Daniel Weterman | 15 de dezembro de 2025 - 10h05

Governo Lula atinge recorde de cargos comissionados na administração federal

Com 38 ministérios, gestão criou 4,4 mil novos postos de confiança desde 2023, segundo levantamento

GESTÃO PÚBLICA
Governo Lula chega a 50 mil cargos comissionados e alcança recorde na administração pública federal - (Foto: Reprodução)

Desde o início de 2023, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou 4,4 mil cargos comissionados e alcançou, em novembro de 2025, o maior número de ocupações de confiança já registrado na administração federal: 50.770. Os dados são do Instituto Teotônio Vilela e foram confirmados por informações oficiais do Ministério da Gestão e Inovação.

O crescimento acompanha a expansão da estrutura ministerial promovida por Lula, que ampliou de 23 para 38 ministérios, chegando a ter 39, com a criação temporária de uma pasta para tratar da crise climática no Rio Grande do Sul. O governo alega que os cargos foram criados a partir da reorganização da máquina pública, sem gerar novas despesas, pois teriam sido realocados de estruturas existentes e inativas.

Comparação com gestões anteriores - Apesar do número expressivo, o levantamento mostra que o ex-presidente Jair Bolsonaro criou ainda mais cargos em um único ano: 13,4 mil somente em 2022, no fim de seu mandato. Durante os três primeiros anos de sua gestão, o número se manteve estável.

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Entre os órgãos com mais comissionados atualmente estão o INSS (3.984), Ministério da Fazenda (2.697), Polícia Federal (2.001), Ministério da Gestão (1.994), IBGE (1.914), Ministério da Saúde (1.707) e Presidência da República (1.646). A maioria das nomeações, segundo o governo, é ocupada por servidores concursados.

Custo e questionamentos - Mesmo com o discurso de que não há impacto financeiro, os dados mostram crescimento nos gastos com funcionalismo: de R$ 369,2 bilhões em 2022 para R$ 444,7 bilhões em 2025. A previsão é de R$ 489,5 bilhões em 2026. Os reajustes salariais e concursos autorizados após o congelamento da gestão anterior explicam parte desse aumento.

Atualmente, os salários dos comissionados podem chegar a R$ 24,7 mil, mas esse teto será elevado para R$ 31,9 mil em abril de 2026, conforme lei já aprovada.

A oposição critica o aumento. Para o presidente do PSDB, deputado Aécio Neves, a ampliação da estrutura repete práticas anteriores do PT: “É o inchaço da máquina. A população não vê melhora nos serviços.”

Especialistas ouvidos pelo Estadão apontam problemas na forma como esses cargos são preenchidos. O cientista político Sérgio Praça afirma que, embora haja regras para nomeação técnica, na prática elas nem sempre são respeitadas. “Basta aplicar o que já está na lei”, resume.

Já Ana Pessanha, economista do movimento República.Org, acredita que o problema não é o número de cargos, mas a falta de critérios claros para escolha dos ocupantes e a desigualdade interna: “Dois servidores que ocupam o mesmo cargo podem receber salários diferentes, dependendo da carreira de origem”.

Reformas e limites - Uma proposta de reforma administrativa em discussão no Congresso quer limitar os cargos comissionados a no máximo 5% do total de servidores em todas as esferas da federação. Hoje, os municípios têm 13,1%, os estados 8,8% e a União, 4,2%.

Para analistas, o poder de nomear cargos ainda exerce influência política, mas perdeu espaço diante do fortalecimento do Congresso via emendas parlamentares. “Hoje, poucos ministérios têm peso político para atrair interesse de quem busca cargos e controle orçamentário”, avalia Praça.