Iury de Oliveira | 09 de dezembro de 2025 - 10h10

Seu carro vai virar seu assistente, mas talvez saiba demais sobre você

Carros que falam, lembram e ajudam nas tarefas parecem coisa de filme. Mas para funcionar, eles precisam saber tudo sobre sua vida

VIGILÂNCIA
Telas como essa, cada vez mais presentes nos carros modernos, reúnem assistentes virtuais, rotas, aplicativos e dados do motorista em tempo real. - (Foto: Divulgação)

Em outubro deste ano, a chefe da General Motors subiu num palco em Nova York e falou de um futuro onde o carro não só leva você até o trabalho, mas também ajuda com a rotina. Vai ser como um assistente pessoal, só que com rodas. 

A ideia é mais ou menos assim: você entra no carro, fala o que quer fazer, e ele entende. Vai sozinho até a oficina, pega a roupa na lavanderia, busca o jantar. Enquanto isso, você aproveita para ver um filme, responder e-mails ou só descansar. O carro faz o resto. Igual nos filmes.

O problema é o seguinte: para o carro saber o que você quer, ele precisa conhecer você.

Isso quer dizer que ele vai guardar informações da sua vida. Vai lembrar o horário que você sai de casa. Vai saber onde você gosta de ir. Vai aprender o que você escuta, o que você vê, onde para e com quem costuma andar.

A empresa quer que esse tipo de carro comece a circular em 2025. Eles vão vir com um sistema de voz que fica de graça por oito anos. Em 2026, a montadora vai colocar o assistente do Google dentro dos carros. O nome é Gemini. Depois disso, a GM quer lançar um sistema só dela.

O carro vai escutar você, vai conversar com você, e também vai dar sugestões. Vai dizer qual caminho pegar. Vai lembrar onde é a farmácia mais próxima. Vai indicar um lugar para comer. Vai dizer coisas como se fosse um amigo. Mas para fazer isso, vai precisar saber muita coisa da sua vida.

E é aí que mora o risco. - Um carro que faz tudo isso não é só um veículo. Ele vira uma máquina que observa. Ele presta atenção em você o tempo todo. E guarda essas informações. Tudo que você faz pode ser registrado.

Um dos diretores da empresa, que já trabalhou na Tesla, disse que os carros vão melhorar com o tempo. Mesmo depois que a pessoa compra, ele continua recebendo atualizações. Ganha novas funções. Fica mais inteligente. Isso parece bom. Mas também significa que o carro nunca para de aprender sobre você.

Outras montadoras, como Volkswagen, BMW, Mercedes e até a Amazon, também estão entrando nessa onda. Todas querem que o carro seja mais do que transporte. Querem que ele seja um tipo de computador que anda.

O problema é que essas empresas também querem guardar os dados. A GM, por exemplo, decidiu não usar mais o Android Auto nem o CarPlay, que são sistemas do Google e da Apple. O motivo? Ela não quer dividir as informações com essas empresas. Quer ficar com os dados para ela.

Infográfico produzido pelo jornal A Crítica mostra os dois lados do carro do futuro: de um lado, a promessa de comodidade; do outro, os riscos da vigilância digital.

Porque os dados viraram o novo dinheiro. - Saber o que você faz, onde vai, o que consome, o que procura, é muito valioso para as empresas. Com isso, elas conseguem vender mais, entender o comportamento das pessoas e até prever o que elas vão querer no futuro.

Então, a pergunta que fica é simples: será que vale a pena?

Vale ter um carro que faz tudo isso, mas que também escuta tudo, vê tudo, e registra tudo?

A resposta não é tão simples. Para alguns, isso é o preço da comodidade. Para outros, é invasivo demais. O que importa é entender que esse futuro está chegando. E ele tem cara de novidade, mas também tem cheiro de vigilância.