Naomi Matsui | 14 de dezembro de 2025 - 18h20

Zambelli diz "seguir viva" ao renunciar e ataca decisão do STF

Ex-deputada presa na Itália diz que mandato foi "interrompido" por decisão judicial e afirma que "o Brasil continuará a ouvir minha voz"

POLÍTICA
Carla Zambelli usou carta de renúncia para criticar decisão do STF e defender seu mandato. - (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

Presa na Itália desde julho e condenada a 10 anos de prisão por envolvimento em ataques cibernéticos ao sistema do CNJ, Carla Zambelli (PL-SP) oficializou sua renúncia ao mandato parlamentar neste domingo (14) com um discurso em tom de enfrentamento.

Na carta enviada à Câmara dos Deputados, Zambelli elogiou a decisão do plenário que havia rejeitado sua cassação — depois anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) — e afirmou que a interrupção do mandato “não é rendição”, mas um “registro histórico”.

“A história registra: mandatos podem ser interrompidos; a vontade popular, jamais. Eu sigo viva, a verdade permanece, e o Brasil continuará a ouvir minha voz”, escreveu.

A parlamentar alegou que sua saída não foi motivada por medo ou fraqueza, e sim por “respeito ao mandato conferido por quase um milhão de votos”. Em 2022, Zambelli foi reeleita com mais de 946 mil votos.

No texto, Zambelli critica indiretamente a decisão do STF que determinou a perda imediata de seu mandato, apontando que a medida “afastou o resultado” da votação legítima feita pela Câmara. Ela defendeu que a manutenção de seu cargo pela Casa havia sido uma afirmação do “devido processo legal” e do “limite do poder punitivo do Estado”.

Segundo ela, o episódio deve servir de “referência institucional” para casos futuros de cassação, classificando o julgamento como um “marco institucional”.

A renúncia aconteceu antes da Câmara cumprir a ordem do STF, e é interpretada por aliados como uma manobra para tentar preservar os direitos políticos da ex-deputada — tese que constitucionalistas contestam, já que a perda do mandato decorre de sentença penal com trânsito em julgado.

Zambelli também exaltou a atuação da defesa e o relatório do deputado Diego Garcia (Republicanos-PR), que recomendou arquivar o pedido de cassação por “falta de provas”.

Além da condenação relacionada à invasão do CNJ — que motivou a prisão internacional —, Zambelli acumula outra sentença de 5 anos e 3 meses de prisão, por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal. O episódio envolveu a perseguição de um homem com arma em punho na véspera do segundo turno das eleições de 2022.

Ela está detida em território italiano, onde aguarda processo de extradição.