Brasileira acamada por quase 50 anos pode se tornar primeira santa paulista mulher
Papa Leão XIV reconhece virtudes heroicas de Maria de Lourdes Guarda, defensora de pessoas com deficiência
FUTURA SANTAMaria de Lourdes Guarda, paulista de Salto, está a caminho de ser reconhecida como santa pela Igreja Católica. O Papa Leão XIV autorizou o Dicastério do Vaticano para as Causas dos Santos a promulgar um decreto que reconhece suas virtudes heroicas, etapa fundamental para o processo de beatificação e canonização.
Se for canonizada, Maria de Lourdes será a primeira mulher paulista a alcançar a santidade, depois de São Frei Galvão, de Guaratinguetá.
Nascida em 1926, de família de origem italiana, Maria de Lourdes viveu acamada desde os 21 anos, após sofrer uma grave lesão na coluna que a impediu de realizar seu sonho de ser freira. Mesmo assim, tornou-se leiga consagrada no Instituto Secular Caritas Christi, onde professou votos em 1970, dedicando-se à defesa e amparo de pessoas com deficiência e doenças crônicas.
Ao longo de quase cinco décadas, transformou a própria enfermidade em missão apostólica, vivendo entre hospitais e sua casa, com intensa vida de oração e devoção eucarística. Seu quarto no Hospital Matarazzo, em São Paulo, tornou-se ponto de referência espiritual, recebendo pessoas em busca de aconselhamento e conforto.
Apesar de limitações físicas — inclusive a amputação de uma perna após várias cirurgias —, Maria de Lourdes manteve ativa sua ação social. Com o padre Geraldo Nascimento, viajou em Kombi para criar núcleos de atendimento a pessoas com deficiência em todo o Brasil, chegando a fundar mais de 250 núcleos.
Ela também auxiliou crianças e pacientes em situação de vulnerabilidade, como Zezinho, menino com câncer terminal, realizando desejos e oferecendo apoio espiritual, chegando a mobilizar o cantor Roberto Carlos para visitá-lo.
Maria de Lourdes faleceu em 5 de maio de 1996, vítima de câncer de bexiga, e seus restos mortais estão em um altar da igreja matriz de Salto, local que se tornou ponto de oração e devoção. Segundo o sobrinho, Geraldo Geriel Guarda, relatos de graças alcançadas por sua intercessão já são mencionados por fiéis.
O processo de canonização, iniciado há anos e reforçado após publicação de artigo do jornalista Mauro Chaves, que destacou sua frase:
"Deixei de andar, não deixei de viver",
segue sob sigilo da Igreja, mas já evidencia a força da vida e da fé de Maria de Lourdes Guarda.