Maioria dos brasileiros acredita que aumento de imposto para fintechs será repassado ao consumidor
Levantamento mostra apoio à diferenciação tributária para bancos digitais e reforça preocupação com impacto em inclusão financeira e competição
TRIBUTAÇÃO E INOVAÇÃOMais de 70% dos brasileiros acreditam que o aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para fintechs e bancos digitais será repassado integralmente aos consumidores. A percepção foi captada em pesquisa da AtlasIntel, encomendada por quatro associações do setor – Zetta, ABFintechs, Abranet e ABCD – e divulgada nesta segunda-feira (8).
O levantamento foi realizado entre 28 de outubro e 10 de novembro, com 2.227 entrevistados de todas as regiões do país, e tem margem de erro de dois pontos percentuais. A pesquisa surge no momento em que avança no Congresso o Projeto de Lei 5.473/2025, que prevê o aumento escalonado da CSLL dessas instituições: de 9% para 12% até 2026, e para 15% a partir de 2028.
Para 70,2% dos entrevistados, o impacto será total. Outros 21,8% acreditam que haverá repasse parcial; 5,2% entendem que não haverá repasse; e 2,8% não souberam opinar.
Concorrência e inovação sob risco - A pesquisa também revelou que 63,5% dos brasileiros defendem regras tributárias específicas para fintechs e bancos digitais, com o objetivo de estimular inovação, inclusão financeira e competição no setor. Além disso, 75,1% dos respondentes consideram que grandes bancos tradicionais não precisam de proteção do governo contra esse novo modelo de concorrência.
Ao serem questionados se consideram justo que as fintechs sejam tributadas da mesma forma que os bancos tradicionais, as opiniões ficaram divididas: 41,6% classificaram como injusto e disseram que não deveria haver aumento de impostos; 40% consideraram a medida justa; e 11,1% avaliaram como injusta, defendendo aumento para todos, inclusive os grandes bancos.
Em entrevista coletiva, o presidente da Zetta, Eduardo Lopes, afirmou que o repasse dos custos depende do porte e da estrutura de cada fintech. “É natural se esperar reações diferentes. Algumas conseguem absorver melhor, outras operam com margens muito apertadas”, disse.
Diego Perez, presidente da ABFintechs, complementou que há empresas menores, com apenas um produto, que podem ter seu modelo de negócios inviabilizado com o novo nível de tributação. As entidades afirmam que o aumento representa um retrocesso na agenda de ampliação da concorrência e inclusão financeira.
Lopes defendeu que a pesquisa representa uma sinalização clara da opinião pública sobre o papel das fintechs e como as políticas públicas devem considerar esse movimento de modernização do sistema financeiro. “Nossa expectativa é de que essa percepção seja ouvida. A população reconhece o valor das fintechs e os avanços que elas representam”, afirmou.
Maioria vê fintechs como aliadas da população - Os dados do levantamento mostram que 85% dos brasileiros enxergam o crescimento das fintechs como benéfico – 47,6% consideram o impacto positivo e 37,4% muito positivo. Para 77% dos entrevistados, a chegada dessas empresas promoveu inclusão financeira de pessoas de baixa renda, enquanto 74% disseram que aumentou a concorrência no setor.
A pesquisa ainda apontou que:
- 71% veem maior acesso a oportunidades de investimento;
- 70% observam mais facilidade no acesso ao crédito;
- 58% acreditam que houve melhora na eficiência e qualidade dos serviços bancários.
Impacto na cobrança de tarifas - Em relação às tarifas bancárias, 40% disseram perceber redução nos valores cobrados; 25% sentiram aumento; e 20% afirmaram não ter notado mudanças. Já no quesito transparência, 49% avaliaram que a comunicação das fintechs sobre taxas e tarifas ficou mais clara nos últimos anos.
Na percepção dos consumidores, os bancos tradicionais ainda são vistos como os que mais cobram tarifas e juros abusivos (63,1%), enquanto apenas 7,7% atribuíram essa prática às fintechs. No atendimento, os bancos convencionais também lideram as críticas: 49,4% disseram ter mais dificuldade para resolver problemas nessas instituições, contra 16,4% nas fintechs.
Popularidade e presença no cotidiano - A pesquisa também perguntou em quais instituições os brasileiros mantêm contas – os entrevistados puderam citar mais de uma opção. A Caixa Econômica lidera com 60,2%, seguida por Nubank (55,4%), Banco do Brasil (36,3%), Itaú (27%), Bradesco (24,2%), Mercado Pago (23,4%), PicPay (22%), Santander (18,6%), Banco Inter (16,9%) e 99Pay (8,3%).
Embora muitas fintechs tenham crescido em número de clientes, elas ainda representam uma fatia pequena no mercado de crédito, destacou Eduardo Lopes. “A concentração bancária no Brasil continua alta. Os cinco maiores bancos ainda detêm mais de 70% do crédito concedido. Estamos avançando, mas é um processo de longo prazo”, afirmou.