristo (2004), foi escalado para viver Jair Bolsonaro.

Imagens do filme começaram a circular nas redes sociais nas últimas semanas, divulgadas principalmente por políticos e apoiadores do ex-presidente, o que ampliou a repercussão do projeto antes mesmo do lançamento oficial.

Cyrus Nowrasteh construiu carreira com obras que abordam temas religiosos, morais e políticos. Entre seus trabalhos mais conhecidos está O Apedrejamento de Soraya M (2008), que retrata a condenação à morte de uma mulher no Irã acusada injustamente de adultério.

O cineasta também dirigiu O Jovem Messias (2016), Sequestro Internacional (2019) e Sarahs Oil (2025). Além disso, participou como coautor do roteiro de Jenipapo, coprodução brasileira-americana dirigida por Monique Gardenberg.

Ao comentar as críticas e a polarização em torno de Dark Horse, Nowrasteh afirmou que se inspira em diretores reconhecidos por abordar temas sensíveis. Ele citou o greco-francês Costa-Gavras e o americano Oliver Stone, responsável pelo documentário Lula (2024).

“Todos se concentram em temas polarizadores e questionam vigorosamente as visões aceitas. Essa é uma tradição longa e nobre. Estou apenas fazendo o mesmo”, afirmou.