MS registra 57 casos de queimaduras em crianças pequenas só em 2025
Estado ocupa 18ª posição no ranking nacional; acidentes domésticos aumentam nas férias e calor exige atenção redobrada
SAÚDE INFANTILDurante o período de férias escolares e dias quentes de verão, é comum ver a casa virar cenário de brincadeiras infantis: piqueniques improvisados no chão da sala, barracas de lençol entre os móveis e muita movimentação. No entanto, esse ambiente lúdico também pode esconder riscos que preocupam especialistas. Um deles é o aumento dos acidentes com queimaduras em crianças pequenas.
Dados do DATASUS, compilados pela ONA (Organização Nacional de Acreditação), revelam que 3.613 crianças entre 1 e 4 anos foram internadas por queimaduras no Brasil entre janeiro e setembro de 2025. O Mato Grosso do Sul aparece com 57 casos registrados, ocupando o 18º lugar entre os estados.
Acidentes dentro de casa - Segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras, sete em cada dez acidentes acontecem dentro do próprio lar. A faixa etária mais atingida, de 1 a 4 anos, é também a mais vulnerável — uma combinação de curiosidade intensa, agilidade e pouca noção de perigo.
“A maioria das ocorrências envolve líquidos quentes”, afirma a pediatra Mariana F. Falavina Grigoletto, membro da ONA. “Um simples cabo de panela virado para fora, uma xícara de café na beira da mesa ou uma panela recém-saída do fogo podem causar queimaduras graves em questão de segundos”.
A médica explica que os cenários se repetem com frequência nos atendimentos: “A criança tropeça no pano da mesa, puxa o cabo da panela, tenta alcançar algo quente. Todo cuidado é pouco com os pequenos”.
Queimaduras mais graves e perigos silenciosos - Embora menos comuns, as queimaduras por chamas ou líquidos inflamáveis costumam ser mais severas. A ingestão de soda cáustica, por exemplo, é uma das principais causas de queimaduras químicas em crianças. Pilhas e baterias também representam ameaça grave, principalmente se ingeridas ou rompidas, devido ao conteúdo corrosivo.
Outro risco recorrente são os choques elétricos. Tomadas sem proteção, fios soltos ou desencapados e extensões improvisadas podem passar despercebidos no ambiente doméstico, mas oferecem perigo real.
Sol forte também queima - No verão, o sol se torna mais um vilão. Queimaduras solares são comuns entre 10h e 16h, período de maior radiação. Vermelhidão, dor e calor local são sinais de alerta. A exposição prolongada sem proteção adequada é uma das principais causas de queimadura de primeiro grau em crianças.
O que fazer em caso de queimadura - A Dra. Mariana faz um alerta importante: nunca aplique receitas caseiras como pasta de dente, manteiga, clara de ovo ou óleo sobre a queimadura. “Esses produtos pioram a lesão e aumentam o risco de infecção”, afirma.
A primeira ação deve ser resfriar a área atingida com água corrente fria (nunca gelada) por 10 a 20 minutos. Roupas grudadas na pele não devem ser removidas; corte apenas o que estiver solto. Anéis, pulseiras e acessórios devem ser retirados antes que a região inche. E, caso surjam bolhas, jamais as estoure.
Procure atendimento médico de urgência se houver:
Presença de bolhas
Dor intensa, febre ou secreção
Aumento da vermelhidão
Queimaduras no rosto, mãos, pés ou genitais
Náuseas, sonolência ou desmaio
Prevenção é o melhor cuidado - A maioria dos acidentes pode ser evitada com pequenas mudanças de comportamento dentro de casa. Confira as principais orientações da especialista:
Nunca cozinhe com a criança no colo ou por perto.
Mantenha fósforos, isqueiros e álcool fora do alcance.
Vire os cabos das panelas para dentro e use as bocas de trás do fogão.
Não deixe objetos quentes nas bordas das mesas.
Evite toalhas longas que possam ser puxadas.
Redobre a atenção com ferro de passar e chapinhas.
Armazene produtos químicos em locais altos e trancados.
Tampe as tomadas e evite fios soltos.
Descarte pilhas e baterias corretamente.
Sempre teste a temperatura da água antes do banho.
Use protetor solar e evite exposição ao sol entre 10h e 16h.
O alerta é claro: o ambiente doméstico deve ser um espaço seguro para as crianças, especialmente nos períodos de férias, quando estão mais tempo em casa. A atenção redobrada dos adultos pode evitar acidentes graves e até salvar vidas.