Maria Edite Vendas | 10 de dezembro de 2025 - 07h40

Série de Percy Jackson reacende paixão por mitologia grega entre jovens leitores

Histórias de semideuses inspiram geração de estudantes, impulsionam pesquisas acadêmicas e chegam à segunda temporada no Disney+

CULTURA POP
Walker Scobell (Percy) e Leah Sava Jeffries (Annabeth) na segunda temporada de 'Percy Jackson e Os Olimpianos'. - (Foto: David Bukach/Disney/Divulgação)

O universo criado por Rick Riordan em Percy Jackson e os Olimpianos segue impactando gerações. Nesta quarta-feira (10), a segunda temporada da série baseada nos livros estreia no Disney+, reacendendo o interesse por mitologia grega, especialmente entre jovens que, como Karen Santos, tiveram seu primeiro contato com os mitos antigos por meio da saga literária.

Karen, hoje com 22 anos e prestes a se formar em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), conheceu Percy Jackson aos sete anos, quando sua irmã mais velha leu com ela O Ladrão de Raios, primeiro livro da série. O encantamento foi imediato. “Me apaixonei pela mitologia e isso influenciou toda minha trajetória acadêmica”, conta.

Karen Santos, de 22 anos, é graduanda de História pela UFBA e criou um método de ensino sobre Grécia Antiga inspirada pela saga 'Percy Jackson'. (Foto: Karen Santos/Arquivo Pessoal) 

Essa relação entre literatura de fantasia e o ensino de História é o tema de seu Trabalho de Conclusão de Curso, que analisa como Rick Riordan “americaniza” os mitos gregos para aproximá-los de crianças e adolescentes. “Quero entender como essa narrativa pode ser levada para a sala de aula, não só com mitologia grega, mas também outras mitologias”, explica.

Karen já levou essa proposta para a prática. Como professora assistente em uma escola de Salvador, aplicou o conteúdo do livro na aula de Grécia Antiga para turmas do sexto ano. “Os alunos têm a mesma idade do Percy e se identificaram tanto com a história que muitos leram a saga completa por conta própria”, relata.

Ela também apresentou sua pesquisa no XI Ciclo de Debates em Antiguidade da UFBA, reforçando a proposta de usar a ficção como ferramenta pedagógica.

A série Percy Jackson é apontada por especialistas e fãs como uma ponte entre a cultura pop e os grandes clássicos da literatura antiga. Rick Riordan, que foi professor antes de se tornar autor best-seller, afirma que seu objetivo sempre foi despertar o interesse pelos mitos. “Modernizo as histórias, mas me esforço para ser fiel às suas estruturas. Fico feliz quando um leitor diz que passou em um exame de clássicos por ter lido Percy”, comentou o autor, em entrevista ao Estadão.

Desde o lançamento de O Ladrão de Raios nos Estados Unidos, em 2005, e no Brasil, em 2008, a série não apenas resistiu ao tempo como expandiu seu universo com novas sagas inspiradas em mitologias romana, nórdica e egípcia.

“Não tem prazo de validade. Ela envelhece muito bem”, diz João Paulo Silva, administrador do site Oráculo dos Deuses. Fã há 16 anos, João acredita que a saga transformou o modo como os jovens se relacionam com a História e a literatura. “A série despertou em mim o gosto pela leitura e me fez me apaixonar pela mitologia”, relata.

A adaptação televisiva de Percy Jackson e os Olimpianos no Disney+ reforça essa conexão com o público jovem. A segunda temporada adapta o livro Mar de Monstros e traz novos personagens mitológicos, como o Ciclope Polifemo e a feiticeira Circe.

O produtor Jon Steinberg garante que a série busca respeitar os mitos originais, mesmo com algumas atualizações para o público atual. “Queremos que as criaturas míticas e os deuses estejam inseridos de forma significativa na narrativa, e não apenas como monstros para ação”, afirmou.

Os protagonistas também se aprofundaram nos mitos gregos como parte do processo. Walker Scobell (Percy) e Aryan Simhadri (Grover) já conheciam os livros e se disseram fascinados por como os deuses representam diferentes traços de personalidade humana. “A mitologia grega é muito rica e, em Percy Jackson, cada deus tem seu espaço, sua história, seu impacto”, resume Simhadri.

A saga segue como referência cultural e educacional. Além do impacto literário, Percy Jackson se tornou tema de estudos acadêmicos, instrumento em sala de aula e até ponto de partida para carreiras, como no caso de Karen.

Rick Riordan, que também disponibiliza material didático em seu site para professores, acredita no potencial educativo de sua obra. “Se você gosta dos livros, então tem a idade certa para eles, seja 8 ou 80 anos”, brinca o autor.